sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

França-Marrocos: je t’aime, moi non plus




O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino anulou a sua visita a França, enquanto as relações entre o presidente François Hollande e o rei Mohamed VI permanecem tensas. Apesar dos laços económicos e humanos antigos e sólidos, as crises entre Rabat e Paris marcaram as relações entre as duas capitais. Mas poderão Marrocos e França passar um sem o outro ?

Todo o artigo em:



50 eurodeputados pedem asilo político para Hassanna Aalia




Cinquenta eurodeputados das mais diversas famílias políticas — entre os quais os portugueses João Ferreira, Inês Zuber, Miguel Viegas (do PCP), Marisa Matias (do Bloco de Esquerda), Ricardo Serrão (do PS) e José Inácio Faria (Partido da Terra) — pedem ao Governo espanhol que reconsidere a sua decisão e conceda asilo político ao jovem Hassanna Aalia, ativista dos Direitos Humanos e condenado à revelia a prisão perpétua em Marrocos por um Tribunal Militar.

Os 50 eurodeputados afirmam:

“Expressamos nosso imenso assombro e preocupação ante a decisão do Ministério do Interior de Espanha de indeferir o asilo político a Hassanna Aalia.

Recordamos a posição do Parlamento Europeu na sua Resolução de 7 de fevereiro de 2013)[1] em que a Eurocâmara “manifesta a sua preocupação pelo facto de prosseguirem a violação dos direitos humanos no Sahara Ocidental; pede que se protejam os direitos fundamentais do povo do Sahara Ocidental, incluídos a liberdade de associação, a liberdade de expressão e o direito de manifestação; exige a libertação de todos os presos políticos saharauis; saúda a nomeação de um enviado especial para o Sahel e destaca a necessidade de um acompanhamento internacional da situação dos direitos humanos no Sahara Ocidental; apoia uma solução justa e duradoura do conflito baseada no direito à autodeterminação do povo saharaui, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas”

O grupo de eurodeputados  assinala ainda no texto que subscreveram:

“Recordamos ao Estado espanhol que é que cumprir as suas obrigações internacionais relativas ao respeito do principio de não devolução, inscrito na Convenção de Genebra e reconhecido pelo Sistema Europeu Comum de Asilo”.

Firmantes:
•Paloma López Bermejo, IU-Izquierda Plural, GUE/NGL, Spain.
•Norbert Neuser, SDP, SD, Germany.
•Ivo Vajgl, DeSUS, ALDE, Slovenia.
•Ernest Urtasun, ICV, Greens/ALE, Catalonia.
•Ignazio Corrao, M5S, EFDD, Italy.
•Lidia Senra, AGEe-Izquierda Plural, GUE/NGL, Galiza.
•Marina Albiol, IU-Izquierda Plural, GUE/NGL, Spain.
•Javier Couso, IU-Izquierda Plural, GUE/NGL, Spain.
•Ángela Vallina, IU-Izquierda Plural, GUE/NGL, Spain.
•Fabio de Masi, Die Linke, GUE/NGL, Germany.
•Sabine Lösing, Die Linke, GUE/NGL, Germany.
•Neoklis Sylikiotis, AKEL, GUE/NGL, Cyprus
•João Ferreira, PCP, GUE/NGL, Portugal.
•Inês Zuber, PCP, GUE/NGL, Portugal.
•Miguel Viegas, PCP, GUE/NGL, Portugal.
•Josu Juaristi, EH-Bildu/Los pueblos deciden, GUE/NGL, Basque Country.
•Fernando Maura, UPyD, ALDE, Spain.
•Josep Maria Terricabras, ERC-EpDD, Greens/ALE, Catalonia.
•Bart Staes, Groen, Greens/ALE, Belgium
•Bodil Ceballos, Miljöpartiet de gröna, Greens/ALE, Sweden.
•Marisa Matias, Bloco de Esquerda, GUE/NGL, Portugal.
•Helmut Scholz, Die Linke, GUE/NGL, Germany.
•Pablo Echenique, PODEMOS, GUE/NGL, Spain.
•Pablo Iglesias, PODEMOS, GUE/NGL, Spain.
•Dimitrios Papadimoulis, SYRIZA, GUE/NGL, Greece.
•Kostas Chrysogonos, SYRIZA, GUE/NGL, Greece.
•Lola Sánchez, PODEMOS, GUE/NGL, Spain.
•Jordi Sebastià, Compromís-Primavera Europea, GUE/NGL, Spain.
•Luke “Ming” Flanagan, Independent, GUE/NGL, Ireland.
•Ricardo Serrao, PS, SD, Portugal.
•Nessa Childers, Independent, SD, Ireland.
•Kostandika Kuneva, SYRIZA, GUE/NGL, Greece.
•Merja Kyllönen, Vasemmistoliitto, GUE/NGL, Finland.
•Javier Nart, Ciudadanos – Partido de la Ciudadanía, ALDE, Spain.
•Izaskun Bilbao Barandica, EAJ-PNV/Coalición por Europa, ALDE, Basque Country.
•Lorenzo Fontana, Lega Nord, NI, Italy.
•Tania González, PODEMOS, GUE/NGL, Spain.
•Cornelia Ernst, Die Linke, GUE/NGL, Germany.
•Tanja Fajon, Socialni demokrati, SD, Slovenia.
•Renata Briano, PD, SD, Italy.
•Martina Anderson, Sinn Féin, GUE/NGL, Ireland.
•Liadh Ní Riada, Sinn Féin, GUE/NGL, Ireland.
•Lynn Boylan, Sinn Féin, GUE/NGL, Ireland.
•Matt Carthy, Sinn Féin, GUE/NGL, Ireland.
•José Inácio Faria, Partido da Terra, ALDE, Portugal.
•Judith Sargentini, GroenLinks, Greens/ALE, The Netherlands.
•Ulrike Lunacek, Gruene, Greens/ALE, Austria.
•Curzio Maltese, L’altra Europa con Tsipras, GUE/NGL, Italy.
•Sergio Gutiérrez, PSOE, SD, Spain.

•Emmanouil Glezos, SYRIZA, GUE/NGL, Greece.

Exército saharaui interceta importante quantidade de droga proveniente de Marrocos com destino aos acampamentos de refugiados




30 de janeiro, 2015 – Na última operação levada a cabo pela 5.ª região militar, o exército saharaui intercetou um veículo 4×4 marca Toyota modelo Land-Cruiser transportando  uma importante quantidade de droga com destino aos acampamentos de refugiados saharauis e às vizinhas cidades argelinas, principalmente Tindouf.

A quantidade intercetada supera os 120 kg e os produtores e distribuidores fazem uso das iniciais M6, abreviatura do nome do monarca marroquino Mohamed VI.



Em declarações à televisão saharaui os responsáveis pela operação asseguraram que os detidos se encontram sob investigação, com o objetivo de recolher informação sobre as novas técnicas e rotas dos ‘gangs’ do crime organizado.



O exército saharaui, em especial os guardas fronteiras, prestam especial atenção e esforço à vigilância das imediações do muro militar de ocupação marroquino já que através dele e com a cumplicidade dos altos comandos marroquinos os ‘gangs’ do narcotráfico circulam com à vontade para dar saída a este produto que sustenta a economia de Marrocos, primeiro produtor do mundo segundo as Nações Unidas.

O regime marroquino está empenhado em fazer chegar este produto aos acampamentos de refugiados com o objetivo estabelecer a desordem e a insegurança.

Fonte: PORUNSAHARALIBRE


Crise entre França e Marrocos (V): wikileaks do Mahkzen, Mali? e Sahara Ocidental?







Quase um ano depois, a crise entre a França e Marrocos continua. Já nenhum jornalista espanhol se atreve de passar pelo ridículo de acusar Javier Bardem de ser o culpado disto. Mas começam a sair à luz algumas coisas. Neste blog publicou-se pela primeira vez (18 de outubro e 13 de dezembro de 2014) a tese, lançada a partir de Marrocos, acusando a França de estar por detrás de "Chris Coleman" que deixou muito sentida a diplomacia e o serviço secreto francês. Mas ficava no entanto no ar a razão do porquê…. Tem sido sugerido, que devido ao facto de Marrocos ter revelado a identidade de um agente francês. Na minha opinião, este argumento não é convincente, e as razões são mais profundas e podem ter muito a ver com os interesses geopolíticos da França no Mali, onde necessita da ajuda da Argélia. @Desdelatlantico


I. ESTE BLOG FOI O PRIMEIRO A APONTAR A TESE DE QUE "CHRIS COLEMAN" É UMA CRIAÇÃO, PELO MENOS PARCIALMENTE, FRANCESA

No artigo "Crise entre França e Marrocos (IV): os wikileaks do Mahkzen", de 18 de outubro, afirmava-se aqui:

É evidente, ainda que não se diga expressamente, que este meio, porta-voz oficioso do Mahkzen, acusa "certas partes ocultas" do sistema francês de estar por detrás das "provocações repetidas" (alusão, creio que clara, aos "wikileaks do Mahkzen") e acusa o governo francês de não querer deter essas "partes ocultas".
Se assim fosse, se os "wikileaks do Mahkzen" tivessem sido ativados a partir de França a pergunta seria: Porquê?
Creio que os leitores deste blog devem conhecer a minha hipótese. Mas a pergunta, em todo o caso, creio que é importante e merece reflexão.
Em todo o caso, chama a atenção que no dia seguinte da publicação do artigo acusatório contra a França publicado no diário digital do núcleo do Makhzen "Le360", a conta de "Chris Coleman" no twitter tivesse sido desativada: estamos ante uma trégua?

Pouco tempo mais más tarde, a 13 de dezembro, no artigo "Wikileaks do Mahkzen (IV): quemestá por detrás de "Chris Coleman"?" recordei de novo que:

Assim, num primeiro momento (11 a16 de outubro), o Makhzen acusou claramente a França de ser a responsável pela divulgação destes "wikileaks do Makhzen".

Bastante depois, a 13 de janeiro de 2015, o jornalista Ignacio Cembrero, insistiu nesta mesma tese:

Há uma última hipótese que ganha força. Aponta nada menos que a França e os seus serviços secretos. As autoridades marroquinas cortaram há já mais de dez meses a cooperação judicial e policial com a antiga metrópole depois de um juiz instrutor francês ter tentado interrogar em Paris o chefe da DST, Abdellatif Hammouchi. Contra ele foram apresentadas em França três ações por torturas, duas delas apoiadas pela Associação de Cristãos pela Abolição da Tortura. "Marrocos era uma das nossas principais fontes de informação" na luta antiterrorista, lamentava-se há dias o ex-ministro do Interior francês, Charles Pasqua.

A pregunta-chave para discutir se a tese da autoria francesa era verosímil é, portanto, a de saber o "porquê".


II. SOBRE OS POSSÍVEIS MOTIVOS DE UM DISTANCIAMENTO FRANÇA-MARROCOS

1. A tese da revelação de identidade da chefe de antena da DGSE em Marrocos.
No artigo anteriormente citado, Cembrero considera que a razão explicativa do porquê da França ter "criado" o "Chris Coleman" seria por Marrocos ter revelado a identidade de um agente secreto francês:

A imprensa oficialista marroquina revelou, além disso, em maio, o nome da chefe dos serviços secretos franceses (DGSE) em Marrocos, Agnès Féline, que se viu obrigada a abandonar rapidamente o país. Quem soprou à imprensa que por detrás dessa mulher acreditada como diplomata havia um agente secreto? Provavelmente aqueles mesmos que a acreditaram. Daí que na capital marroquina alguns suspeitem que @chris_coleman24 é a vingança francesa por esses golpes baixos.

O artigo citado por Cembrero, publicado num digital do núcleo do Mahkzen a 24 de maio de 2014 e firmado por "Mohamed Chakir Alaoui" (várias vezes citado neste blog) apenas diz isto:

Agnès Féline, segunda secretária na Embaixada de França e chefe de antena da Direção Geral da Segurança Externa (DGSE) em Marrocos,

É a revelação do nome da chefe da DGSE em Marrocos a chave?
Eu, pessoalmente, duvido e considero que, a haver uma razão de a França estar por detrás, seria outra a razão. Em minha modesta opinião, revelar o nome de alguém que é "segundo secretário da Embaixada" e que é, por definição, conhecida do regime marroquino e do resto do corpo diplomático é muito duvidoso que fosse razão para estar na origem de algo tão extremadamente grave como os wikileaks do Mahkzen.

2. O reequilíbrio geopolítico da França no Norte de África.
A chave do assunto, se é que está em França, não estaria na revelação da identidade da chefe de antena da DGSE em Rabat mas em algo mais importante.
Numa entrevista concedida ao semanário francês — mas claramente favorável ao Mahkzen e a outros ditadores africanos —, "Jeune Afrique", publicada a 16 de dezembro, o ministro francês da Defesa, Jean Yves Le Drian faz revelações. Estas são as passagens chaves, em minha opinião:

— Pergunta: Quanto ao Mali, a solução política passa pelas negociações de Argel que serão retomadas em janeiro. Eles estão no caminho certo?

Resposta: É necessário que o roteiro seja validado. Isto implica que, nas negociações de Argel, os grupos armados signatários estejam representados pelos seus mais altos responsáveis. O mesmo vale para Bamako. Todos devem entender que o momento da verdade se aproxima.

P: Tem-se a impressão que estas negociações estão reféns da rivalidade marroquino-argelina. Parte do MNLA [Movimento Nacional de Libertação de Azawad] de Bilal Ag Cherif, muito próximo de Marrocos, não quer participar. Bamako foi forçada a pedir às autoridades norte-americanas para intervirem junto de Rabat ...

R: Não deve ser trazida essa rivalidade para a resolução da situação no Mali. Os malianos são responsáveis pelo seu próprio destino e não devem ouvir isto ou aquilo.

P: A Argélia joga o jogo?

R: Penso que sim . Os Argelinos são transparentes. É do seu interesse. Temos bons contactos com as autoridades argelinas, que reencontrei ao mais alto nível em Argel em maio último.

P: Discutiu este assunto com Marrocos?
A: Não temos de ter uma discussão sobre este tema com tal e tal. Há uma mediação argelina, que nós apoiamos.

Nesta mesma linha vai o digital francês "Maghreb Confidentiel" que na sua edição N°1141 (29-01-2015) acusa o ministro francês de querer contrariar a influencia marroquina no Sahel, citando a entrevista à "Jeune Afrique".

Em síntese: para o ministro francês da Defesa é a Argélia a potência-chave para solucionar e pacificar o Sahel e o norte do Mali, em particular. Isto significa que França recusou as iniciativas marroquinas para se imiscuir como "solucionador" desse conflito. Naturalmente, a ajuda da Argélia à França no Mali pode ter tido uma contrapartida, que é o apoio à política argelina no Sahara Ocidental. Isso explicaria que os "wikileaks do Makhzen" tivessem tido um efeito devastador no lobbypro-marroquino em França.
Se esta hipótese se confirmasse, a pergunta então seria: Que acordo podem ter Argélia e França sobre o Sahara Ocidental que possa favorecer ambos?


III. UMA CRISE QUE CADA VEZ SE ESTÁ TORNANDO MAIS COMPLEXA

Não há dúvida de que o detonador da crise foi a tentativa de deter em Paris o sinistro chefe da espionagem policial marroquina em fevereiro de 2014.
Mas como apontei nesta série de artigos, esse detonador produziu-se sobre uma base onde era claro que Hollande queria reequilibrar a política externa francesa no norte de África.
Nesse contexto, os interesses da política exterior francesa no Sahel ficariam melhor garantidos pela Argélia. E isso seria uma possível explicação do que não sabemos se algum dia será revelado: quem está (ou estava) por detrás de "Chris Coleman".


SOBRE ESTE MESMO ASSUNTO

- Sahara Occidental, derrota de Sarkozy y pánico de Mohamed VI: hay motivos (16-V-2012)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Marrocos "avançou" pouco nos direitos e aplica ‘dois pesos e duas medidas’ no Sahara Ocidental – diz o relatório 2015 da Humans Rights Watch




Rabat, 29 jan (EFE).- Os direitos humanos "não avançaram " de forma global em Marrocos em 2014, segundo o relatório da Human Rights Watch (HRW) apresentado hoje em Rabat, cujo porta-voz aludiu à política de "dois pesos e duas medidas" que o governo marroquino aplica no Sahara Ocidental, onde há uma maior restrição de liberdades.

O relatório lamenta as "poucas melhorias tangíveis, tanto a nível legal como na prática", pois a Constituição de 2011, que contem "nobres princípios", não se traduziu em leis orgânicas nem em melhoria das práticas policiais ou judiciais, assegurou Eric Goldstein, diretor-adjunto da HRW para o Magrebe e o Medio Oriente.

Assim, a liberdade de expressão está limitada pela repressão quando se trata de criticar ou pôr em questões temas fundamentais (a religião, a monarquia ou soberania sobre o Sahara), o direito de associação é negado "arbitrariamente" a certas organizações e o direito de manifestação só é permitido se estas questões fundamentais não são tocadas.

Menção especial merece o Sahara Ocidental, onde de forma sistemática se proíbe toda a reunião ou manifestação de caráter independentista, e todas as associações desse mesmo cariz são ilegais, além de serem expulsos ou impedido o acesso a observadores internacionais não convidados pelo governo marroquino (40 casos em 2014).

Todo o relatório em:

Arábia Saudita e o Dubai oferecem material militar a Marrocos




A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos ofereceram uma importante quantidade de material militar utilizado na primeira guerra do Golfo — afirma o site marroquino Le360, que acrescentam que o mesmo «está em bom estado».


A oferta inclui, pelo menos, 200 veículos (‘hummers’ e camiões de transporte)  e material militar, soube o Le360 de fontes militares.

O petróleo abre uma nova frente entre Marrocos e a Polisario




O EL PAIS refere em artigo publicado nesta quarta-feira que “duas multinacionais perfuram pela primeira vez um poço exploratório em águas do Sahara”, com a autorização de Marrocos, potência ocupante daquela que foi, até 1976, uma colónia espanhola.
Para a Frente Polisario, trata-se de um atentado e violação da legalidade internacional e uma ameaça à paz no território e na região…

Depois da desistência da Repsol em prosseguir com as prospeções em águas canárias, a polémica viaja para o sul, ainda que com muito menos ruído que no caso das ilhas. Duas multinacionais — a norte-americana Kosmos Energy e a escocesa Cairn Energy — estão perfurando um poço exploratório no Atlântico, a uns 100 quilómetros das costas do Sahara Ocidental.

Esta sondagem —autorizada por Marrocos e a primeira na história que se realiza na zona—provocou os protestos da Frente Polisario. O seu secretário-geral, Mohamed Abdelaziz, enviou segunda-feira um protesto à Organização das Nações Unidas (ONU) em que adverte que estas atividades são "uma séria provocação e uma ameaça real à paz e à estabilidade para o Sahara Ocidental e para a região do Magrebe". A organização “Ecologistas en Acción”, por seu lado, alerta que os trabalhos podem ter "consequências negativas para o frágil ecossistema marinho da zona" e "impacto sobre os recursos pesqueiros e a fauna ameaçada".

Todo o artigo em:

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Delegação saharaui participa na Convenção Nacional do Partido Popular (PP) de Espanha


  
Madrid (Espanha) - Uma delegação saharaui composta por Bucharaya Hamudi Beyun, membro do Secretariado Nacional da Frente POLISARIO e Delegado Saharaui para Espanha, e Mohamed Alí Alí Salem, Responsável de Assuntos Políticos na Missão Saharaui em Madrid, assistiu aos trabalhos da  Convenção Nacional do Partido Popular (PP) que  governa o Estado espanhol.

A Delegação Saharaui foi convidada a participar juntamente com outras delegações estrangeiras nos trabalhos da Convenção que decorreram entre 23 e 25 de janeiro.

Durante o evento, a delegação saharaui manteve encontros com Alejandro Muñoz-Alonso Ledo, Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado Espanhol, com Deputados do Congresso e Senadores.

Nesses encontros a parte saharaui informou os seus interlocutores sobre os últimos acontecimentos da causa saharaui e explicou a posição da Frente POLISARIO em relação às negociações e ao plano da ONU, tendo solicitado da Espanha que cumpra com as suas responsabilidades para com os saharauis e com a legalidade internacional.

A delegação saharaui recordou também aos responsáveis espanhóis que Espanha deve aproveitar a sua presença no Conselho de Segurança das Nações Unidas para saldar a sua dívida para com o povo saharaui e favorecer a descolonização do Sahara Ocidental mediante a realização de um referendo de autodeterminação.


Fonte: spsrasd

Desaparecidos saharauis: descoberta de três novas fossas comuns




ARGEL (APS) - Seis corpos de desaparecidos saharauis foram exumados de três novas fossas comuns descobertas recentemente por peritos espanhóis na região de Smara junto de Amgala, informou hoje o presidente da Associação das Familiares dos Presos e Desaparecidos Saharauis (AFAPREDESA), Abdesslam Omar.

A descoberta teve lugar em "novembro de 2014 por peritos científicos espanhóis, de renome internacional, que exumaram os restos mortais dos seis cidadãos saharauis descobertos em três fossas comuns em Fadret Leguiaa, região de Smara, perto de Amgala", afirmou Abdesslam Omar à APS.

Aquele dirigente disse que os "peritos espanhóis estão realizando atualmente a identificação genética dos corpos." "Trata-se de uma operação complexa que vai levar tempo", disse ele, afirmando que se "fará luz sobre a identidade dessas pessoas."

Abdesslam Omar denunciou, na ocasião, o facto da equipa médica espanhola "não ter podido estender suas investigações aos territórios ocupados por Marrocos, onde as valas comuns estão concentradas."

Denunciou, igualmente, o facto de apesar das pressões das Nações Unidas e do Parlamento Europeu, em particular, "Marrocos teimar na sua posição de recusa" em respeitar a legalidade internacional. Uma situação "que não pode continuar", disse.

O Presidente da AFAPREDESA insurgiu-se a este respeito contra a "recusa das autoridades marroquinas em permitir que as organizações internacionais possam visitar os territórios ocupados do Sahara Ocidental e dizer a verdade sobre as violações cometidas por forças marroquinas."

Segundo Abdesslam Omar, "mais de 400 saharauis estão identificados como vítimas de desaparecimentos forçados", acrescentando que muitos outros estão desaparecidos devido aos bombardeamentos da aviação marroquina em Oum Draiga, Guelta e em Tifariti em 1976.

A descoberta destas novas fossas vem juntar-se a uma outra encontrada em junho, quando oito corpos de saharauis assassinados em fevereiro de 1976 foram identificados pela mesma equipa espanhola liderada pelo Dr. Carlos Martin Beristain e o seu colega Francisco Etxeberria.

As macabras ações marroquinas já haviam sido reveladas no início de 2013 com a descoberta de duas valas comuns perto Smara, não muito longe do "muro da vergonha".


Os restos de 60 corpos, pelo menos, incluindo crianças, foram então encontrados e a identificação de nove deles tinha permitido estabelecer que se tratava de civis saharauis executados por forças marroquinas durante a invasão e a ocupação do Sahara Ocidental em 1976.

Marrocos diz que os enviados da ONU para Sahara "são [agora] bem-vindos"


Salahedín Mezouar


O Governo de Marrocos afirmou hoje que o enviado pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental, o norte-americano Christopher Ross, assim como a chefe da Missão da ONU no território, a canadiana Kim Bolduc, "são bem-vindos" e "podem reatar a sua missão na região".

Salahedín Mezouar, ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos, afirmou hoje em conferência de imprensa que o final desta crise, que durou vários meses, "foi possível graças ao esclarecimento sobre os parâmetros e o papel da MINURSO (missão da ONU para o Referendo no Sahara Ocidental)" na região.

Mezuar referia-se à chamada telefónica do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao rei Mohamed VI na passada quinta-feira para lhe transmitir que teve "devidamente em conta os comentários e observações de Marrocos" e que o país magrebino podia contar com "firmes garantias sobre a neutralidade, objetividade e imparcialidade dos responsáveis da ONU".

"Nos próximos dias" será fixada a data para a chegada de Kim Bolduc à sede da MINURSO em El Aaiún, assim como o reatamento dos périplos ou contactos diplomáticos de Ross, afirmou Mezuar.

As duas missões (a de Bolduc e a de Ross) estiveram bloqueadas durante meses por Marrocos, que exigia "esclarecimentos" sobre os limites da missão da ONU que nunca chegou a precisar em detalhe, e além disso manifestar o seu desagrado pelo facto de Bolduc ter sido nomeada à  frente da MINURSO sem que Rabat tivesse sido consultada previamente.

A canadiana Kim Bolduc foi nomeada em abril passado à frente da MINURSO e, desde então, espera o "autorização" de Marrocos para poder instalar-se no quartel-general da MINURSO em El Aaiún.

O conflito encontra-se totalmente bloqueado já que Marrocos só admite discutir um plano de autonomia para o Sahara, enquanto a Frente Polisario rejeita qualquer solução que não passe pelo referendo de autodeterminação.

Nos últimos meses, Marrocos procurou deslegitimar a Frente Polisario como interlocutor já que, segundo Rabat, é um movimento separatista que não pode ser equiparado a um Estado.

Fonte: EFE


Foto: Salahedín Mezouar, MNE de Marrocos

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Morre um preso saharaui na Prisão Negra de El Aaiún devido a torturas e maus-tratos



Cidade ocupada de El Aaiún, 27/01/2015 (SPS) – Faleceu na tarde de ontem, segunda-feira, na prisão Negra de El Aaiún, o preso saharaui Abdul Baqi Aliyen Antahah em consequência de torturas e maus-tratos às mãos dos guardas prisionais marroquinos, informam fontes do Ministério dos Territórios Ocupados e da Diáspora.

Segundo a mesma fonte, Abdul Baqi, de 22 anos de idade, cumpria uma pena de um ano e meio desde a sua detenção há um mês, mas a sua "rejeição e insatisfação com as más condições da prisão, onde diariamente se humilham os presos saharauis, foram a causa para o terem levado para uma cela de isolamento onde foi barbaramente torturado."

A mesma fonte, referiu que Abdul Baqi tinha sido torturado desde a passada quarta-feira quando foi submetido a um regime de isolamento, e desde sexta-feira encontrava-se em estado de inconsciência total e não recebeu nenhuma atenção médica, o que o levou à morte.

Com o falecimento de Abdul Baqi Anthah, eleva-se para oito o número de saharauis mortos em prisões marroquinas nos últimos dois últimos anos sem que tenha havido a mínima investigação para determinar as causas dessas mortes e castigar os culpados.

Quem matou o General Dlimi ?




32 anos depois, um sobrinho do general Dlimi dá a versão da família sobre o seu assassinato.

Hicham Dlimi, o sobrinho do general Ahmed Dlimi, morto num misterioso acidente de viação em Marraquexe a 22 de janeiro de 1983, publicou no Facebook a versão da sua família sobre a morte deste general próximo do rei Hassan II que terá sido liquidado por ter, provavelmente, atentado contra o seu monarca.

Hicham Dlimi, que vive atualmente em Paris, decidiu fazer estas revelações 32 anos após o mais que certo assassinato do seu tio, o qual, tal como o defunto tirano, Hassan II, não era flor que se cheire.

O site informativo marroquino independente « Demain Online» decidiu publicar o texto na integra de Hicham Dlimi. Vale a pena lê-lo.

Y’a 32 ans jour pour jour, mourut un grand homme qui à marqué positivement le règne du feu Roi Hassan II. Le Général Ahmed DLIMI … j’ai décider de rendre plublic le chapitre le plus douloureux de ma vie.

Tout à commencé au moment où la gauche française est arrivée au pouvoir, en Mai 81. Convaincu que le nouveau gouvernement français n’allait pas  » tendre  » à son égard, qu’il allait privilégier l’Algérie par rapport au Maroc, que ses problèmes au Sahara risquaient de s’aggraver du fait de la position officielle du PS français à l’égard des mouvements de libération, le Roi Hassan II décide de se tourner plus directement vers Washington qui lui dépêche un certain  » Colonel Attwood  » pour renforcer sa sécurité personnelle et celle de son régime.

«Pas question dit-il à son proche entourage en présence du Général Dlimi de faire confiance à l’équipe de François Mitterrand qu’elles que soient les tentatives qu’il fasse pour se rapprocher de nous, car elle choisira toujours Alger au détriment de Rabat ou de Tunis. Il nous faut en prendre acte et soit l’obliger à changer de position, soit procéder à une rupture graduelle. Selon les assurances formelles que j’ai reçu de nos amis de Washington. Ils sont prêt à se substituer à la France, dont le gouvernement leur déplaît profondément … »

Le Général Dlimi, ne semble pas particulièrement satisfait, même s’il ne s’oppose pas directement, il se contente en effet de dire au souverain qu’il ne sera pas facile de procéder à un tel virage compte tenu de la dépendance du Maroc par rapport à la France dans plusieurs domaine politique économique, culturel et surtout militaire et puis notre armée est formé à l’école militaire française et le risque de malaise au sein des officiers, notamment supérieurs est grand …

Les mois passent et la pénétration américaine s’intensifie.Mais c’est surtout les entretiens du Roi Hassan II à Washington et les décisions qu’il a prises avec le président Reagan, le secrétaire d’état George Shult, le secrétaire au pentagone Caspar Wenberger, le responsable du conseil national de sécurité, William Clark et le directeur de la CIA William Casey … qui trouble profondément le Général Dlimi, qui n’est tenu au courant ni par son souverain ni par ses collaborateurs de l’étendue des relations qu’il a décidé d’établir avec l’administration américaine.

Hicham Dlimi, sobrinho do general marroquino assassinado

Les rapports entre Dlimi et l’ambassadeur américain Joseph Verner Reed se tendent ce dernier accuse d’une manière à peine voilée mon oncle d’être tantôt profrancais, tantôt antiamericain. Les services spéciaux américain eux informent directement le Roi qu’il ait à se  » méfier  » de son proche collaborateur. Et l’orsque le Général Dlimi connu pour sa droiture et son franc parler, accuse le gouvernement américain de n’avoir pas  » respecté  » tous ses engagements de soutien militaire au Maroc et de vouloir lui imposer une alliance politico-militaire en utilisant ses bases, ses ports, ses aéroports pour ses forces de déploiement sans véritable contre-partie qui pourrait aider le pays a surmonter sa grave crise économique et sociale et lui assurer une supériorité militaire. Le Roi se fâche.

Mis en alerte par les soins de la CIA et de son chef, William Casy, qui a déjà signé la sentence de mort de Dlimi et décidé de le faire exécuter par Hassan II.

Que se passe t’il avec Dlimi, s’inquiète le Roi ? Va t’il suivre l’exemple d’Oufkir ? Va t’il préparer un coup d’état militaire avec les centaines d’officiers supérieurs qui lui sont fidèles depuis qu’il a pris le commandement des forces armées du Sahara ? Aurait il par hasard des contacts  » secret  » avec les français, surtout les anciens officiers supérieurs du SDECE, l’actuel DGSE ? autant de questions qui assaillent le Roi et qui marquent en Octobre 1982 le début de la  » crise Dlimi  » et l’amorce du plan visant à l’éliminer du pouvoir.

Comment ? Le nommer membre du gouvernement royal ? L’envoyer comme ambassadeur dans un poste lointain ? Le décharger de ses responsabilités en lui accordant de nouvelles fonctions qui n’aient rien à voir ni avec les services secrets qui a lui même créé sur le modèle américain et ni avec l’armée ? Peut être mais quel serait la réaction de l’armée ? Notamment celle de centaines d’officiers supérieurs qui ne sont satisfaits, ni de l’impasse dans laquelle se trouve l’affaire du Polisario ni de ce virage proamericain qui les inquiète d’autant plus qu’ils savent qu’il est fortement influencé par le Roi Fahd et les Ryals Saoudiens.

Hassan II décide alors que seule l’élimination physique du Général Dlimi lui assurera la tranquillité d’esprit et le permettre de poursuivre sa collusion totale avec les américains. En outre, des  » rumeurs  » soigneusement téléguidées par le chef de la station de la CIA à Rabat lui laissent entendre que le gouvernement Algérien placerait  » certains espoirs  » dans le Général Dlimi.

Dans les services secrets français, certains milieux qui sont encore en place et qui doivent beaucoup à Dlimi, l’invertissent en Octobre dernier au cours d’un voyage à Paris de la volonté du Roi de le liquider …

Car Hassan II à pris sa décision: Dlimi doit disparaître, mais il ne peut pas échauder de toutes pièces  » un complot  » crédible aux yeux de l’opinion surtout l’armée … ce sera donc  » l’accident  » d’avion ou de voiture. A deux reprises, le jet de Dlimi échappe à un sabotage, l’escorte du Général découvre dans la soute de son avion une charge explosive avec détonateur altimetrique. En Décembre, en plein vol, voilà que le pilote observe une défaillance dans le système hydraulique. Quelques jours avant Noël, Dlimi projette de prendre un M 133 ( véhicule blindé tout terrain fortement armée ) pour se rendre sur la barrière de sécurité protégeant la zone utile du Sahara, voulant visiter d’autres postes, il choisit au dernier moment de voyager en hélicoptère mais il demande que le M133 vienne le rejoindre par la route. Une heure après le départ du M133, le blindé explose tuant tous les occupants. Dlimi mettait tout ça officiellement sur le dos du Polisario mais il se savait visé … comme patron de la DGED, il n’ignorait rien de ce qui se disait sur lui au palais … dans la cour et les ministères.

Mon oncle fut convoqué à Marrakech moins de 24h de l’arrivée pour une visite d’état du président de la république française le Mardi 25 Janvier 1983 afin d’endormir sa méfiance … Mon oncle rencontre Hassan II sur le terrain du golf, t’es témoins observent que le ton monte … Dlimi gesticule de façon peu protocolaire … vers 17h 30, ils rejoignent le palais royal dans la vieille ville à l’intérieur des remparts. Tout prêt de là au palais de la bahia ( dans le mellah ) souvent utilisé par le défunt prince Moulay Abdallah, trois hommes branchent un émetteur récepteur et sur une petite table un haut parleur relié à un micro caché dans le palais royal. Le haut parleur leur permet de suivre la conversation entre Hassan II et Dlimi. Le trio, Basri-Moulay hafid-Mediouri sont à l’écoute …

Vers 17h 30, mon oncle quitte le palais, le trio donne à la voiture de le filer, puis ils mettent en alerte deux groupes d’agents secrets, qui attendent leur ordres à bord de deux camionnettes garés à la sortie de Marrakech. Le premier est posté sur la route qui mène à Rabat, le second près de la maison de mon oncle caché en pleine palmeraie. La Mercedes blindé sort de la vieille ville par la porte de nkob et longeant les remparts, laisse sur sa gauche l’avenue des USA. Elle roule vers la route de Fez, c’est le chemin que Dlimi emprunte habituellement pour rentrer chez lui. Tenu en courant par la voiture radio. Le trio ordonne à la camionnette posté près de chez le Général Dlimi de passer à l’action … ils ordonnent aussi à la gendarmerie royal de se rendre chez Dlimi pour contrer un  » projet d’attentat contre le Général «

Quand la Mercedes du Général quitte la route pour s’engager dans la palmeraie, la camionnette planquée à proximité se met en route tous feux éteins. La Mercedes prend un virage assez serré et voir la camionnette de loin qui fonce vers elle … la poudre s’est fait sentir … Le Guerrier Sarahoui de la puissante Tribu Ouled Dlim attrape une grenade incendiaire et la balance par le toit ouvrant de sa voiture blindé et la camionnette explose mais le périmètre est investi par une armada de commando et Dlimi est mort la tête haute avec les armes à la main criblé de balles au point de rendre l’identification du corps presque impossible … Hassan II est venu sur place et a pris sa tête entre ses mains en disant  » y’a latif y’a latif « .

Le Général à eu des funérailles nationale avec le prince héritier et le frère du Roi le prince Abdallah en tête du cortège et le gouvernement en son entier et une foule considérable au milieu d’une intense émotion. Le Roi Hassan II est venu nous présentée ses condoléances à la maison du Général à Rabat est fut accueilli par mon défunt Grand père Haj Lahcen Dlimi.

Repose en paix mon oncle

Hicham Dlimi

Fonte: DEMAIN Online (site informativo independente marroquino)

Wikileaks Mahkzen (V): graves segredos do regime marroquino postos a descoberto

 
Gustavo de Arístegui, diplomata e político espanhol do PP, atual embaixador de
Espanha na Índia, e a sua esposa, 
Nadia Jalfi, agente dos serviços secretos marroquinos

Artigo do prof. Carlos Ruiz Miguel, Catedrático de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela, autor de inúmeros livros e artigos em revistas espanholas e estrangeiras sobre matérias relacionadas com o Direito Público e Relações Internacionais e, justamente, considerado um perito na questão do Sahara Ocidental

O misterioso "Chris Coleman" publicou documentos sobre as atividades do serviço secreto marroquino em Espanha e Itália. A 19 de janeiro "Coleman" tornou público um pacote de 149 correios eletrónicos (com os seus correspondentes anexos) cuja protagonista é, nada mais, nada menos, que a atual esposa do Embaixador de Espanha na Índia que, na época dos mesmos, era noiva/esposa dessa pessoa quando era porta-voz do grupo Popular na Comissão de Negócios Estrangeiros do Congresso dos Deputados. Passados oito dias, parece que o assunto não mereceu a atenção dos jornalistas espanhóis, incluindo os que, nalgum momento, escreveram sobre "Coleman". E no entanto, o assunto é de suma importância, pelo que me permito, oito dias depois, escrever sobre o tema. Que o leitor julgue por si mesmo se o tema é de interesse @Desdelatlantico.


I. QUEM É QUEM NOS EMAILS FILTRADOS POR CHRIS COLEMAN: DRAMATIS PERSONAE

Para entender a gravidade dos documentos revelados por "Chris Coleman" na sua conta de twitter, pouco antes de ser suspensa, convém esclarecer quem é quem na história destes novos documentos.

DGED: Direção Geral de "Estudos" e de "Documentação", o serviço de espionagem exterior do Reino de Marrocos.

Yasín El Mansuri: diretor da DGED.

Murad El Gul ("Mourad el Ghoul" na língua francesa): chefe de gabinete do diretor do serviço de espionagem exterior do Reino de Marrocos (a DGED). Seus principais contactos, pelo revelado até agora, são Ahmed Charai e Nadia Jalfi.

Ahmed Charai: jornalista marroquino e "empresário" que tratava de influenciar nos media franceses e norte-americanos por conta da DGED.

Richard Miniter: "jornalista" norte-americano que recebia favores do regime marroquino a quem apoiava nos seus artigos. O contacto de Miniter era Charai.

Nadia Jalfi: agente da DGED noiva e atual esposa de Arístegui.

Gustavo de Arístegui: diplomata e político espanhol, atual embaixador do Reino de Espanha na Índia e porta-voz do Grupo Popular na Comissão de Negócios Estrangeiros do Congresso dos Deputados nas datas referidas nos emails filtrados por "Coleman" (2008-2011).


II. AS GRAVÍSSIMAS REVELAÇÕES SOBRE NADIA JALFI NOS DOCUMENTOS FILTRADOS POR "COLEMAN"

Até agora, o protagonista número 1 dos "papéis de Coleman" era Murad el Gul (Mourad el Ghoul). Pode-se afirmar que o protagonista número 2 desses "papéis", até agora, era Ahmed Charai. Sobre o papel de Charai, versaram os primeiros documentos filtrados por Coleman e que foram objeto de análise neste blog no primeiro texto dedicado ao tema, publicado a 10 de outubro de 2013. Esse artigo,volto a repetir, foi a primeira  análisepublicada a nível mundial sobre os "papéis de Coleman": os "wikileaks do Mahkzen".

No dia 19 de janeiro, "Chris Coleman" publicou um twitte  com um link aos documentos sobre Nadia Jalfi. Esse link foi censurado por Marrocos. No dia seguinte, 20 de janeiro, Coleman volta a publicar outro twitte com um novo enlace que continua ativo, neste momento, embora o Twitter tenha suspenso a conta de "Coleman" pois o referido enlace está alojado noutra página web. Até ao momento, ninguém negou a autenticidade destes documentos. Entre os que defenderam com veemência a autenticidade destes documentos está o jornalista espanhol Ignacio Cembrero que afirmoutextualmente:

"Estamos absolutamente seguros da autenticidade dos telegramas diplomáticos: não houve desmentidos por parte das autoridades marroquinas que nem sequer disseram que os telegramas teriam sido manipulados (…) Em relação aos outros documentos, tenho igualmente tendência a crer que eles são autênticos"

O referido link contem 149 email trocados entre Nadia Jalfi e Murad el Gul com os seus correspondentes anexos. A relação de Jalfi com Gul é fluida e, inclusive, em vários emails de 2 e 24 de junho de 2008 sugere-se que pode ter havido algo mais por uma ou pelas duas partes.

O exame destes email revela que Jalfi:
1) não só tem um papel "passivo" (é solicitada pela DGED a transmitir mensagens do serviço secreto marroquino à opinião pública de países como a Espanha)
2) mas que também tem um papel "ativo" (organiza viagens ao Sahara ocupado a determinados jornalistas, toma iniciativas para transmitir a mensagem “adequada”, gere visitas a Marrocos ou ao Sahara Ocidental ocupado e realiza relatórios que envia ao serviço secreto).

1) Nadia Jalfi encarregada pela DGED da "mediatização" das mensagens do serviço secreto marroquino.
Um email enviado por Gul a Jalfi a 3 de março de 2011 desfaz as dúvidas quanto aos objetivos. Nesse email Gul envia a Jalfi certos documentos para que assegure a “mediatização desta documentação junto dos seus contactos jornalísticos e mediáticos.”.
Não é o único email em que Murad El Gul, o chefe de gabinete de Yassín Mansuri (o diretor da espionagem exterior marroquina, a DGED), se dirige a Nadia Jalfi para lhe solicitar a “mediatização” de mensagens que a DGED quer fazer chegar à opinião pública de distintos países do máximo interesse para o regime alauita. Vários desses emails (18-12-10, 4-01-11 ) versam sobre a mediatização de suspeitas "informações " sobre a suposta “implicação” da Frente Polisario nas atividades da chamada AQMI (a Al Qaida do Magrebe Islâmico). É necessário recordar que esta acusação foi oficialmente desmentida pelo coordenador de Anti-Terrorismo do Departamento de Estado dos EUA, Daniel Benjamin, de forma oficial e pública, a 17 de novembro de 2010 negando que a Frente Polisario tivesse qualquer implicação nasatividades terroristas na região do Sahara Ocidental e do Sahel.

Entre os 149 emails chama particularmente a atenção um de 9 de março de 2011. E chama a atenção porque Gul faz chegar num ficheiro anexado a versão em espanhol do discurso que Mohamed VI pronunciou nesse mesmo dia, após as manifestações da oposição iniciadas a 20 de fevereiro de 2011. É óbvio que Gul envia o discurso em ESPANHOL não para que os destinatários o conheçam, pois é óbvio que já o conheciam e, na verdade, eles se comunicam em francês... logo, se fosse um email SÓ para que os seus destinatários o conhecessem enviaria a versão francesa do discurso... Mas o mais chamativo é que o email de Gul com a versão espanhola do discurso de Mohamed VI se dirige a Jalfi... e a Said Ida Hassan. E quem é Said Ida Hassan? Pois é um personagem  que aparece una segunda análise publicadaneste blog sobre os wikileaks do Mahkzen... onde recordei que

A sentença da Audiência Provincial de Madrid de 21 de janeiro de 2008, certificava as relações entre a MAP [Agência noticiosa marroquina] (em que trabalhava Said Ida Hassan, que é uma das partes do caso que envolve esta sentença) e o serviço secreto exterior do Mahkzen (a DGED).

Aliás, uma sentença do Juízo No. 4 de Almeria, confirmada pela Audiência Provincial de Almería, condenou Said Ida Hassan e a MAP por violar a honra do jornalista independente marroquino Ali Lmrabet.


2) Nadia Jalfi organizadora de viagens de propaganda ao Sahara Ocidental ocupado
Nadia Jalfi está longe de ser, segundo os emails, uma mera “transmissora” das instruções da DGED pois, segundo os documentos, organizou viagens ao Sahara ocupado a determinados jornalistas.

Num email de 11 de junho de 2008, dirigido a Gul, Jalfi, fala do programa que preparou para dois jornalistas italianos, Alberto Negri e Laura Maragnani, para que visitem o Sahara Ocidental ocupado entrevistando-se com elementos favoráveis à ocupação.
Algo parecido ocorreu com outro artigo publicado a 30-07-08 no "Il Resto del Carlino" por Guido Bandera.

Em vários emails (6-10-08, 13-10-08, 15-10-08, 16-10-08, 27-10-08, 24-11-08, 17-12-08 e 18-12-08) trocados com o jornalista italiano Rodolfo Casadei (que ela sempre reenvia a Gul). Após a viagem organizada por Jalfi este jornalista publicou a 27 de novembro de 2008 na publicação "Tempi" um artigo cheio de inexatidões que, obviamente, lhe foram transmitidas pelas pessoas com quem Jalfi organizou o "programa". As palavras de Jalfi a Casadei são:

Sugiro que se viaje a Marrocos entre 04 e 09 de novembro de 2008. Isso permitirá que esteja presentes no meu país e, mais particularmente, em Laayoune, capital das nossas províncias do Sul, durante as celebrações comemorativas da Marcha Verde a 06 de novembro.

Dos emails deduz-se que o trabalho de captação em Itália contou con a valiosa colaboração de Manuela Indraccolo e de Giorgia Rossi, da agência de lobby “RETI Media Affairs” (www.retionline.it) embora seja provável que estas duas pessoas desconhecessem a ligação de Jalfi à DGED. Com efeito, elas só escrevem a Jalfi e é Jalfi quem reenvia os seus emails a Gul, mas elas nunca têm relação direta com Gul e provavelmente desconhecem que o seu trabalho é conhecido e avaliado pela DGED (assim se depreende do relato de Gul a Jalfi de 25-07-08).

Os objetivos destas viagens organizadas por Jalfi ficam totalmente claros no email de 28 de fevereiro de 2008 a propósito do pedido do jornalista Bénédicte Delfaut da TF1 para fazer uma reportagem sobre o terrorismo em Marrocos. Nele Jalfi diz a Gul:

“A natureza do projeto e do seu autor, permite-nos avançar que será possível controlar a operação do princípio ao fim e simultaneamente transmitir a mensagem adequada.
Cordialmente"

3) Nadia Jalfi sugere nomes à DGED
Nadia Jalfi também intervem para solicitar ao serviço secreto o convite a indivíduos de França, Itália ou Reino Unido para eventos como o “Troféu Hassán II de golf”, a taça “Lalla Meryem” de golf ou o “Festival Internacional de Cinema de Marraquexe”. Igualmente se dirige a Gul anexando-lhe os bilhetes de avião que compra para diversas pessoas que voam de Espanha, França, Estados Unidos… Assim se depreende de numerosos emails (19-11-09,04-12-09, 12-2-10).


III. E ISTO NÃO É TUDO....


Não sei se da leitura do acima descrito o leitor considerará que este é um tema de interesse para a opinião pública. Mas se houvesse alguma dúvida a esse respeito, acrescentaremos mais informação num próximo artigo, se Deus quiser.


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