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| Barco de pesca no Porto de El Aaiún, Sahara Ocidental ocupado |
Em artigo no El Independiente, o jornalista Francisco Carrión afirma que Marrocos tem reforçado a sua estratégia de expansão marítima no Atlântico, pressionando Espanha a aceitar delimitações que incluam as águas do Sahara Ocidental — território que Rabat ocupa desde 1975, mas cuja soberania não é reconhecida pela ONU. A ofensiva, impulsionada pela recente resolução do Conselho de Segurança sobre o Sahara, coloca no centro do conflito as águas entre as Canárias e o território saharaui, ricas em pesca, minerais estratégicos e potencial energético.
Segundo especialistas citados, trata-se de um conflito em três dimensões: legal, porque Marrocos delimitou unilateralmente a sua Zona Económica Exclusiva (ZEE) incluindo águas saharauis; política, porque essas águas pertencem a um território não autónomo; e estratégica, devido a recursos valiosos como o telúrio no Monte Tropic. O Monte Tropic é um vulcão submarino localizado no Atlântico Oriental, perto das Canárias e relativamente próximo do Sahara Ocidental. Tornou-se conhecido não apenas pelo seu interesse geológico, mas sobretudo pelo enorme valor estratégico e económico dos minerais presentes nos seus fundos marinhos.
Rabat tem intensificado a pressão diplomática e promovido a ideia de oferecer a Espanha “segurança jurídica reforçada para as Canárias”, em troca de cedências que implicariam reconhecer soberania marroquina sobre o Sahara — algo incompatível com o direito internacional. Juristas citados rejeitam a narrativa marroquina e sublinham que qualquer acordo sobre águas saharauis é nulo sem o consentimento do povo do território.
O Governo espanhol, preso entre obrigações históricas e a dependência política de Rabat, mantém uma posição ambígua. Especialistas alertam que Espanha continua a ser, de acordo com o direito internacional, a potência administrante “de jure” do Sahara, não podendo negociar em nome de Marrocos.
O litígio envolve ainda o acesso a recursos pesqueiros, corredores logísticos, potenciais energéticos e projectos de mineração submarina, tornando o Atlântico oriental um espaço crucial de influência. A tensão aumenta à medida que Marrocos tenta consolidar “factos consumados” no mar, replicando a estratégia seguida em terra no Sahara Ocidental.

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