sexta-feira, 4 de maio de 2012

Mohamed VI lucra com o Sahara graças ao tratado agrícola com a UE


A exploração dos recursos naturais saharauis compromete a aprovação do novo acordo comercial


A umas dezenas de quilómetros da cidade de Dajla ergue-se um enorme campo de cultivo arrancado às arenas do Sahara Ocidental graças à tecnologia e à água que o deserto alberga desde há milhares de anos no seu interior. É o campo Agrícola de Tiniguir, 81 hectares (de um total de 500 produtivos) dedicados ao cultivo de tomate, melão, pimentos e pepinos e que têm como destino fundamentalmente a exportação, com um mercado prioritário: a União Europeia.

O proprietário desta explotação, que forma parte da sociedade Domínios Agrícolas, os antigos Domínios Reais, é o próprio Rei de Marrocos, Mohamed VI, cuja empresa possui 12.000 hectares das melhores terras marroquinas, segundo o semanário “Tel Quel”. Esta companhia não só é o principal produtor de fruta, verduras e lacticínio para o mercado marroquino (e saharaui), como também é uma das três grandes empresas que, de acordo com um relatório do eurodeputado francês José Bové (no qual pede que não seja aprovado o novo tratado comercial com Marrocos), mais beneficiou com o vigente convénio com a União Europeia. O atual pacto foi firmado sob o espírito da Conferência de Barcelona de 1995, que apelou a fazer do Mediterrâneo uma zona de "prosperidade compartilhada".

Quase 17 anos depois, a pergunta que se faz Bové (Verdes) no seu relatório que será votado pela Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu é quem é que tem beneficiado dessa prosperidade. E a resposta que ele próprio deu numa reunião da referida Comissão em julho do ano passado é clara: quem mais lucrou com o acordo foram três grandes empresas, as franco-marroquinas Azura e Soprofel, e os Domínios Agrícolas, joia do empório do Rei de Marrocos, a “Siger” (anagrama de regis, rei em latim). Entre as três, assinala Bové, apoderaram-se de pelo menos "70%" dos benefícios de um convénio que Marrocos propagandeia como vital para a sua agricultura.

PUBLICO  26/01/2012

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