sábado, 30 de setembro de 2023

Omar Mansour em entrevista à TSF - Rádio Jornal

Omar Mansour, represente da Frente POLISARIO para a Europa esteve em Portugal e deu várias entrevistas. A concedida à TSF foi uma delas.

O ESTADO DO SÍTIO - TSF

Ouvir de 19.35 a 40.45.






O terramoto vai agravar as desigualdades em Marrocos e põe a nú as relações de poder no país


O terramoto vai agravar as desigualdades em Marrocos

"O terramoto que atingiu Marrocos no dia 8 de setembro, com epicentro nas montanhas do Alto Atlas, matou mais de 3.000 pessoas e feriu mais de 5.600. Embora a cobertura mediática inicial se tenha centrado na cidade de Marraquexe, a província rural de Al-Haouz foi de longe a zona mais afetada. No rescaldo do terramoto, a natureza montanhosa desta província dificultou os esforços de salvamento - uma condição que também deverá ter impacto no processo de reconstrução. Os receios de que o terramoto pudesse travar completamente a recuperação do turismo após a pandemia de COVID-19 parecem ser menos concretos do que se esperava, pelo menos em Marraquexe e arredores. No entanto, esta catástrofe natural só irá agravar as desigualdades no país. As zonas mais afectadas já sofriam de elevadas taxas de pobreza e, como tal, necessitarão seriamente de apoio adicional do Estado. Resta saber se o fundo especial criado após o terramoto será suficiente para fazer face a esta emergência."
Lorena Stella Martini, European Council on Foreign Relations

O terramoto: uma radiografia das relações de poder em Marrocos

"O terramoto foi uma radiografia reveladora da forma como o poder é exercido em Marrocos. Em primeiro lugar, o rei Mohamed VI estava fora do país e demorou 19 horas a regressar. O governo e várias autoridades públicas mantiveram-se em silêncio até ao regresso do monarca a Rabat, o que evidencia o problema de governação colocado pelas ausências frequentes do rei. Por exemplo, o Chefe do Governo, Aziz Akchnnouch, só apresentou as suas condolências 24 horas após a catástrofe, muito mais tarde do que muitos dignitários estrangeiros. A única exceção é provavelmente o Comando Geral, que anunciou muito rapidamente a mobilização do exército. Por fim, Marrocos fez da ajuda oferecida uma questão política: a sua recusa pareceu um ato nacionalista. Só aceitou a ajuda da Espanha, do Reino Unido, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos, deixando claro que recusou a oferta da França, país com o qual está em crise diplomática."

Ignacio Cembrero, Jornalista espanhol especialista em Magrebe

Textos in "Italian Institute for International Political Studies

Marrocos optou por uma atitude discreta na Assembleia Geral da ONU. Porquê?

 

Omar Hilale, embaixador do Reino de Marrocos junto da ONU

Sahara-Occidental.net - 28/09/2023 | Este ano, Marrocos reduziu a sua representação na Assembleia Geral da ONU a um mínimo: ao nível de embaixador. Juntamente com Vanuatu, Canadá, San Marino, Benin e Coreia do Norte, Marrocos é um dos seis únicos países que optaram por uma representação reduzida na 78ª Assembleia Geral, apesar da importância deste fórum mundial.

Segundo a agência noticiosa espanhola EFE, "Rabat deixou a responsabilidade nas mãos do veterano diplomata Omar Hilale", conhecido pelo seu hiper-ativismo nos corredores da ONU. Mas, desta vez, parece que [também ele] está a tentar passar despercebido. Tanto assim que se inscreveu como o último da lista de oradores que subirão ao pódio para proferir o discurso oficial do seu país.

Omar Hilale optou por ser discreto. Apesar do violento ataque à Argélia que dominou o seu discurso de vinte minutos, Hilale parece ter optado pela discrição. O mesmo fizeram os seus dirigentes. Nem o rei Mohamed VI, nem o seu primeiro-ministro, nem o chefe da sua diplomacia, Naser Bourita, se dignaram a representar o seu país na 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.


O SG da ONU, António Guterres, recebeu o
SG da Frente POLISARIO, Brahim Ghali

A razão de tal ausência poderia ser a forte presença da Argélia na pessoa do Presidente Abdelmayid Tebún e a sua insistência no apoio do seu país ao direito do povo saharauí à autodeterminação e à independência. Perante uma audiência ilustre, o chefe de Estado argelino colocou em pé de igualdade as causas saharaui e palestiniana, o que teria irritado fortemente os dirigentes marroquinos. A sua presença teria eclipsado a de um rei conhecido pelo seu narcisismo e arrogância.

As autoridades marroquinas poderiam ter escolhido o método do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, que não participou nas discussões, mas esteve presente nos corredores em vários eventos paralelos e teve um programa intensivo de contactos durante a semana passada. Mas mesmo nos corredores, Marrocos fez-se notar pela sua ausência.

Para que o Makhzen abandone o campo de batalha diplomático e o deixe à mercê do seu eterno inimigo, a Frente Polisario, devem existir razões muito fortes, como por exemplo evitar encontros indesejáveis com o secretário-geral da ONU, que recentemente recebeu o presidente saharaui em Nova Iorque a título oficial, ou com os americanos que acabam de o obrigar a aceitar que o enviado da ONU para o Sahara Ocidental, Staffan de Mistura, visite os territórios ocupados por Marrocos.


sexta-feira, 29 de setembro de 2023

78ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da ONU termina com amplo apoio à questão do Sahara Ocidental |



Nova Iorque, 28 de setembro de 2023 (SPS - EUA) -  A 78ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da ONU terminou na sede das Nações Unidas em Nova Iorque com uma ampla manifestação de apoio à causa do povo saharaui. A sessão foi organizada sob o tema "Restaurar a confiança e reavivar a solidariedade: acelerar a ação da Agenda 2030 e dos seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para a paz, a prosperidade, o progresso e a sustentabilidade para todos".

Na sua alocução à Assembleia Geral, antes do início dos debates gerais de alto nível, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, referiu que "o mundo está a evoluir rapidamente para um mundo multipolar, que pode criar novas oportunidades de justiça e equilíbrio nas relações internacionais, sublinhando ao mesmo tempo que a multipolaridade, por si só, não é garantia de paz".

Como todos os anos, a questão do Sahara Ocidental esteve fortemente presente nas declarações dos Chefes de Estado e de Governo, bem como dos chefes de delegações no decurso dos debates gerais de alto nível, onde deixaram registadas as posições de princípio e coerentes dos seus países sobre a questão saharaui, bem como o seu firme apoio ao direito legítimo do povo saharaui à autodeterminação e à liberdade, e o seu apoio contínuo à República Saharaui.

Uma delegação saharaui de alto nível, chefiada pelo membro do Secretariado Nacional e Ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD, Mohamed Sidati, esteve presente nas atividades do debate geral da Assembleia Geral. A delegação saharaui foi chefiada por Mohamed Sidati e integrou o Coordenador da MINURSO e Representante da Frente Polisario junto das Nações Unidas, Sidi Mohamed Omar, Brahim Mojtar Boyema'a, Embaixador Encarregado de Negócios na Ásia, e Malainin Salama, Conselheiro da Representação da Frente Polisario junto das Nações Unidas. A delegação saharaui manteve vários encontros com delegações de países irmãos e amigos, bem como com outras delegações participantes, a fim de as informar sobre os últimos desenvolvimentos relacionados com a questão do Sahara Ocidental, tendo trocado pontos de vista sobre as melhores formas de reforçar as relações bilaterais e outras questões de interesse comum. (SPS)

Seixal acolhe extensão de festival de cinema do Sahara

 




O Seixal acolhe uma vez mais, este ano, a extensão FiSahara – Festival Internacional de Cinema do Saara Ocidental, um festival de arte cinematográfica e cultura de direitos humanos, que pretende aumentar a consciencialização internacional sobre a ocupação e repressão marroquina no Sahara Ocidental.

A entrada é gratuita, mediante reserva prévia através do formulário online.

 

PROGRAMA

3 de outubro (terça-feira), 21.30 horas

Bienvenida Saharaui | Sahrawi Welcome

De Carlos Hernández López

Espanha | 2020 | 53 minutos

Idioma: Hassaniya

[reserva + informações]

 

4 de outubro (quarta-feira), 21.30 horas

Mutha y la muerte de Hamma-Fuku | Mutha & the death of Hamma-Fuku

De Daniel Suberviola

Espanha | 2021 | 26 minutos

Idiomas: árabe hassani e inglês

[reserva + informações]

 

Running Home

De Michelle-Andrea Girouard

Canadá | 2019 | 30 minutos

Idiomas: inglês, espanhol, catalão, árabe hassani

[reserva + informações]

 

5 de outubro (quinta-feira), 21.30 horas

Ocupación S.A.

De Laura Dauden e Sebastián Ruiz Cabrera

Brasil, Espanha | 2020 | 41 minutos

Idiomas: castelhano, inglês e árabe hassani

[reserva + informações]

 

3 Cámaras Robadas | 3 Stolen Cameras

De Equipe Media e RåFILM

Saara Ocidental, Suécia | 2017 | 17 minutos

Idioma: árabe hassani

[reserva + informações]

 

Criado em 2003, por saharauís nos campos e na sociedade civil espanhola, o FiSahara – Festival Internacional de Cinema do Sahara Ocidental é um festival anual de cinema e cultura de direitos humanos que busca entreter e capacitar o povo saharauí através do cinema.

À medida que os saharauís descobrem o cinema, adotaram essa nova arte como uma ferramenta de autoexpressão, resistência cultural e ativismo dos direitos humanos, dando origem à cinematografia saharauí.

Uma parte importante da programação do FiSahara baseia-se na premissa de que o acesso ao lazer, à cultura e ao entretenimento são direitos humanos básicos. Para os saharauís, há 50 anos em exílio e que enfrentam todos os tipos de cicatrizes diariamente, o festival oferece uma semana de descanso das dificuldades da vida quotidiana

domingo, 24 de setembro de 2023

Enquanto os corpos das vítimas do terramoto se decompõem sob os escombros, Mohamed VI vai de férias



Duas semanas após o terramoto devastador que atingiu Marrocos, o rei Mohamed VI decidiu retomar as suas férias, que tinha interrompido na sequência da catástrofe que fez 3.000 mortos e 2.000 feridos.

Terramoto ou não, o rei de Marrocos não suspende as suas férias. É verdade que Mohamed VI regressou de França quando foi informado do terramoto que devastou a região do Alto Atlas no dia 8 de setembro, mas menos de duas semanas após a catástrofe, e apesar de ainda não haver notícias sobre a ordem nas zonas afectadas, o rei vai de férias.

Palácio de Betz, em França, adquirido por Hassan II em 1972
e hoje propriedade de de Mohamed VI

Madrid (ESC) 24-09-2023 - O rei de Marrocos, Mohamed VI, retomou as suas férias na tarde de quinta-feira, onze dias depois do terramoto devastador que atingiu o país na noite de 8 de setembro. De acordo com o El Confidencial, o monarca deslocou-se na passada quinta-feira à sua residência em M'diq (Rincón), a 25 quilómetros do enclave espanhol de Ceuta, onde passou dois longos meses no verão, antes de viajar para França e regressar há 12 dias a Marrocos, após o brutal terramoto que devastou o seu país e que fez 3.000 mortos e 2.000 feridos.


Mansão comprada por Mohamed VI em 2020 no super elitista Champ de Mars, contíguo à Torre Eiffel. O imóvel com 1.600 m2 foi adquirido por 80 milhões de euros.


De acordo com o El Confidencial, Mohamed VI voou ao início da tarde de quinta-feira de Rabat para Tetuão num Boeing 748. De Tetuão, foi apanhado por um carro e conduzido 15 quilómetros até M'diq, ao largo da costa mediterrânica.

Mohamed VI não pode deslocar-se aos seus propriedades em França e no Gabão. Encontra-se numa crise diplomática com a França e não pode deslocar-se à sua mansão em Libreville, no Gabão, porque o seu amigo Ali Bongo foi derrubado por um golpe de Estado.

Em M'diq, Mohamed VI tem uma residência real e um cais, de onde costuma partir num barco a motor ou no luxuoso iate Badis 1. A partir daí, navega pelo Mediterrâneo ocidental.

Segundo o jornal espanhol, o monarca alauíta passou dois meses em El Rincón este verão, de finais de junho a 1 de setembro. Depois, para festejar o seu aniversário com os membros da sua família, Mohamed VI navegou para Al Hoceima. E, a 1 de setembro, viajou do aeroporto de Tetuão para Paris.


Paradisíca estância balnear junto a Libreville, no Gabão, onde Mohamed VI possui
uma mansão e onde passava longos períodos de férias
antes do golpe de Estado que depôs o presidente Ali Bongo, seu amigo.


Em França, o soberano alauita possui uma enorme mansão em Paris, junto à Torre Eiffel, que comprou durante a pandemia de Covid por 80 milhões de euros. Tem também um castelo em Betz, 75 quilómetros a nordeste da capital, herdado do seu pai Hassan II.

Em 9 de setembro, interrompido pelo brutal terramoto, Mohamed VI regressou a Marrocos quase 20 horas após o tremor de terra.

O super yacht Badis 1, fabricado na Itália, e adquirido pelo monarca Mohamed em 2016
por 100 milhões de euros. A embarcação, nomalmente fundeada em El Rincón, na
costa mediterrânica, junto a Ceuta, onde o rei possui uma outra mansão de veraneio,
tem 70 metros de comprimento, seis cabines e a sua manutenção anual ronda os 05-10 milhões de euros.

Desde a sua chegada a Rabat, o rei organizou três reuniões (a 9, 14 e 20 de setembro). As três reuniões tinham por objetivo avaliar os danos do terramoto que atingiu o Alto Atlas e a região de Marraquexe-Safi.

Mohamed VI não se mostrou interessado em visitar as zonas afetadas nem em cumprimentar as vítimas, embora tenha feito uma viagem relâmpago de apenas 80 minutos a Marraquexe, a zona menos afetada (com 18 mortos). Aí doou sangue, visitou os feridos no hospital universitário e voou depois para Rabat. Na quinta-feira, o rei marroquino retomou as suas longas férias.

CRESCE A TENSÃO COM O ELISEU: Marrocos ataca a vida privada de Macron através do jornal mais próximo do palácio real

 



A difamação do Presidente francês pelo “Le 360” agrava ainda mais a crise entre Paris e Rabat. No entanto, há apenas duas semanas, Mohamed VI ainda estava de férias em França.

EL CONFIDENCIAL - Por Ignacio Cembrero - 24/09/2023

Para o palácio real marroquino, vale tudo na sua contenda contra a França. Este fim de semana, apertou ainda mais o laço ao lançar um ataque pessoal ao Presidente Emmanuel Macron, à sua vida privada e à da sua comitiva. Nem mesmo nos piores momentos da longa crise entre Espanha e Marrocos, as autoridades marroquinas se atreveram a atacar de forma tão reles os membros do Governo espanhol. "Um homenzinho, uma mulherzinha, mas não assume nada: quem é realmente Emmanuel Macron?", era o título de primeira página, no sábado à noite, do Le 360, o jornal mais simpático ao palácio real de todos os que se publicam em Marrocos. Vários jornalistas marroquinos afirmam que o seu proprietário é Mounir Majidi, o secretário privado do rei Mohammed VI, com quem se relaciona diariamente.

domingo, 17 de setembro de 2023

Entrevista a El Ghalia Djimi, membro da ISACOM: "Tocámos e mexemos com os sentimentos de De Mistura!"

 



Mohamed Abdoun - 2023/09/16 - La Patrie News (Argélia)


El Ghalia Djimi é uma corajosa defensora da justa e nobre causa saharauí. Corajosa, porque continua a lutar pela independência do seu país dos territórios ocupados, com tudo o que isso implica em termos de ameaças e sofrimento para ela e para a sua família.

Membro fundador da ISACOM (Instância Saharaui Contra a Ocupação Marroquina) com Aminatou Haidar, foi uma das activistas saharauís recebidas durante duas horas na semana passada por Staffan de Mistura, enviado pessoal do Secretário-Geral da ONU para o Sahara Ocidental.

Nesta entrevista exclusiva, fala-nos do seu encontro com o diplomata ítalo-sueco, mas também do ambiente que se viveu à sua volta durante os dois dias que antecederam o encontro. Embora considere que De Mistura tenha sido recetivo aos seus argumentos, dá a impressão de que procura uma "solução global" para o conflito e que, por isso, não pretende insistir nas questões relativas aos direitos humanos, aos presos políticos, à pilhagem dos recursos naturais... Estará no caminho errado ou no caminho certo?

O futuro muito próximo o dirá. Entretanto, para esta ativista que já passou pelas prisões e torturas dos esbirros de Mohamed VI, a luta continua, mais intensa e mais determinada do que nunca. Até à vitória final.

 "A sociedade civil saharaui vive sob diversas formas de pressão e de repressão por parte das forças de ocupação marroquinas".

"A maioria de nós não tem o suficiente para comer e nem sequer tem dinheiro para comprar um quarto de quilo de lentilhas".

 "Nós, que passámos por desaparecimentos forçados, não podemos ser silenciados".

 "Explicámos tudo ao Sr. De Mistura de uma forma sincera e realista. Falámos de forma corajosa e transparente sobre as perseguições de que somos alvo regularmente".

"De Mistura explicou-nos que não foi Marrocos que o proibiu de vir ao Sahara Ocidental, mas sim ele próprio, devido às condições inaceitáveis que lhe foram impostas por Rabat".

 "No que diz respeito às impressões gerais de De Mistura, e ouvindo os nossos testemunhos, cada um mais condenatório que o outro, sentimos que tínhamos tocado e mexido com os sentimentos deste diplomata".

"Marrocos continua a recusar-se a reconhecer que é uma potência ocupante. Discutimos longamente este assunto com De Mistura. Fizemos com que ele tivesse plena consciência desta questão".

 

La Patrie News: Fez parte da delegação saharaui recebida na terça-feira por Staffan de Mistura, enviado pessoal do secretário-geral da ONU para o Sahara Ocidental. O que é que aconteceu nesse encontro?

El Ghalia Djimi: Sim, conseguimos finalmente encontrar-nos com Staffan de Mistura no dia 5 deste mês. Mas antes de responder mais pormenorizadamente à sua pergunta, gostaria de descrever o clima geral que prevalecia nos territórios ocupados antes desse dia.

O regime de ocupação marroquino aplica os mesmos métodos repressivos em cada uma das nossas ocasiões nacionais, ou aquando das visitas ao Sahara Ocidental de De Mistura, Ross, Kohler, Baker e outros. Nessas ocasiões, somos submetidos a pressões insuportáveis e a uma vigilância de segurança. Todos os defensores dos direitos humanos e da independência do Sahara Ocidental são seguidos e vigiados de perto.

No que me diz respeito, para além do carro da polícia que está sempre estacionado ao lado da minha casa, há homens de mota que seguem todos os meus movimentos, mesmo quando vou ao mercado fazer as minhas compras. Conhecemos perfeitamente estes agentes e os seus carros e até conseguimos tirar-lhes fotografias discretas. Esta vigilância excecionalmente apertada durou noite e dia na segunda, terça e quarta-feira.

Até De Mistura sair de El Aiun para Dakhla. Esta vigilância ostensiva constitui uma mensagem forte para que o cidadão comum não nos apoie e se afaste da nossa luta de libertação. A pressão e a vigilância ostensivas a que estão sujeitas Aminatou Haidar e El Ghalia Jimi representam uma forte pressão moral e política sobre o cidadão comum marroquino. Trata-se de fortes campanhas preventivas que têm por objetivo dissuadir e aterrorizar a população.

Em cada uma dessas ocasiões, nós da ISACOM (Instância Saharaui Contra a Ocupação Marroquina), da qual sou membro fundador, apelamos aos cidadãos para que realizem concentrações pacíficas de protesto. A sociedade civil saharaui vive sob diversas formas de pressão e de repressão por parte das forças de ocupação marroquinas. Para além desta pressão política geral, todos os saharauis sofrem chantagem económica e financeira.

O mundo inteiro deveria saber que as imensas riquezas do povo saharaui estão a ser pilhadas pelo ocupante marroquino com a cumplicidade de numerosas multinacionais, nomeadamente francesas e espanholas. De um modo geral, nenhum saharaui tem o direito de trabalhar na administração pública. Se exercerem funções liberais, estão sujeitos a obstáculos e sanções que visam arruiná-los e impedi-los de serem fortes e financeiramente autónomos.

A assistência social prestada pelo ocupante marroquino é uma forma odiosa de escravatura para o povo saharaui. Trata-se do chamado cartão de reanimação social, que dá a cada saharaui entre 100 e 10 euros. Esta ajuda é sistematicamente cortada a qualquer cidadão que manifeste a mais pequena ideia pró-independência. É através desta cruel chantagem social que o ocupante marroquino tenta amordaçar a sociedade civil saharaui. Esta ajuda insignificante está condicionada ao silêncio e à abdicação dos infelizes saharauís que a recebem.

Para além do facto de nenhum deles estar coberto pela segurança social, perdem automaticamente os magros subsídios se participarem em manifestações pacíficas ou visitarem uma família de presos políticos. Nada que se compare ao que acontece nos campos de refugiados, onde a dignidade, a saúde, a alimentação e as liberdades estão garantidas. Aqui, nos territórios ocupados, até um quarto de quilo de lentilhas é precioso para nós.

Porque a maioria de nós não tem o suficiente para comer e não tem dinheiro para o fazer. O nosso empobrecimento tornou-se assustadoramente preocupante. As pessoas a quem são cortados os magros rendimentos são obrigadas a assinar um compromisso escrito de não voltarem a manifestar-se, nem a mostrar solidariedade para com os presos políticos.

A esmagadora maioria dos saharauís, vítimas desta chantagem odiosa e criminosa, é obrigada a manter-se em silêncio. É assim que o regime marroquino perpetua a sua ocupação do Sahara Ocidental desde 1975.

 

Apesar deste clima de tensão e pressão, houve uma manifestação pacífica, que desafiou o medo e a chantagem das forças de ocupação. Como é que isso aconteceu?

Lançámos um apelo geral dois ou três dias antes da chegada do Sr. De Mistura. Esse apelo foi feito pelos dirigentes e líderes da Frente Polisario. Foi difundido no canal de televisão oficial da RASD.

Assegurámos a sua ampla divulgação e explicação nas ruas e nas redes sociais. A nossa principal palavra de ordem é a realização de um referendo sobre a autodeterminação, para além do respeito por todos os nossos direitos, a começar pela necessidade absoluta de libertar imediatamente todos os nossos presos políticos.

As forças de ocupação e repressão impediram o maior número possível de pessoas de chegar ao local. No entanto, a manifestação realizou-se. E foi reprimida de forma feroz e selvagem, sinal de grande pânico por parte das forças de ocupação marroquinas. Fizeram uma campanha de grande envergadura, ameaçando instaurar processos judiciais contra eventuais manifestantes em cafés e locais públicos. As penas, nalguns casos, podem ir até vinte anos de prisão. Muitos saharauis correram estes enormes riscos ao serviço da causa sagrada da sua pátria. Em Bojador, as imagens do ataque a Sultana Khaya e à sua irmã circularam nas redes sociais.

Os ataques são frequentemente perpetrados por agentes à paisana, difíceis de identificar, o que torna praticamente impossível apresentar qualquer tipo de queixa às instâncias internacionais competentes. Apesar deste clima de tensão, de ameaças e de repressão feroz, os ativistas saharauis têm dado provas da sua determinação e da sua presença.

Há também a proibição de requisição para os estudantes filhos de militantes, o que lhes dificulta a continuação dos estudos em Marrocos, uma vez que não há universidade no Sahara Ocidental. Se viram os vídeos das nossas manifestações anteriores, terão certamente reparado que estes agentes filmam todos os manifestantes em grande plano. Esses vídeos são depois desconstruídos e cuidadosamente estudados pelas forças de ocupação, que escolhem as pessoas a punir e as que são vulneráveis, para serem corrompidas e compradas. Os meus filhos, todos estudantes, estão na lista negra e privados de emprego. Mas a nossa determinação mantém-se intacta.

Nós, que passámos por desaparições forçadas, não nos conseguem silenciar. Ninguém nos fará calar. Aspiramos a viver em paz e a ser um fator de estabilidade e de desenvolvimento para toda a região. Nada menos que 1400 dos nossos jovens estão a pedir asilo político.

A situação está a tornar-se absolutamente insustentável. Marrocos não consegue convencer ninguém de que os saharauis viveriam bem no seu país, a começar pelo senhor De Mistura. Entregámos-lhe também todos os relatórios e documentos que tínhamos reunido e trabalhado.

 

Qual foi a resposta ou a reação de De Mistura?

Todos nós, antes dos cumprimentos habituais, começámos por exprimir o nosso descontentamento pela sua ausência, após dois anos da sua nomeação como enviado pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental.

Isto representa para nós um grande sofrimento e uma perda de tempo, uma vez que as negociações estão completamente paradas e o conflito armado recomeçou. De Mistura explicou-nos que não foi Marrocos que o impediu de vir ao Sahara Ocidental, mas sim ele próprio, devido às condições inaceitáveis que lhe foram impostas por Rabat.



Presumo que teve de descrever em pormenor a De Mistura este calvário, que se arrasta desde 1975, para que a ONU não dissesse que não sabia de nada. Como é que decorreu a reunião?

Elaborámos relatórios detalhados, fundamentados e comprovados, que entregámos a De Mistura. A reunião destinava-se aos saharauis, que são maioritários e exigem a independência através de um referendo de autodeterminação. Nenhuma das associações e organizações saharauis é reconhecida pelas autoridades de ocupação marroquinas.

 

«...ao ouvir os nossos testemunhos, cada um mais condenatório do que o outro, sentimos que tínhamos tocado e mexido com os sentimentos deste diplomata.»

 

É tão bizarro como inaceitável. A nossa associação, responsável pela identificação dos crimes coloniais marroquinos, teve de lutar durante anos junto dos tribunais internacionais e das instâncias internacionais antes de ser finalmente reconhecida. Quanto à ISACOM, dirigida por Aminatou Haidar e por mim, não é reconhecida. Reunimo-nos em casa, estamos cruelmente desprovidos de recursos e somos vigiados de perto pelos serviços de segurança e de informações marroquinos. Nenhum de nós pode trabalhar em plena luz do dia. Isto torna o nosso ativismo e a nossa luta muito difíceis.

Explicámos tudo ao Sr. De Mistura de uma forma sincera e realista. Falámos de forma corajosa e transparente sobre as perseguições de que somos alvo regularmente. Ele insistiu em encontrar-se com a outra parte, ou seja, nós, os saharauis, que lutamos pela nossa independência e por um referendo de autodeterminação. No que respeita às impressões gerais de De Mistura, e ao ouvir os nossos testemunhos, cada um mais condenatório do que o outro, sentimos que tínhamos tocado e mexido com os sentimentos deste diplomata.

Por um lado, através das suas palavras e das trocas de impressões que tivemos com ele, sentimos uma grande autoconfiança. Pediu-nos que o ajudássemos a formular ideias e propostas realistas, a fim de as incluir no próximo relatório e, finalmente, chegar a uma solução definitiva para esta questão da descolonização.

Graças à sua longa experiência como diplomata internacional, fez-nos compreender que pode ir muito longe connosco, desde que aceitemos acompanhá-lo com essas ideias e propostas de que fala e que espera de nós.

 

Sem entrar em demasiada polémica, Rabat comporta-se como se o Sahara Ocidental fizesse parte do seu território, apesar de ser classificado como um território não autónomo pelo direito internacional. As condições impostas a De Mistura não são um desafio flagrante à ONU?

O grande problema no processo de descolonização do Sahara Ocidental é que Marrocos continua a não querer reconhecer que é uma potência ocupante. Os países que estão a saquear as nossas riquezas não estão dispostos a parar e a pressionar Rabat para que ganhe juízo e realize um referendo sobre a autodeterminação. Desde 1963, o nosso país é classificado pela Quarta Comissão das Nações Unidas como um território que necessita de descolonização. Esta recusa marroquina priva-nos de muitos dos nossos direitos, garantidos pelo direito internacional.

Discutimos este assunto longamente com De Mistura. Fizemos com que ele tivesse plena consciência da questão. Dito isto, também protestámos contra as curtas duas horas que nos tinham sido concedidas. Mas De Mistura respondeu-nos que a pertinência do que tinha a dizer era mais importante do que o tempo necessário para o fazer. Sentimos que o seu objetivo era uma solução global, sem se deter no referendo ou no respeito pelos direitos humanos.

 

Para um observador e analista como eu, que acompanha esta questão há já algum tempo, não há outra solução que não seja um referendo...

Sem dúvida.

 

Enquanto se aguarda a realização do referendo,há que exercer pressão sobre Marrocos relativamente às questões dos direitos humanos, dos presos políticos e da pilhagem das riquezas do país. É sobre estas questões essenciais e urgentes que de Mistura deve concentrar a sua atenção e energia...

Sem dúvida. Estas são as propostas e exigências urgentes que apresentámos na nossa reunião com ele. Um mecanismo eficaz da ONU para os direitos humanos é mais do que necessário. Desde o recomeço do conflito armado, a Cruz Vermelha deve também reabrir os seus escritórios nos territórios ocupados.

 

“A nossa resistência e os sacrifícios que fizemos durante quase meio século enviam uma mensagem clara a todas as potências mundiais: nunca renunciaremos aos nossos direitos e a nossa luta continuará até à vitória final”

 

É a Cruz Vermelha que deve ocupar-se dos cidadãos civis e dos prisioneiros de consciência. Estas são exigências legítimas e legais. A ONU tem o dever de as satisfazer. E isto sem falar do referendo, pois a última palavra deve ser dada ao povo saharaui. O Makhzen, que conhece muito bem a sua verdadeira natureza, não confia sequer nos seus próprios súbditos. O que é que se pode dizer dos cidadãos marroquinos? É por isso que se opõe ferozmente à realização deste referendo de autodeterminação.


Staffan De Mistura

 

Como ativista de longa data e antiga prisioneira torturada nas prisões marroquinas, quais são os seus sentimentos mais profundos após este encontro. Ainda tem esperança na ONU?

(Risos um pouco desiludidos). Sabemos que um bom número de instituições internacionais são desfavoráveis ao povo saharaui e dão a parte de leão ao ocupante marroquino. É por isso que queremos alertar para o risco de as coisas correrem mal em toda a região se as nossas reivindicações legítimas e imediatas não forem devidamente atendidas. Quanto aos antigos desaparecimentos forçados, temos um longo caminho a percorrer. A nossa luta continuará até à vitória final, custe o que custar.

Assim sendo, estamos plenamente convencidos de que, se a ONU quisesse realmente resolver esta questão da descolonização, que é de facto muito simples, já o teria feito há muito tempo.

A solução é clara e evidente. Tal como o estatuto jurídico destes territórios. A nossa resistência e os sacrifícios que fizemos durante quase meio século enviam uma mensagem clara a todas as potências mundiais: nunca renunciaremos aos nossos direitos e a nossa luta continuará até à vitória final.

 

Staffan de Mistura informará o Conselho de Segurança da ONU no dia 16 de Outubro

 

Staffan de Mistura, Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental

O enviado pessoal do Secretário-Geral para o Sahara Ocidental, Staffan de Mistura, encontrou-se com o ministro de Nenócios Estrangeiros da Argélia e esteve em Nouakchott, na Mauritânia onde se reuniu com o Presidente Mohamed Ould Cheikh el Ghazouani. O Enviado Pessoal apresentará um relatório ao Secretário-Geral sobre as suas últimas visitas e reuniões regionais, uma vez que estão agora a concluir, e planeia informar o Conselho de Segurança nas consultas agendadas para 16 de Outubro - informou esta sexta-feira Farhan Haq, porta-voz adjunto do Secretário-Geral da ONU. Recorde-se que, até ao final do mês de Outubro, o Conselho de Segurança tem que aprovar uma resolução sobre o tema do Sahara Ocidental e a situação da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO).

Embaixadora de Marrocos em Madrid retoma as suas ameaças e diz que as críticas a Mohamed VI afetam a convivência dos marroquinos em España

 

Karima Benyaich

Madrid (CES) - Apesar da magnitude da tragédia provocada pelo brutal terramoto que abalou o país no passado dia 8 de setembro, deixando até agora 3.000 mortos (são os números oficiais, embora várias organizações achem que ele peca por defeito), o rei de Marrocos, Mohamed VI, ainda não se dirigiu à sua nação nem visitou a zona afetada ou o local onde se situa o ponto zero. As autoridades, desde o primeiro-ministro, o multimilionário Aziz Ajanuch, até às autoridades locais, também mantiveram um silêncio absoluto e um perfil baixo, sem emitir qualquer declaração oficial, nem se dirigiram à população.

Num país onde o monarca detém todo o poder executivo e a sua imagem é omnipresente, esta ausência provocou duras críticas nas redes sociais entre a população marroquina duramente atingida pelo terramoto. A imprensa internacional, nomeadamente em França, nos Estados Unidos, no Reino Unido e em Espanha, publicou artigos criticando a inação do rei marroquino face ao terramoto devastador.

Na sequência desta crítica justificada à inação do monarca e à sua recusa de ajuda internacional, o regime marroquino deu instruções aos seus embaixadores, aos seus meios de propaganda e ao seu lóbi na Europa para se mobilizarem no sentido de reprimir as críticas a Mohamed VI pela sua gestão desastrosa da catástrofe sísmica que atingiu o seu país. Karima Benyaich, a famosa embaixadora de Marrocos em Espanha, foi a primeira a avançar para encobrir a gestão nefasta da catástrofe por parte do monarca alauíta.


Localidade de Tiniskt, em Marrocos, arrasada pelo terramoto - Imagem Washington Post


Recorde-se que Benyaich declarou à imprensa, por ocasião da avalanche humana marroquina em Ceuta, em maio de 2021, que mobilizou cerca de 8000 pessoas, das quais 1500 eram menores, e da receção humanitária em Logroño por covid do presidente da RASD, Brahim Gali, que "há actos que têm consequências e que devem ser assumidos". No entanto, alguns meses depois, Benyaich regressou ao seu posto em Madrid sem que essas declarações tenham tido quaisquer consequências para ela. E fê-lo depois de o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ter cedido à imposição marroquina através de uma carta enviada a Mohamed VI a favor da resolução do diferendo do Sahara Ocidental através de um plano de autonomia que não contempla a autodeterminação do território.

A polémica embaixadora marroquina em Madrid voltou à carga e lançou um ataque a Espanha. Para Karima Benyaich, as críticas a Mohamed VI pela sua gestão nefasta da crise "ameaçam a convivência entre os marroquinos que vivem em Espanha".

"Nestas circunstâncias, o mais importante é a ação e não a fotografia", defendeu Benyaich em entrevista ao canal de televisão La Sexta, em que lamentou a informação que poderia ter posto em causa a credibilidade da Coroa e a convivência dos marroquinos que vivem em Espanha.

Na sua declaração ao La Sexta, este sábado, para dar a versão oficial do regime sobre o que aconteceu, Benyaich garante que, apesar de estar fora do país, Mohamed VI esteve presente desde o primeiro momento e criou um fundo de solidariedade. "Foi o primeiro a oferecer 100 milhões de euros dos seus próprios fundos", acrescenta, ao mesmo tempo que se mostra categórica perante as críticas ao monarca pelo seu atraso em chegar ao "ground zero".

Karima Benyaich tem uma relação pessoal próxima com Mohamed VI, uma vez que o seu pai, Fadel Benyaich, foi médico pessoal do seu antecessor, Hassan II. De facto, Fadel morreu durante a sangrenta tentativa de derrube de Hassan II por um grupo de militares em 1971. Filha de mãe espanhola, estudou Direito em Montreal e foi nomeada embaixadora em Madrid em 2018.

Renunciou temporariamente à sua nacionalidade espanhola para se tornar embaixadora do Reino de Marrocos em Espanha. Recuperará a sua nacionalidade quando deixar o cargo.

À medida que os esforços de salvamento entram na sua segunda semana, as esperanças de encontrar sobreviventes vivos nos escombros do terramoto estão a desvanecer-se, uma vez que Mohamed VI recusou ajuda externa que poderia salvar centenas de vidas. Consequentemente, a raiva está a crescer contra a reação inexplicavelmente lenta do governo a um forte terramoto e a sua recusa em aceitar ajuda estrangeira. No entanto, num país onde o protesto é um risco, talvez a resposta mais forte seja a ação e o exemplo, com os residentes e os habitantes locais a ajudarem os necessitados.

Pelo menos 20 países, incluindo um mecanismo da ONU recentemente ativado, já enviaram ao regime de Mohamed VI ofertas de cooperação humanitária e de esforços de salvamento para ajudar as vítimas do devastador terramoto de sexta-feira, que até agora matou mais de 3.000 pessoas e fez 5.500 feridos.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Odemira solidária com o Povo Saharaui

A Assembleia Municipal de Odemira, no Alentejo, aprovou, por unanimidade, na segunda reunião da sessão ordinária de junho uma moção de solidariedade com o Povo Saharaui. A moção foi apresentada pelos eleitos da CDU, mas mereceu a aprovação de todos os eleitos à AM daquele concelho do distrito de Beja.

A atual constituição da Assembleia Municipal de Odemira foi instalada a 11 de outubro de 2021, nela estão representados os partidos políticos PS, com 11 mandatos, CDU, com 6 mandatos, Coligação PPD/PSD-CDS/PP, com 2 mandatos, Bloco de Esquerda, com 1 mandato e Iniciativa Liberal, com 1 mandato.

Fazem também parte da Assembleia Municipal todos os presidentes das 13 Juntas de Freguesia do concelho de Odemira.

 


MOÇÃO

“Solidariedade com o Povo Saharauí”

 

“No final dos anos 90, a luta encetada pela população e em particular pelos estudantes, no nosso concelho e no país, foi fundamental para que, também com a ajuda da comunidade internacional, Timor-Leste se tornasse num país independente. Assim, esta moção consubstancia-se num pequeno contributo dos eleitos da CDU e desta Assembleia pela impreterível independência do Sahara Ocidental: a última colónia de África.

Este território do Magrebe é controlado por Marrocos desde 1975. A Frente Polisário, movimento de libertação saharauí, luta há 50 anos pela autodeterminação. A República Árabe Saharauí Democrática, proclamada em 1976 e Estado membro da União Africana desde 1984, foi reconhecida por 84 países do mundo. Sob a égide da ONU e da União Africana, em 1991, pondo termo à guerra, Marrocos e a Frente Polisário acordaram realizar um referendo para que os saharauís se pronunciassem. Percebendo que a independência seria a opção maioritária, Marrocos opôs-se ao processo, em 2007, com o apoio da França. Em 2020, um ataque na fronteira com a Mauritânia reabriu o cenário de guerra.

Este é um território com significativos recursos naturais que, pertencendo ao povo saharauí, são explorados por outros.

A ocupação marroquina dividiu este povo: uma parte permanece no território, muitos em campos de refugiados na Argélia, uns na terra libertada pela Frente Polisário e outros na diáspora.

Os saharauís têm sido alvo de prisões ilegais, tortura, julgamentos injustos, rapto, tratando-se de violações dos direitos humanos. A população que vive nos acampamentos recebe ajuda de várias organizações de diferentes países, ainda assim há falta de quase tudo, a água e os medicamentos são escassos. Pese embora as dificuldades, este povo e a Frente Polisário mantêm-se firmes na luta pela sua libertação, mas precisam da ajuda dos povos do mundo e do nosso, em particular.

Os eleitos da Assembleia Municipal de Odemira manifestam a sua solidariedade para com o povo saharauí e a sua luta pela autodeterminação, apelando ao Governo que, noção ao Sahara Ocidental.

Ao ser aprovada, esta moção deve ser endereçada ao Primeiro-Ministro, ao Ministro dos Negócios Estrangeiros e à Frente Polisário.

Relíquias, 30 de junho de 2023

 

Brahim Ghali reune-se com o SG da ONU e com o seu Enviado Pessoal para o Sahara Ocidental


Nova Iorque (Nações Unidas), 12 de setembro de 2023 (SPS) – O Presidente da República Saharaui e Secretário-Geral da Frente Polisario, Brahim Ghali, manteve conversações esta segunda-feira com o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e com o seu Enviado Pessoal para o Sahara Ocidental, o diplomata Staffan De Mistura. Estas conversações enquadram-se no quadro do diálogo contínuo entre a parte Saharaui e o Secretariado das Nações Unidas.

As conversações, que tiveram lugar na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, abordaram uma série de questões de interesse comum, especialmente a realidade e as perspectivas do processo de paz patrocinado pelas Nações Unidas no Sahara Ocidental e as formas de reanimá-lo, incluindo formas de acelerar a conclusão da descolonização do Sahara Ocidental.

Presidente da República Saharaui e Secretário-Geral da Frente Polisario recordou as circunstâncias que levaram à aprovação pelas duas partes no conflito - a Frente Popular de Libertação de Saguia El Hamra e Rio de Ouro e o Reino de Marrocos - do Plano de Resolução da OUA/UA e da ONU de 1991, que o Conselho de Segurança aprovou por unanimidade, com o objetivo de permitir ao povo saharaui exercer o seu direito à autodeterminação e à independência como todos os povos e países colonizados.

Depois de se referir aos obstáculos criados pelo Estado ocupante marroquino para impedir a realização de um referendo de autodeterminação, o Presidente da República, Secretário-Geral da Frente Polisário, sublinhou a rejeição da parte saharaui ao silêncio das Nações Unidas relativamente ao perigoso e práticas provocativas levadas a cabo pelo Estado ocupante nos territórios saharauis ocupados, que são levadas a cabo à vista da MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental).

Também apelou ao Secretário-Geral das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança para que chamem as coisas pelos seus nomes e responsabilizem totalmente o Estado ocupante pela violação e torpedeamento do cessar-fogo de 13 de novembro de 2020, o que é considerado uma escalada perigosa que minou os esforços pacíficos das Nações Unidas e ameaça agora a segurança e a estabilidade de toda a região.

O Presidente da República referiu-se às tentativas de alguns partidos para desviar todo o processo de paz do seu quadro jurídico claro, introduzindo alguns termos amplos como “realismo” e “praticidade” nas resoluções do Conselho de Segurança, enfatizando fortemente que a parte saharaui rejeita na sua totalidade esta abordagem perigosa, que apenas encorajará o Estado ocupante marroquino a persistir na sua ocupação militar ilegal de partes do território nacional saharaui, em flagrante violação da Carta das Nações Unidas e dos princípios do direito internacional.

Para concluir, o Presidente da República e Secretário-Geral da Frente Polisário sublinhou que o povo saharaui não é fomentador da guerra e fez todo o tipo de concessões e sacrifícios para que o processo de paz possa avançar no sentido de alcançar o seu objetivo final, que é permitir ao povo saharaui exercer o seu direito inalienável, inegociável ou imprescritível à autodeterminação e à independência, recordando neste contexto o compromisso da parte saharaui de cooperar com os esforços do Secretário-Geral e do seu enviado pessoal para o Ocidente Sahara para acabar com o colonialismo no Sahara Ocidental.

Brahim Ghali afirmou que o povo saharaui continua fortemente empenhado em defender os seus direitos e as suas aspirações nacionais intransigentes por todos os meios legítimos garantidos pela Carta das Nações Unidas e pelo Direito Constitutivo da União Africana.

Por sua vez, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou o compromisso das Nações Unidas com o direito do povo saharaui à autodeterminação e a continuar a trabalhar para realizá-lo de acordo com as resoluções das Nações Unidas, expressando a sua esperança de que os esforços do seu enviado pessoal ao Sahara Ocidental consigam acelerar a resolução deste conflito, que se prolonga há muito tempo.

As conversações contaram com a presença, por parte da ONU, de Rosemary Di Carlo, Subsecretária-Geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz; Staffan de Mistura, Enviado Pessoal do Secretário-Geral para o Sahara Ocidental; Martha Ama Akyaa Pobee, Secretária-Geral Adjunta para África; e altos funcionários do Secretariado das Nações Unidas e do Departamento de Assuntos Políticos e Consolidação da Paz.

Quanto à parte saharaui, as conversações contaram com a presença do membro do Secretariado Nacional, do representante da Frente Polisário nas Nações Unidas e do coordenador da MINURSO, Dr. Sidi Mohamed Omar; o assessor da presidência, Abdati Brika; e o conselheiro da representação da Frente Polisário nas Nações Unidas, Malainin Salama.

 


Encontro com Staffan de Mistura

O presidente da República saharaui e secretário-geral da Frente Polisario, Brahim Gali, reuniu-se ontem, segunda-feira, também com Staffan de Mistura, enviado pessoal do secretário-geral da ONU para o Sahara Ocidental.

No encontro foram discutidos os últimos desenvolvimentos do processo de paz para a descolonização do Sahara Ocidental, patrocinado pela ONU, com destaque para os esforços do enviado pessoal, nomeadamente a recente visita que efectuou às zonas ocupadas da República Saharaui.

O emissário da ONU abordou a sua visita às cidades ocupadas de El Aaiun e Dakhla, visita que teve lugar recentemente, após dois anos de espera devido à implacável obstrução imposta pelo Estado ocupante marroquino.

Durante o encontro, De Mistura manifestou a sua determinação em prosseguir os seus esforços e contactos para fazer avançar o processo de paz no Sahara Ocidental, no quadro da aplicação das resoluções da ONU, a fim de permitir ao povo saharaui exercer o seu direito à autodeterminação.

Brahim Ghali lembrou ainda ao Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental o cerco austero e a repressão brutal contra os civis saharauis desarmados que acompanharam esta visita, impedindo-os do direito de se manifestarem pacificamente para exprimir as suas posições e privando mesmo alguns deles da oportunidade de se encontrarem com o enviado pessoal. Gahli Exigiu neste contexto que a ONU ponha fim às graves violações cometidas pelo Estado ocupante marroquino, ponha fim à pilhagem dos recursos naturais saharauis e liberte imediatamente todos os presos políticos saharauis nas prisões marroquinas.

Manifestando a disponibilidade da parte saharaui em cooperar com os esforços das Nações Unidas para descolonizar a última colónia de África e permitir ao povo saharaui exercer o seu direito à autodeterminação e à independência, reiterou o firme empenho do povo saharaui em defender os seus direitos e aspirações nacionais por todos os meios legítimos garantidos pela Carta das Nações Unidas e pelo Ato Constitutivo da União Africana.

 

domingo, 10 de setembro de 2023

Governo marroquino bloqueia as equipas de resgate» - denuncia a ONG “Socorristas Sem Fronteiras”


Arnaud Fraisse, fundador dos "Socorristas sem fronteiras", está pronto a partir com as suas equipas para Marrocos para ajudar as vítimas do terramoto, noticiou este domingo à Radio France Inter. "lamentou o bloqueio das autoridades marroquinas, que não dão luz verde aos socorristas", afirmou.

Mais de 2.000 pessoas morreram no terramoto que atingiu Marrocos durante a noite de sexta-feira e de sábado. Muitos países e associações ofereceram-se para ajudar, mas, de momento, os socorristas não estão autorizados a intervir.

Teríamos gostado de apanhar um avião que tivesse descolado no primeiro minuto de Orly, mas infelizmente ainda não obtivemos o acordo do governo marroquino", lamenta Arnaud Fraisse. "O governo marroquino bloqueia todas as equipas de salvamento, exceto a do Qatar, que está autorizada a aterrar no país. Chegaram com 87 pessoas e cinco cães de busca. Não compreendemos esta situação de bloqueio. Segundo ele, mais de 100 equipas informaram a ONU de que poderiam intervir em Marrocos. "Se não obtivermos luz verde amanhã de manhã, não partiremos", afirmou.

No terreno, os "Securistes sans frontières"têm a missão de procurar vítimas nos escombros. "Saímos com uma câmara e um equipamento de escuta para detetar vítimas debaixo dos escombros", explica. A tarefa dos socorristas é retirá-las e transportá-las para o hospital.

 

Secouristes Sans Frontières foi fundada em 1978 por Arnaud Fraisse. Nessa altura, os primeiros socorros de urgência não estavam muito bem estruturados. Com base nas observações e na experiência dos fundadores, tornou-se evidente que os serviços de socorro de emergência necessários às pessoas atingidas por catástrofes estavam mal cobertos.

Assim, nasceu a ideia de um serviço de primeiros socorros de emergência altamente especializado para fazer face às emergências mais imprevisíveis e mortais, como terramotos, inundações, furacões e erupções vulcânicas.

Desde então, o conceito de voluntariado altruísta e humanista de Arnaud Fraisse provou ser perfeitamente realista, uma vez que as as equipas de SSF têm sido enviadas para os mais diversos locais de catástrofe em todo o mundo.


Governo saharaui transmite condolências e solidariedade ao povo marroquino pelas vítimas do terramoto que abalou o país

Foto de Fadel Senna/AFP

Bir Lehlu (República Saharaui), 09 de setembro de 2023 (SPS) - O Governo saharaui transmitiu as suas sinceras condolências ao povo marroquino pelas vítimas do terramoto de sexta-feira em Marraquexe, que matou milhares de pessoas e deixou milhares de feridos, para além de danos materiais incalculáveis.

O Governo saharaui, em comunicado emitido pelo Ministério da Informação da República Saharaui, exprime o seu apoio e solidariedade às famílias que perderam os seus entes queridos em consequência desta catástrofe.


O povo saharaui exprime ao fraterno povo marroquino, nestas difíceis circunstâncias, o seu apoio e as suas orações pelos milhares de vítimas do devastador terramoto.

No que diz respeito às ligeiras réplicas do terramoto que atingiu a cidade marroquina de Marraquexe, o Governo saharaui informa que os acampamentos da Dignidade e os Territórios Libertados da República Árabe Saharaui não sofreram quaisquer danos e não registaram vítimas nem perdas de habitações ou de infra-estruturas.