domingo, 26 de agosto de 2018

Marrocos decreta 'serviço militar obrigatório” para colocar em sentido uma juventude rebelde





A lei que restabelecerá o serviço militar foi imposta sem debate pelo monarca Alaouita. As mulheres também devem, pela primeira vez, se juntar às fileiras


EL CONFIDENCIAL - Autor: Ignacio Cembrero – 26/08/2018 (encurtador.com.br/ioAL8)


"O regresso do serviço militar ou como resolver os problemas dos jovens marroquinos em 2018 com uma ideia do século XIX", escreve no Twitter @Atourabi. "Um problema real: um jovem rebelde. Uma solução estúpida: serviço militar ", diz @fadelabdellaoui na mesma rede social. "Se educa através da educação e não através do serviço militar", salienta @ ucef79. "O serviço militar em Marrocos visa apenas impedir a islamização da juventude. Vão ensiná-los a gritar viva o rei , viva a nação (...) ", acrescenta @ mehdimed391.

O rei Mohamed VI interrompeu as suas férias para presidir em Rabat, no início desta semana, a um Conselho de Ministros que aprovou, sem debate, um projeto de lei que restaura o serviço militar obrigatório de 12 meses para homens, suprimido pelo próprio monarca há 12 anos, e que o estabelece o mesmo para mulheres entre os 19 e os 25 anos. Alguns países árabes, como o Qatar ou os Emirados Árabes Unidos, incentivam as mulheres a fazerem a 'mili', mas sempre de forma voluntária. A natureza obrigatória imposta pelo Marrocos é excepcional no mundo islâmico.


Ao contrário do que se poderia supor, a iniciativa do monarca não pretende fortalecer as capacidades defensivas do Marrocos contra a Argélia, seu adversário histórico. "A restauração do serviço militar obrigatório visa fortalecer o sentido de cidadania dos jovens", diz o comunicado lido por Abdelhak Lamrini, porta-voz da Casa Real. "Isso abre-lhes também abre o caminho da integração na vida profissional e social", especialmente "nas diferentes forças militares e de segurança", acrescentou o porta-voz.

Se os partidos políticos que fazem parte da coligação governamental acataram a proposta do soberano sem qualquer discussão, como é obrigatório, e o Parlamento a ratificará sem debate, já as redes sociais têm sido foco de uma semana em que as críticas são abundantes e onde também proliferam piadas de jovens marroquinos.

"O serviço militar será o único serviço em Marrocos ao qual os pobres terão acesso q 100%. Não é como a saúde ou a educação ", ironiza no Twitter @ ucef79. "O serviço militar é obrigatório para aqueles de têm entre 19 e 25 anos e você pode vir de novo a ser chamado novamente até aos 40 anos de idade. Eu vou estudar 5 doutoramentos ", anuncia @appophis porque o texto fornece dispensas para estudantes, aqueles que apóiam a família ou por inaptidão física. "Nós realmente temos muita sorte em ser franceses", enfatiza @theovnzz, que toma como certo que os jovens de Marrocos que adquiriram a nacionalidade do país europeu em que residem não serão convocados, embora, aos olhos de Rabat, um marroquino nunca o deixe de o ser. O projeto de lei recentemente aprovado não menciona o caso dos jovens migrantes.



Muitos dos críticos juntaram-se ao "Reagrupamento marroquino -se contra o serviço militar obrigatório", um grupo do Facebook criado por Abdellah Nizar e que em poucas horas tinha já mais de 10 mil membros. A iniciativa real visa, como disse o seu fundador à EFE, "submeter" uma geração de jovens que rejeita a atual situação social, política e económica do país e que, há oito anos, encabeçou múltiplos protestos. É também revelador de uma "falta de democracia" porque não foi incluída nos programas eleitorais dos partidos ou na declaração do governo aprovada pelo Parlamento. Embora Nizar não o diga, é claro que ela é uma imposição do soberano.

"A primeira motivação é muito política: não deixar os jovens ao seu livre arbítrio", explica Maati Monjib, historiador marroquino, ao telefone. "Acima de tudo, porque esses jovens demonstraram a sua capacidade de mobilização contra o regime", acrescenta o académico, não sem antes enumerar as revoltas do Rif, a contestação na área de mineração de Jerada, de Zagora, no sudeste, e o protesto contra o alto custo de vida através do boicote a três grandes marcas alimentares. Trata-se de lhes "inculcar os valores da disciplina e do nacionalismo monárquico". "A segundo é de natureza social: baixar o desemprego", sublinha, num país onde todos os anos cerca de 370 mil jovens aspiram a ingressar no mercado de trabalho.

Até mesmo Karim Boukhari, um dos colunistas do jornal digital "Le 360", talvez o mais oficial de todos os órgãos de informação escrita, descreveu abertamente o humor de famílias com filhos adolescentes ou que acabaram de chegar à maioridade. "Mais do que o debate sobre os seus méritos, o anúncio surpresa [sobre a 'mili'], assim, sem aviso prévio, tem algo de desestabilizador, até mesmo de traumático, para muitas famílias marroquinas", reconhecia Boukhari.

Embora talvez menos ativos, o projeto de lei também conta com apoiantes. "A nossa juventude carece de referências e, sem dúvida, precisa delas. O serviço militar ou civil pode proporcioná-las", vaticina na versão maghrebina do" Huffington Post ", Mehdi Bensaid, um dos líderes do Partido da Autenticidade e Modernidade. A formação foi criada em 2007 por, entre outros, um amigo do rei Mohamed VI para contrabalançar o islamismo político em ascensão. "O serviço militar pode compensar a debilidade do sistema educacional", diz Mohamed Benhammou, presidente do Centro Marroquino de Estudos Estratégicos.

A viabilidade do projeto levanta algumas dúvidas. Estabelecida pelo rei Hassan II após a revolta de jovens esquerdistas em Casablanca em 1965, cuja repressão causou mais de mil mortes, segundo a organização estudantil, a “mili” marroquina sempre operou a meio gás. Por razões orçamentais, foram muitos menos os jovens mobilizados, geralmente oriundos de famílias humildes, do que aqueles que tinham a idade regulamentar. Jovens islâmicos e esquerdistas eram geralmente excluídos, para que a treinamento militar adquirido não lhes servisse para fins não relacionados com a defesa da nação.

Agora provavelmente sucederá o mesmo. As Forças Armadas Reais contam com 198.000 homens - as de Espanha têm 132.000 - e um orçamento anual de 2.934 milhões de euros, ou seja 3,2% do Produto Interno Bruto. Se realmente se pretende incorporar toda a quota abrangida pelo serviço militar e, além disso, como o estipula o artigo 10 do projeto, se lhe quer oferecer um soldo mensal – na ordem de de cerca de 180 euros – seguros médico, de vida e de invalidez, então os os gastos com a defesa disparariam.

O economista marroquino Zouhair Ait Benhamou, residente em Paris, calcula no jornal digital 'Le Desk' de Casablanca que para pôr em marcha uma 'mili' em condições, o orçamento militar deveria ultrapassar 6% do PIB para chegar a 6,6 mil milhões de euros. "Onde se poderia conseguir esse dinheiro que não fosse cortando em outros setores do Estado?", pergunta antes de concluir: "reintroduzir o serviço militar não é uma boa ideia (...)". "Seria mais apropriado fortalecer a educação cívica em escolas, faculdades e universidades, em vez de pedir a um sargento que exalte as virtudes do sacrifício pela nação a recrutas pouco motivados", conclui.



domingo, 19 de agosto de 2018

Atletas portugueses participam na maratona comemorativa da ocupação marroquina de Dakhla



Forças de ocupação da Polícia de choque marroquina nas ruas de Dakhla


É uma vergonha, mas é verdade. Vários portugueses, entre eles vários atletas, estiveram envolvidos, como organizadores ou participantes, na maratona que teve lugar na cidade de Dakhla (antiga Vila Cisneros), no extremo sul do Sahara Ocidental ocupado, no passado domingo dia 12 de Agosto.

O seu nome consta da lista de participantes estrangeiros da prova (ver em Anexo).

São eles: Mário Machado, diretor da revista Spiridon e organizador de eventos de corrida, os atletas, Luis Feiteira (Sporting), Marisa Barros (Salgueiros), Justyna Wojcik e Hugo Santos (A.C.D. São João da Serra), Cristina Valente (Recreativo de Águeda) e Manuel Machado – treinador.



Não sabemos os motivos que os terão levado a participar nesta encenação que mais não visa do que granjear apoios à ocupação de um território que a comunidade internacional reconhece como ilegítima e cujo processo de descolonização está nas mãos das Nações Unidas. Dinheiro por terem participado na encenação? Ou apenas falta de informação e irresponsabilidade?



Recorde-se que a cidade piscatória de Daklha, foi ocupada pela Mauritânia quando este país dividiu com Marrocos aquela que fora a antiga colónia do Sahara Ocidental. Derrotada na guerra com a Frente Polisario, a Mauritânia estabeleceu a paz com o movimento de libertação saharaui e retirou-se do sul do território que havia ocupado. Marrocos ocupa Dakhla a 14 de Agosto de 1979.

sábado, 18 de agosto de 2018

Territórios Ocupados: Forças repressivas marroquinas atacam, intimidam, ameaçam e prendem ativistas saharauis


El Aaiún (capital ocupada da República Saharaui), 17 de agosto de 2018 (SPS) - A delegação de ativistas saharauis das zonas ocupadas do Sahara Ocidental que participaram na nona edição da Universidade de Verão da Frente Polisario e dos quadros da República Democrática Árabe Saharaui (RASD), foi atacada pelas autoridades de ocupação marroquinas à sua chegada ao aeroporto de El Aaiún ocupada.
Khalihenna Fakala
À chegada ao aeroporto, os ativistas saharauis foram isolados de outros viajantes, sem qualquer justificação, levados à força para as câmaras fechadas onde foram registados.
As forças de ocupação marroquinas atacaram fisicamente e verbalmente, intimidaram e ameaçaram a delegação dos 15 ativistas saharauis.
Recorde-se que o trabalho da nona edição dos quadros da Universidade de Verão da Polisario e da RASD concluiu esta quarta-feira na cidade argelina de Bumerdás.
Segundo noticia o El Confidencial Saharaui, Khalihenna Fakala, ativista saharaui que havia participado na reunião na Argélia foi preso pela polícia marroquina última quinta-feira no aeroporto de Laayoune, tendo, depois de passar 72 horas na delegacia, sido transferido para a prisão negra de El Ayoun.



sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Não há confederação com Marrocos como solução para a ocupação do Sahara Ocidental





Fonte: DLRS

Mhamed khaddad desmente uma confederação com Marrocos como solução para a ocupação do Sahara Ocidental.
A Frente Polisario nega os rumores veiculados pela imprensa marroquina e alguns meios de comunicação espanhóis, que atribuem ao enviado pessoal do Secretário Geral da ONU, Horst Köhler, "um suposto roteiro consistindo de uma alegada confederação com Marrocos como solução para a ocupação do Sahara Ocidental".
Ontem, num diálogo com o Diario La Realidad, o chefe da Comissão de Relações Exteriores da Frente Polisario e coordenador da Missão para o Referendo no Sahara Ocidental, Mhamed khaddad, esclareceu que o enviado pessoal da ONU fez chegar às partes do conflito, a Frente Polisario e o Reino de Marrocos, bem como às partes observadoras do conflito - Argélia e Mauritânia – um convite para participar numa ronda de negociações que começará em outubro próximo.
Khaddad disse que o movimento saharaui respondeu favoravelmente ao convite de Köhler, enquanto o representante do Marrocos na ONU não deu qualquer resposta, porque "Marrocos rejeita qualquer negociação com a Polisario, na sua tentativa de boicotar os esforços das Nações Unidas e atrapalhar a busca de uma solução para o conflito saharaui."
O diplomata saharaui explicou que "é verdade que há uma nova dinâmica no dossier, um interesse crescente desde Abril passado com a linha seguida pelo Conselho de Segurança, que reduziu o período de extensão da MINURSO de um ano para seis meses, e tudo indica que isso será repetido. Em menos de dois meses, o enviado pessoal da ONU voltou ao Conselho de Segurança e apresentou outra exposição". Mhamed Khaddad disse que "esta dinâmica realmente não agrada nada a Marrocos, tem medo porque a sua aposta é manter o status quo no Conselho de Segurança, apoiado pela França, que não deixava que nada se mexesse sobre o assunto".
Khaddad, confirmou a dinâmica que o processo está tomando a nível internacional, disse que "há interesse e muitas opções estão a ser consideradas e isso é evidente, mas até agora não recebemos nada sobre isso. Marrocos tem sérios problemas, está entalado e tem muitas frentes abertas. Não está a encontrar coisas boas vindas das Nações Unidas como o status quo que a França queria". Quanto ao apoio de outros países membros permanentes no Conselho de Segurança, Khaddad observou que "a Rússia fez ontem uma boa declaração de apoio às negociações; o compromisso de Marrocos com a União Africana após a sua reentrada, com a qual visava dominar a situação e nos expulsar, também foi um fracasso. E ao nível do Tribunal Europeu, nem é bom falar, já que ela é tão evidente, apesar do impulso que alguns políticos que tentaram impor à justiça, mas mais cedo ou mais tarde eles não terão outra escolha senão aceitar a decisão do Tribunal ".


Estará o fim do conflito no Sahara Ocidental próximo? EUA e Rússia apoiam Horst Köhler





O fim do conflito no Sahara Ocidental está finalmente chegando? É algo que não se pode adivinhar. O que podemos saber é que os eventos se aceleraram desde a decisão europeia de 21 de dezembro de 2016. O novo enviado pessoal para o Sahara Ocidental, Horst Köhler, nomeado meses depois dessa sentença ter sido proferida, imprimiu uma nova dinâmica que desencadeou a pânico no Makhzen de Marrocos que vê, impotente, como está perdendo sucessivas batalhas diplomáticas na luta para se impor neste conflito. A última é ver como os EUA e a Rússia ignoram as ameaças marroquinas e apoiam a retomada das negociações diretas entre Marrocos e a Frente Polisario para acabar com o conflito. @ Desdelatlantico.

Artigo do Prof. Carlos Ruiz Miguel, Catedrático de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela.


I. UMA NOVA DINÂMICA DESDE 21 DE DEZEMBRO DE 2016
Como escrevi neste blog no dia seguinte ao proferido, a sentença da Grande Câmara do Tribunal de Justiça de 21 de dezembro de 2016 foi uma "vitória judicial histórica para o Sahara Ocidental na União Europeia".

O motivo é muito simples. Após o ataque de 11-M de 2004, Marrocos conseguiu enterrar o "Plano Baker" e congelar o processo de paz da ONU. Em 2007, houve uma aparente tentativa de reativar o processo de paz por meio de negociações diretas, mas num contexto em que o objetivo real era fazer com que a Frente Polisario claudicasse. Neste contexto, realizaram-se conversações diretas entre Marrocos e a Frente Polisario em Manhasset (2007-2008).

Desde então, Marrocos negligenciou qualquer outra coisa que não fosse a anexação do território.
Esta política foi mortalmente ferida pela decisão do Tribunal da União Europeia, que afirmou claramente que Marrocos não tem soberania sobre o Sahara Ocidental e não pode concluir tratados que incluam este território.


II. KÖHLER, ENVIADO PESSOAL DA ONU PARA O SAHARA OCIDENTAL DESDE AGOSTO DE 2017 IMPRIME UMA NOVA DINÂMICA
Em agosto de 2017, Horst Köhler, ex-presidente da Alemanha, foi oficialmente nomeado como o novo enviado pessoal do Secretário Geral da ONU para o Sahara Ocidental. Ele substituiu o diplomata americano Christopher Ross, que se deparou com a total oposição de Marrocos ao seu trabalho, sem que o Conselho de Segurança apoiasse seus esforços com força suficiente.
Desde o primeiro momento, Köhler imprimiu a sua marca com duas iniciativas que Marrocos tentou, sem sucesso, contrapor. Essas duas iniciativas responderam a uma lógica realista:

1) a ocupação marroquina do Sahara Ocidental teve em vista a exploração económica do território para fazer negócios, principalmente com a União Europeia

2) Marrocos entrou (não "retornou") à União Africana em janeiro de 2017, aceitando a Carta da UA que obriga a respeitar a soberania dos Estados-Membros ... entre os quais a República Saharaui.


O REALISTA em política era, portanto, envolver a UE e a UA na gestão do conflito do Sahara Ocidental. E assim ele o fez. Embora Marrocos se opusesse a este tipo de iniciativa, Köhler manteve a sua política como o primeiro enviado pessoal a tratar com funcionários da UE e da UA sobre o tema.



III. A RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DE ABRIL DE 2018 MUDA A TENDÊNCIA SEGUIDA DESDE 2008
A resolução 2414 do Conselho de Segurança, de 27 de abril de 2018, representou uma reviravolta na política seguida pelo Conselho desde 2008. Como disse neste blog, Marrocos fracassou ao tentar provocar uma tensão artificial para impedir que os propósitos da Köhler fossem por diante. Marrocos, longe de impedir um novo apelo a negociações diretas com a Frente Polisario, recebeu o impacto de uma resolução que exortava a que as negociações fossem aceleradas ao ver reduzida para metade (6 meses) a extensão do mandato da Missão das Nações Unidas para o Referendo do Sahara Ocidental (MINURSO).

Se desde 2008 o Conselho de Segurança, dominado pelos aliados da política do Makhzen, estendia o mandato da MINURSO um ano com apelos retóricos à negociação, em 2018 a extensão foi reduzida para 6 meses e com um aviso muito sério feito pelos EUA na explicação do seu voto, algo deveras importante quando foram eles os próprios redatores do texto final aprovado... o qual foi emendado de acordo com a Rússia.


IV. KÖHLER SE MOBILIZA E O MAKHZEN AMEAÇA... EM VÃO
Poucas semanas após a aprovação da resolução 2414, Köhler organizou uma viagem pela região viajando para Marrocos, Argélia, Mauritânia e Sahara Ocidental, território que visitou em junho deslocando-se a El Aaiún, Villa Cisneros (Dakhla) e Smara.

Para surpresa geral, na programação do Conselho de Segurança de agosto, a presidência britânica anunciou uma intervenção de Köhler, a 8 de agosto, solicitada pelo próprio enviado pessoal.

Dois dias antes, a 6 de agosto, o embaixador marroquino na ONU escreveu uma surpreendente carta ao presidente do Conselho de Segurança, na qual considerava que Köhler estava a precipitar-se e que ele estava fazendo uma leitura estranha dos "parâmetros" a que se deviam cingir as negociações exigidas pelo Conselho de Segurança. Vale a pena citar dois pontos da sua argumentação:

1) Dizia que a proposta marroquina apresentada por Marrocos em 2007 devia ter "preeminência" sobre a proposta da Frente Polisario apresentada na mesma data ;
2) Dizia que a Argélia devia ser "parte" nas negociações.

V. KÖHLER E O CONSELHO DE SEGURANÇA IGNORAM AS AMEAÇAS MARROQUINAS
A 8 de agosto, Köhler comparece perante o Conselho de Segurança. Mas como foi revelado por um digital marroquino, não sem antes se encontrar com John Bolton, o Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Donald Trump. Parece haver pouca dúvida de que Köhler e Bolton coordenaram a sua atuação.

Como o presidente do Conselho revelou após a reunião, Köhler anunciou que iria enviar em Setembro convites formais às partes (Marrocos e Frente Polisario) e aos Estados observadores vizinhos (Argélia, Mauritânia, Espanha?) para encetar negociações diretas no final do ano. Isso significa que Köhler, apoiado pelos EUA, ignorou completamente as interpretações do embaixador marroquino sobre a legalidade internacional.

VI. E A RÚSSIA REMATA A OPERAÇÃO
Quando o Makhzen de Marrocos emergia ainda da sua comoção, talvez confundindo as estranhas leituras da legalidade internacional do seu embaixador com a realidade da legalidade internacional, a operação projetada por Köhler recebe um elogio definitivo.
Ontem, 15 de agosto, festa de Nossa Senhora da Assunção, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, assestou um golpe final. Numa declaração para a imprensa divulgada pela Sputnik, disse:

"Notamos com satisfação que o enviado do Secretário-Geral da ONU, o ex-presidente alemão Sr. [Horst] Köhler está ativando os esforços para promover o processo de paz relançando as negociações diretas sem pré-condições entre os dois protagonistas com a participação dos vizinhos Argélia e Mauritânia como observadores ".

VII. PERGUNTAS QUE SERÃO EM BREVE ESCLARECIDAS
1) Que posição assumirá a diplomacia do novo Presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez Pérez-Castejón?

2) A nova invasão de imigrantes permitida pelas autoridades marroquinas foi a tentativa de pressionar a Espanha a apoiar Marrocos neste novo cenário?

3) A França vai apoiar desta vez o Makhzen opondo-se aos EUA, Rússia ... e Alemanha (pátria de Köhler)?

4) Será que o Makhzen vai conseguir impedir a retomada das negociações diretas entre Marrocos e a Frente Polisario para resolver de uma vez por todas o conflito no Sahara Ocidental?




segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Como o Marrocos tenta impedir o trabalho do enviado especial da ONU para o Sahara Ocidental

Horst Kohler, representante pessoal do Secretário Geral das Nações Unidas para o Sahara Ocidental



A apresentação feita por Horst Kohler, representante pessoal do Secretário Geral das Nações Unidas para o Sahara Ocidental, perante o Conselho de Segurança da ONU após o seu recente périplo pela região, foi precedida nos bastidores por manobras marroquinas destinadas a antecipar a apresentação e limitá-lo a um simples facto.
Isto é revelado numa carta enviada pelo Representante Permanente de Marrocos junto da ONU aos quinze membros do Conselho de Segurança da ONU em 6 de agosto, dois dias antes da apresentação de Horst Kohler.
"O Conselho de Segurança realizará a 8 de agosto de 2018 a sua terceira consulta em seis meses sobre a questão do Sahara marroquino. A reunião foi solicitada pelo representante pessoal do Secretário Geral, Sr. Horst Kohler, o briefing será apenas um relatório objetivo da sua visita à região em junho passado ", escreveu Omar Hilale, acrescentando que "Marrocos teria preferido esta terceira apresentação do representante pessoal tivesse ocorrido numa fase posterior ".
A carta do representante permanente de Marrocos junto da ONU detalha as várias atividades realizadas pelo enviado especial da ONU na região, e apresenta uma abordagem, como seria expectável, favorável a Marrocos. O Representante Permanente de Marrocos junto das Nações Unidas, em particular, destaca na sua carta que o Sr. Kohler "realizou livremente, nos lugares de sua escolha, reuniões com todos os interlocutores que queria conhecer".



No final de sua visita, o Enviado Pessoal expressou antes da sua partida de El Aaiún satisfação com sua primeira visita ao Sahara", diz Omar Hilale na referida carta, antes de recordar a resolução 2414 que apela aos outros "Estados vizinhos, particularmente a Argélia", a aportar importantes contribuições para o processo político e aumentar a sua participação no processo de negociação. "
"Finalmente, o Reino do Marrocos conta com a sua compreensão e o seu apoio para assegurar que estas consultas de 8 de agosto não conduzam a nenhum resultado", conclui a carta do Representante Permanente de Marrocos à ONU dirigida aos quinze membros do Conselho de segurança.
"Sem que tivesse podido atrasar este briefing solicitado por Kohler, Marrocos antecipou-se ao briefing dando a versão marroquina aos membros do Conselho de Segurança e pedindo que evitassem que ela fosse além da mera troca de impressões sobre a visita" referiu à TSA uma fonte familiarizada com o dossier saharaui.
"Marrocos pressiona Kohler para que não haja surpresa de facto consumados ou pressões por parte do enviado. Esta é uma forma de enquadrar o trabalho do enviado e traçar linhas vermelhas sobre os parâmetros da resolução do conflito, como o plano de autonomia ou o envolvimento da Argélia ", explica a mesma fonte.
Omar Hilale
"Ao contar com o apoio de alguns membros permanentes do Conselho de Segurança, incluindo a França em primeiro plano, Marrocos procura ganhar um certo adiamento em relação ao momento da quinta ronda de negociações. O prazo final de Kohler no final de setembro parece não ser mais relevante ", diz a nossa fonte.
"Temos também de salientar que o rei de Marrocos não quer mais ouvir falar de negociações com a Polisario. O aparato diplomático marroquino provavelmente inventará todos os pretextos possíveis para evitar retornar à mesa de negociações. Daí a insistência marroquina na participação da Argélia ", acrescenta.

Fonte: TSA (Argélia) Por: Sonia Lyes 12 de agosto de 2018



sábado, 11 de agosto de 2018

Papa Francisco recebe um grupo de crianças saharauis que passam férias na Itália




Vaticano, 8 de agosto de 2018 (SPS) – O Papa Francisco recebeu nesta quarta-feira,num ato extraordinário na Cidade do Vaticano, um grupo de crianças saharauis que passam férias solidárias na Itália.

Os pequenos embaixadores saharauis da paz, vestidos com trajes tradicionais saharauis e com bandeiras da República Árabe Saharaui Democrática, entraram na sede do Vaticano junto com milhares de pessoas de todo o mundo e representantes de diferentes religiões e culturas que vieram ao Vaticano para assistir a uma receção do Papa.

O Papa Francisco acolheu os embaixadores saharauis pela paz no meio de aplausos e ovações como um gesto para com as crianças saharauis pela sua presença neste ato religioso em que o Papa aproveitou a oportunidade para lançar um apelo a todos os presentes e através deles a todos os seus países para pedir paz e justiça para todas as crianças do mundo.

Por sua parte, os pequenos embaixadores saharauis da paz aproveitaram a oportunidade para agradecer ao Papa, informando-o de que pertencem a uma sociedade islâmica moderada que deseja paz, liberdade, justiça e melhor convivência entre as religiões e culturas do mundo.

Na recepção esteve presente o representante da Frente Polisario em Itália, Mih Omar e os presidentes das associações de amizade e solidariedade com o povo saharaui deste país europeu.


Frente Polisario manifesta disponibilidade para participar no processo de negociação convocado pelo Conselho de Segurança




Nações Unidas, 9 de agosto de 2018 (SPS) .- A Frente Polisario anunciou na quarta-feira em comunicado que "está pronta e disposta a participar no processo de negociação convocado pelo Conselho de Segurança", após a reunião em que o O enviado da ONU, Horst Köhler, informou o Conselho a portas fechadas sobre os seus esforços para relançar as negociações diretas entre a Frente Polisario e Marrocos.

Texto do comunicado da Frente Polisario

Hoje, o enviado especial para o Sahara Ocidental, Horst Köhler, informou o Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a sua recente visita ao território e as medidas que pretende adotar. Tomando nota deste relatório, a Frente Polisario reitera o seu compromisso de cooperar plenamente com o Enviado Especial no âmbito do Processo Político das Nações Unidas e está disposta a participar no processo de negociação convocado pelo Conselho de Segurança.

A Frente Polisario sente-se encorajada pelos esforços do Enviado Especial, desde que assumiu o seu cargo, e insta as Nações Unidas e, em particular, os membros do Conselho de Segurança a cumprirem a sua responsabilidade de acordo com os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas, respeitando plenamente o direito inalienável do povo saharaui à autodeterminação e à independência.

"A Frente Polisario continua sentir-se encorajada e apoia os esforços do Enviado Especial Köhler para reativar o processo de paz paralisado das Nações Unidas", disse Sidi Omar, representante da Frente Polisario nas Nações Unidas. "O povo saharaui, que continua a sofrer os horrores da ocupação marroquina nas suas terras, esperou pacientemente por tempo demasiado para exercer o seu direito inalienável à autodeterminação e à independência e, por isso, a Frente Polisario está pronta e disposta a sentar-se à mesa de negociação para alcançar uma solução justa, pacífica e duradoura para o conflito no Sahara Ocidental, que garanta direitos inalienáveis do nosso povo".


ONU quer reunir as partes do conflito do Sahara este ano




Nações Unidas, 8 de agosto (EFE) .- O enviado da ONU para o Sahara Ocidental, Horst Köhler, quer reunir as partes antes do final do ano, disseram fontes diplomáticas hoje.

Köhler, que hoje compareceu a portas fechadas diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assumiu o cargo há um ano com o objetivo de retomar as negociações entre Marrocos e a Frente Polisário, atualmente bloqueadas.

"A sua abordagem e proposta para ver se pode reunir as partes antes do final do ano conta com muito apoio no Conselho de Segurança, afirmou Jonathan Allen, vice-embaixador do Reino Unido na ONU, após a reunião.

Allen, cujo país ocupa a presidência do Conselho de Segurança este mês, disse a repórteres que Köhler em breve realizará consultas com "todas as partes envolvidas" sobre a organização da reunião.

Segundo outra fonte diplomática, o ex-presidente alemão pretende enviar convites para a reunião em setembro.

A priori, as conversações devem reunir Marrocos e a Frente Polisario, embora Rabat insista há anos que a Argélia - que acolhe os campos de refugiados saharauis em Tindouf - deveria fazer parte de qualquer negociação.

Nos últimos meses, Köhler manteve contactos separados com o governo marroquino e com representantes da a, mas também com as autoridades argelinas e mauritanas.

O enviado da ONU também visitou a região, incluindo uma viagem em junho em que pela primeira vez se deslocou ao território da ex-colónia espanhola, depois de Marrocos o haver proibido ao seu antecessor, Christopher Ross.

Como de costume, Köhler evitou fazer declarações antes ou depois de sua reunião com o Conselho de Segurança.

Em abril último, o mais alto órgão de decisão da ONU deu a marroquinos e saharauis uma janela de seis meses, até outubro, para obter progresso em direção a uma solução "realista" e "viável" para o conflito.

O Conselho de Segurança concordou, como medida de pressão, em estender a missão de paz na área (Minurso) apenas por meio ano, em vez do habitual prazo de um ano .

E 1991, a ONU criou Minurso a fim de realizar um referendo sobre o futuro da ex-colónia espanhola, uma consulta que nunca foi realizada.

Marrocos apresentou uma proposta de autonomia para a região em 2007 e considera que esta deve ser a base da negociação, enquanto a Frente Polisario insiste na necessidade de convocar essa consulta de independência o mais rapidamente possível.

EFE

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

No adeus a Ahmed Salek Kaid Salah. "Outro dia triste, outra perda irreparável"




Ahmed Salek Kaid Salah morreu no dia 7 de agosto de 2018 na sequência de uma grave doença que o amarrou à na cama nestes últimos meses.

Nasceu a 5 de agosto de 1948 na região de Smara, no Sahara Ocidental. Estudou no Instituto Geral Alonso de El Aaiún até terminar a Escola Secundária Superior e o Pré-universitário. Continuou os seus estudos universitários de Direito em La Laguna (Tenerife) com seus inseparáveis amigos Bujari Ahmed Bericala e Mohamed Salem Hach Embarek. Nos últimos anos do curso de direito, mudaram-se para a Universidade Pública de Madrid, onde terminaram a licenciatura em 1975.

Desde muito jovem se assumiu com patriota, militando no movimento de vanguarda que organizou as históricas manifestações pacíficas de Zemla em 17 de junho de 1970, em que participou ativamente na organização. Posteriormente, após a criação da Frente POLISARIO, ingressou na militância activa nos primeiros anos e no Movimento Estudantil, tendo participado no Primeiro Congresso de Estudantes Saharauis, sob o patrocínio da Frente Polisario, no Verão de 1974. Em Novembro 1975 participou na organização da incorporação dos Universitários Saharauis na Frente POLISARIO.

Após a proclamação do R.A.S.D., em fevereiro de 1976, assumiu o cargo de primeiro presidente do Crescente Vermelho saharaui. Após um período de treinamento militar na Argélia, participou em várias operações militares.

Após a frequência de um curso de formação de Relações Internacionais em Cuba, ingressa no corpo diplomático como embaixador em Madagáscar e depois na Jugoslávia. Quando se dá a desintegração da Jugoslávia é nomeado Diretor Nacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RASD.

Posteriormente foi representante em várias províncias espanholas até que foi designado Diretor de Protocolo Nacional.

Após a formação do governo no penúltimo Congresso Geral, foi-lhe atribuído o cargo de embaixador itinerante no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Esta foi a sua última tarefa.

No ano passado foi-lhe diagnosticada uma doença muito grave, que se mostrou imune aos tratamentos médicos. Faleceu na terça-feira, 7 de agosto, com 70 anos de idade.

Ahmed Salek (Salku, como era conhecido) foi um dos primeiros estudantes universitários saharauís e dedicou mais de 50 anos da sua vida à causa do seu povo com dedicação, sacrifício e humildade. Pai de cinco filhos, o seu desaparecimento constitui uma perda irreparável para a sua família e para o povo saharaui.




Fonte: EIC Poemario por un Sahara Libre / Por Dahman Kaid Salah