domingo, 29 de junho de 2025

Número de importadores de fosfato do Sahara Ocidental atinge mínimo histórico, revela o relatório do WSRW

O navio graneleiro Young Glory (IMO 9690133) foi observado no porto de El Aaiún, no
Sahara Ocidental ocupado, em setembro de 2024, a carregar cerca de 60 mil toneladas
de fosfato. O destino da carga foi Paradip, na Índia.


Pelo 12.º ano consecutivo, a organização Western Sahara Resource Watch (WSRW) publica o seu relatório anual detalhado sobre o comércio internacional de fosfatos provenientes do Sahara Ocidental ocupado.

Em 2024, o número de empresas envolvidas na importação de fosfato extraído do Sahara Ocidental caiu para apenas quatro — o número mais baixo registado desde o início do acompanhamento por parte da WSRW, em 2012. No ano anterior, cinco empresas haviam participado nesse comércio; em 2012, eram 15.

O relatório agora divulgado enumera todas as remessas de fosfato exportadas ilegalmente a partir do território ocupado durante o ano civil de 2024. Foram identificados 26 navios que transportaram, no total, cerca de 1,45 milhões de toneladas de rocha fosfática — uma ligeira diminuição face aos 1,6 milhões de toneladas exportadas em 2023.

A exploração do fosfato é uma das principais fontes de rendimento do governo marroquino no Sahara Ocidental, território cuja ocupação viola o direito internacional. O povo saharaui tem contestado sistematicamente este comércio, tanto em fóruns internacionais como junto das próprias empresas envolvidas.


[Descarregue o relatório completo AQUI]


Desde 2021, Marrocos tem investido fortemente nas infraestruturas do porto de El Aaiún e nas instalações de Bou Craa, preparando-se para iniciar, possivelmente já em 2025, a exportação de fosfatos em formas mais transformadas e de maior valor acrescentado.

Embora o valor exato das exportações seja difícil de calcular, o WSRW estima que o comércio de fosfato gerado em 2024 possa ter atingido os 319 milhões de dólares.

As exportações em grande escala para o México — retomadas em 2021, apesar de promessas anteriores de cessação por parte da empresa importadora — e para a Índia representam hoje cerca de 91% de todo o comércio de fosfato oriundo do Sahara Ocidental. Do total de navios registados em 2024, 23 tinham como destino esses dois países.

A Paradeep Phosphates Ltd, uma das principais compradoras indianas, está cotada na bolsa desde 2022. Na Nova Zelândia, as importações caíram para níveis historicamente baixos. No Japão, o WSRW identificou como provável compradora uma subsidiária da cotada Taiheiyo Cement Corporation, embora a empresa não tenha respondido aos pedidos de esclarecimento.

O WSRW apela às empresas ainda envolvidas neste comércio para que suspendam imediatamente todas as compras e transportes de fosfato oriundo do Sahara Ocidental, até que seja encontrada uma solução justa e duradoura para o conflito. Aos investidores, a organização pede um compromisso com os direitos humanos ou, em alternativa, a retirada dos seus investimentos.

Dakhla: Protestos exigem fim da ocupação e libertação de presos políticos saharauis

Protesto saiu à rua na cidade ocupada de Dakhla, no sul do Sahara Ocidental.


Dakhla, 29 de junho de 2025 (SPS) — A cidade ocupada de Dakhla, no sul do Sahara Ocidental, foi palco de intensas manifestações populares exigindo o fim da ocupação marroquina e a libertação imediata dos presos políticos saharauis detidos em diversas prisões do Reino de Marrocos.

As mobilizações, organizadas por militantes saharauis que se identificam como os “heróis do levantamento independentista”, reuniram dezenas de manifestantes que marcharam pelas ruas da cidade empunhando bandeiras da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) e entoando palavras de ordem de apoio à Frente Polisario, movimento que lidera a luta pela autodeterminação do povo saharaui.

“Pátria ou martírio”, “Liberdade para os nossos prisioneiros” e “Fim à ocupação” foram algumas das palavras de ordem ouvidas nas ruas, num cenário carregado de tensão.

Os manifestantes também apelaram à comunidade internacional para que intervenha face ao agravamento das violações de direitos humanos cometidas nos territórios sob ocupação, exigindo o respeito pelas resoluções das Nações Unidas sobre o direito à autodeterminação.

A resposta das autoridades marroquinas foi imediata: as forças de segurança intervieram com uso de força para dispersar a concentração, recorrendo, segundo testemunhas, a detenções arbitrárias e violência física contra os manifestantes. A repressão gerou relatos de agressões, perseguições e intimidação, especialmente contra jovens ativistas.

Apesar da repressão, as manifestações desta sexta-feira reforçam a persistência da resistência saharaui nas zonas ocupadas e denunciam, mais uma vez, a situação dos presos civis saharauis, muitos dos quais condenados em julgamentos sem garantias de defesa, segundo várias organizações internacionais de direitos humanos.

Estudantes saharauis em Agadir (Marrocos) denunciam repressão e ataque à liberdade de expressão


Agadir, 27 de junho de 2025 — A União dos Estudantes de Saguia el-Hamra e Rio de Ouro condenou publicamente o que classificou como um ato de repressão contra estudantes saharauis na Universidade Ibn Zohr, em Agadir, após estes terem participado numa ação simbólica em homenagem à luta do povo saharaui.

Segundo comunicado divulgado pela organização, a reitoria da Faculdade de Ciências Jurídicas, Económicas e Sociais convocou vários estudantes saharauis a prestar esclarecimentos sobre a sua participação na atividade “Gdeim Izik o acampamento da Dignidade” ( protesto de grande escala realizado em outubro de 2010 no Sahara Ocidental, considerado por muitos analistas e organizações internacionais como um marco precursor da Primavera Árabe), realizada em 19 de junho. A União denuncia que as convocatórias foram acompanhadas de ameaças de sanções disciplinares, incluindo possíveis expulsões.

A associação estudantil considera esta medida uma violação grave da liberdade de expressão e da autonomia universitária, acusando a universidade de agir como “instrumento de exclusão” ao invés de um espaço de “conhecimento e abertura”.

“Estas ações fazem parte de uma política sistemática para silenciar a voz livre dos saharauis e reprimir a expressão da sua identidade nacional”, refere o comunicado.

A organização responsabiliza a direção da faculdade e a administração da universidade pelas consequências do que classifica como uma “provocação deliberada”, alertando para possíveis impactos na estabilidade académica.

A União apela ainda:

  • À comunidade académica nacional e internacional para que acompanhe e denuncie as violações dos direitos dos estudantes;

 

  • À administração universitária para que retire as convocatórias e cesse medidas arbitrárias;

 

  • E a todas as organizações estudantis e de direitos humanos para que se solidarizem com a causa saharaui.

 

“Os estudantes saharauis não estão sós. As vozes livres devem levantar-se contra todas as formas de repressão, em defesa da universidade como espaço de aprendizagem e não de submissão”, conclui o comunicado.

John Bolton: «Não vi sinais de marxismo, jihadismo ou iranianos no Sahara Ocidental



28 de junho de 2025 – O ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e membro do Partido Republicano, John Bolton, conhecido pela sua postura firme em política externa, reafirmou o seu apoio ao direito de autodeterminação do povo saharaui e criticou duramente a atuação de Marrocos no conflito do Sahara Ocidental.

 

Em entrevista concedida ao periódico Otralectura (em Inglês), Bolton afirmou:

 

“Nunca vi sinais de marxistas, jihadistas, iranianos ou quaisquer ligações terroristas nos campos saharauís de Tindouf. Isso é propaganda marroquina. Já lá estive várias vezes — se houvesse algo suspeito, sabê-lo-íamos.”

Segundo o diplomata, Marrocos teme o resultado de um referendo livre e justo, e por isso impede a sua realização, apesar dos compromissos assumidos nas resoluções da ONU e no Plano Baker, impulsionado nos anos 90 com apoio norte-americano.

Bolton lamentou que o referendo acordado com base no recenseamento espanhol de 1975 nunca tenha sido implementado. “Não era uma operação complexa. Havia cerca de 80 mil pessoas elegíveis. Mas Marrocos recusou cooperar”, afirmou.

O antigo responsável acusa Rabat de manipular a demografia do território ao enviar cidadãos marroquinos para o Sahara Ocidental com o objetivo de influenciar o desfecho de um possível referendo, e de agir com “impunidade” no que toca à exploração de recursos naturais, como os fosfatos de Fos Bucraa, “sem legitimidade legal”.

Sobre o reconhecimento da soberania marroquina por parte de Donald Trump, Bolton foi claro:

“Foi uma troca errada nos Acordos de Abraão. Não muda nada. As resoluções da ONU continuam válidas: deve haver um referendo.”

Por fim, reconheceu que o conflito permanece pouco compreendido nos EUA:

“Alguns congressistas ainda são induzidos a acreditar que a Polisario tem ligações ao Irão, mas não há provas. A questão é simples: o povo saharaui deve poder decidir o seu próprio destino.”

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Energias renováveis no Sahara Ocidental criticadas como ferramenta de ocupação, alerta relatório saharaui



O Observatório Saharaui dos Recursos Naturais e da Proteção do Ambiente (SONREP) denunciou, num novo relatório divulgado ontem, 24 de junho, o uso estratégico de projetos de energias renováveis no Sahara Ocidental como instrumento de consolidação da ocupação marroquina e de pilhagem de recursos naturais.

Apresentado numa conferência virtual internacional que reuniu especialistas em direito, ambiente e representantes da sociedade civil global, o relatório intitulado "Sustentabilidade para quem? Energia renovável e justiça ambiental sob ocupação", acusa Marrocos de desenvolver, sem o consentimento do povo saharaui, projetos como parques eólicos, centrais solares e instalações para produção de hidrogénio verde — em clara violação do direito internacional.

Segundo o documento, estas iniciativas geram elevados lucros para o Estado marroquino, excluindo os saharauis dos benefícios económicos e agravando as alterações demográficas no território, através da priorização de colonos marroquinos nas oportunidades de emprego — em contravenção com a Quarta Convenção de Genebra.

O relatório critica ainda o envolvimento de empresas e governos estrangeiros, sobretudo europeus, que através de acordos com Rabat contribuem para a exploração ilegal dos recursos saharauis, enfraquecendo os esforços para uma solução pacífica do conflito.

A produção de hidrogénio verde, que exige grandes volumes de água, foi também apontada como ameaça à segurança hídrica e à sustentabilidade ambiental numa região com escassez crónica desse recurso.

A SONREP, no seu relatório, apela à suspensão imediata de todas as atividades energéticas no território sem o consentimento livre, prévio e informado do povo saharaui, insistindo que qualquer transição energética justa deve respeitar o direito à autodeterminação e à soberania permanente sobre os seus recursos.

A divulgação do relatório coincidiu com o relançamento formal da SONREP enquanto entidade especializada na monitorização de violações ambientais e na defesa da justiça ambiental sob ocupação.

https://www.facebook.com/profile.php?id=61577330055344

Presidente de Moçambique renova apoio à luta do povo saharaui

Cerimónias do 50ª aniversário da proclamação da Independência de Moçambique


Maputo (Moçambique), 25 de junho de 2025 (SPS) - O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, renovou o “apoio absoluto do seu país à luta do povo saharaui pela independência nacional”.

No seu discurso por ocasião das celebrações do Cinquentenário da Independência de Moçambique, o Presidente Chapo afirmou que, “tal como ontem apoiámos a luta pela liberdade e pela independência no Zimbabwe, na Namíbia e na África do Sul, hoje apoiamos também a luta do povo do Sahara Ocidental pela sua independência nacional”.

Nestas celebrações do dia da independência de Moçambique, que contam com a presença de milhares de moçambicanos e dezenas de delegações, entre presidentes, ministros e personalidades políticas de todo o mundo, a República saharaui é representada pelo Presidente da República, Brahim Ghali, que recebeu um convite pessoal do seu homólogo moçambicano para se juntar a ele nas celebrações deste importante acontecimento.