Será a primeira vez que um enviado da ONU visita El Aaiún. Ross
visitou os acampamentos de refugiados saharauis em Tindouf (Argélia), tal como
os seus antecessores, o holandês Peter Van Walsum e o norte-americano James
Baker, mas nunca esteve no Sahara, nem na zona controlada por Marrocos, onde se
localiza El Aaiún, nem na zona controlada pela Polisario.
Ross não tornou público o programa da sua viagem à ex-colónia,
mas segundo as fontes consultadas, é quase seguro que mantenha contactos tanto
com as autoridades marroquinas como com responsáveis de organizações de direitos
humanos saharauis.
A Frente Polisario mostrou a sua satisfação com facto de Ross
poder recolher informação em primeira mão sobre o terreno e considera isso uma vitória
depois de Rabat ter tentado vetá-lo no passado mês de maio. Os independentistas
entendem, em todo o caso, que as autoridades marroquinas tratarão de controlar a
agenda do enviado mas que os ativistas saharauis também conseguirão arranjar
formas de lhe expressar as suas inquietações. Nenhuma das fontes consultadas afirma
entender uma visita a El Aaiún de Ross sem que ele mantenha contatos com os ativistas
saharauis.
Além de lhe expressarem o seu direito a que seja concluído processo
de autodeterminação, paralisado desde o tempo da presença espanhola, essas inquietações
centrar-se-ão, em particular, em torno da situação dos direitos humanos, que a
própria ONU reconhece a violação sob a autoridade marroquina.
Em qualquer caso, a MINURSO (a Missão da ONU para o
Referendo no Sahara Ocidental deslocada desde 1991 no território), não inclui
entre as suas atribuições o monitoramento dos direitos humanos. Esta é a grande
reivindicação que vêm fazendo há vários anos os saharauis num conflito considerado
de baixa intensidade, em que a vigilância do cessar-fogo que a MINURSO tem como
função é vista hoje pelos saharauis como uma tarefa ineficaz face aos numerosos
distúrbios que ocorrem diariamente e que não são considerados um quebrar do
cessar-fogo.
Um claro exemplo disso foram os dramáticos acontecimentos vividos
em El Aaiún e nos seus arredores em 2010, os mais graves ocorridos em décadas. O
desalojamento pelas Forças de Segurança de Rabat de um acampamento de protesto com
dezenas de milhares de saharauis acabou com a morte de 13 pessoas, dez das
quais eram agentes marroquinos. De igual modo, a ONU considerou que não tinha mandato
para atuar durante os meses da denominada Intifada Saharaui em 2005.
A ex-colónia espanhola foi ocupada por Marrocos com a Marcha
Verde de 1975 ainda que as últimas autoridades espanholas só tenham abandonado
o território em fevereiro de 1976. Quase quatro décadas depois as ruas de El
Aaiún, a capital do território, continuam a ser com frequência cenário de
distúrbios entre a população local e as Forças de Segurança do reino alauita.
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