A exploração dos
recursos naturais saharauis compromete a aprovação do novo acordo comercial
A umas dezenas de quilómetros da cidade de Dajla ergue-se um
enorme campo de cultivo arrancado às arenas do Sahara Ocidental graças à
tecnologia e à água que o deserto alberga desde há milhares de anos no seu
interior. É o campo Agrícola de Tiniguir, 81 hectares (de um total de 500
produtivos) dedicados ao cultivo de tomate, melão, pimentos e pepinos e que têm
como destino fundamentalmente a exportação, com um mercado prioritário: a União
Europeia.
O proprietário desta explotação, que forma parte da
sociedade Domínios Agrícolas, os antigos Domínios Reais, é o próprio Rei de
Marrocos, Mohamed VI, cuja empresa possui 12.000 hectares das melhores terras
marroquinas, segundo o semanário “Tel Quel”. Esta companhia não só é o
principal produtor de fruta, verduras e lacticínio para o mercado marroquino (e
saharaui), como também é uma das três grandes empresas que, de acordo com um
relatório do eurodeputado francês José Bové (no qual pede que não seja aprovado
o novo tratado comercial com Marrocos), mais beneficiou com o vigente convénio
com a União Europeia. O atual pacto foi firmado sob o espírito da Conferência
de Barcelona de 1995, que apelou a fazer do Mediterrâneo uma zona de
"prosperidade compartilhada".
Quase 17 anos depois, a pergunta que se faz Bové (Verdes) no
seu relatório que será votado pela Comissão de Comércio Internacional do Parlamento
Europeu é quem é que tem beneficiado dessa prosperidade. E a resposta que ele
próprio deu numa reunião da referida Comissão em julho do ano passado é clara:
quem mais lucrou com o acordo foram três grandes empresas, as
franco-marroquinas Azura e Soprofel, e os Domínios Agrícolas, joia do empório
do Rei de Marrocos, a “Siger” (anagrama de regis, rei em latim). Entre as três,
assinala Bové, apoderaram-se de pelo menos "70%" dos benefícios de um
convénio que Marrocos propagandeia como vital para a sua agricultura.
PUBLICO 26/01/2012
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