Antonio Velázquez, um jovem mexicano, solidário com a luta
do povo saharaui, viu nascer no meio do deserto aquele que viria a ser o acampamento
da dignidade saharaui: Gdeim Izik. Durante um mês viveu essa experiência,
irmanado com cerca de 20 mil saharauis, de todas as idades, naquela que viria a
ser a maior manifestação pacífica na história do Sahara Ocidental. Durante esse tempo alí viveu, até o acampamento ser violentamente destruído pelas forças
militares e policiais marroquinas. Eis o seu testemunho
Levantava-se a primeira “jaima” (tenda tradicional dos
nómadas do deserto) no meio do deserto do Sahara Ocidental. E com ela se
ergueram os sonhos de milhares de saharauis que, desde há 38 anos, gritam ao mundo
pela liberdade; nestes tempos em que o mundo está surdo, cego e desapiedado de
coração, devido ao poder de uns quantos. As saharauis e os saharauis abandonaram
as suas casas nas cidades ocupadas por Marrocos para montar um acampamento que,
dias depois, se converteria na maior manifestação pacífica na história do Sahara
Ocidental; o acampamento de Gdeim Izik.
Embora tenha sido desmantelado violentamente pelos militares,
quase um mês após o seu início, com este acampamento as mulheres e os homens saharauis
conseguiram mostrar ao mundo que estão unidos, que são uma mesma voz, que estão
dispostos a continuar lutando para conseguir o seu objetivo de liberdade total.
Gdeim Izik; significa um antes e um depois no conflito do Sahara Ocidental, marcando
profundamente um anseio comum, dando uma lição para as gerações mais jovens, um
‘respirar’ da repressão quotidiana do regime marroquino.
A recordação de Gdeim Izik é doce, intensa, e também triste,
onde a esperança acariciou os mais belos sonhos de um povo que continua à
espera que, em breve, verá crescer a semente da independência. Essa semente;
regada e cuidada com ações pacíficas para reivindicar o simples direito de
existir como saharaui.
Atualmente, muitos dos meus companheiros que estiveram nesse
acampamento estão privados da sua liberdade. Para eles e para as suas famílias,
o meu amor, o meu respeito e reconhecimento. Estão presos porque a sua razão e
os seus ideais são um motor para todas e todos os saharauis e amigos da sua causa.
Mas eles estão livres entre nós e dentro de nós, são ativistas defensores da verdade
e, mais cedo que tarde, estarão desfrutando de um grande Gdeim Izik, no Sahara
Ocidental livre.
Não existe sentimento que aglutine tantas sensações, como é
o resistir e estar a ponto de conseguir a vitória; isso foi Gdeim Izik.
Quando falo de resistência saharaui, refiro-me à poesia do
deserto, ao olhar dos anciãos, ao sorriso das crianças, à música militante que
deu colorido ao sacrifício de estar em Gdeim Izik. Sacrifício que qualquer um
de nós, que ali estivemos, voltaríamos a viver.
Escrito por Antonio Velázquez, mexicano, membro do acampamento
Gdeim Izik.
Para conhecer a história de Gdeim Izik, recomendo este
documentário de 27 minutos:
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