Carro de garimpeiros atingido pelo fogo marroquino |
Por Jesús Cabaleiro Larrán -10/01/2021 - Periodistas en español - A atual guerra do Sahara, iniciada a 13 de novembro de 2020, desde a ocupação ilegal por Marrocos do trecho da estrada entre Guerguerat e a Mauritânia, continua apesar do silêncio dos media.
Marrocos violou então o acordo de cessar-fogo estabelecido em 1991 ao invadir uma área [desmilitarizada e aceite pelas duas partes] e por construir postos militares, quebrando assim o que fora assinado [com a ONU]. A reação da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) foi também iniciar hostilidades bélicas ao longo de todo o muro.
Recorde-se que muito pouca informação se conhece sobre esta guerra de desgaste, neste momento, apenas os relatórios de guerra diários do exército saharaui e a confirmação feita pelas Nações Unidas em duas ocasiões de trocas de tiros e fogo de artilharia em torno do muro.
Por parte de Marrocos, em fóruns e publicações militares fala-se de "ataques hostis" e "provocações" ao muro que divide o território saharaui sem fornecer muitos mais dados.
[Marrocos] Também relatou a presença de altos oficiais militares na área do muro perto de Mahbes, mas justificando isso como uma inspeção às tropas ali implantadas.
A verdade é que, de uma forma ou de outra, há um confronto, sejam ataques, trocas de projéteis ou tiros ... ao longo do muro marroquino do Sahara, uma verdadeira guerra de desgaste, embora muitos meios de comunicação prefiram fazer ouvidos moucos.
Tropas mauritanas de patrulha |
Obviamente, devido à pandemia, não há presença de jornalistas internacionais que atestem o que realmente se passa numa zona que, recorde-se, é deserta e que, além disso, tem nada menos que 2.700 quilómetros, onde existem oito postos defensivos marroquinos. Os dados são, portanto, escassos.
Mas existem factos indiscutíveis sobre a existência do conflito armado e vêm do país vizinho e espectador privilegiado de toda esta longa disputa territorial da qual, até 1979, foi também protagonista.
Trata-se da Mauritânia, que acaba de aprovar que sua fronteira próxima ao Sahara seja declarada militarizada, impedindo a livre circulação de veículos e pessoas exceto com autorização especial, aumentando também a sua presença militar.
Medida semelhante ao que já está a acontecer na fronteira com a Argélia, no Sahel, declarada "zona militar" há anos, proibindo assim a presença de civis sem autorização.
Esta declaração foi feita após o segundo ataque marroquino ao território da Mauritânia desde o início da guerra silenciada no Sahara Ocidental.
Mas neste sábado, 9 de janeiro, ocorreu o terceiro e último ataque, quatro projéteis lançados pelo exército marroquino atingiram território mauritano, perto da cidade de Bir Mogrein, que tem cerca de 2.600 habitantes, localizada a cerca de 40 quilómetros da muralha militar marroquina. Em princípio, não há vítimas.
Há poucos dias, no dia 4 de janeiro, dois projéteis de artilharia lançados pelo Exército marroquino também caíram numa área civil próxima à mesma cidade, segundo a mídia digital mauritana.
Dois projéteis alcançaram então esta área onde dezenas de mauritanos exploram uma mina de ouro perto de Bir Mogrein. As autoridades alertaram a população para não se aproximar da fronteira e não acender as luzes à noite.
Anteriormente, já o exército mauritano havia confirmado, na quarta-feira, 23 de dezembro de 2020, uma troca de tiros "por engano" com as forças de segurança marroquinas na fronteira, destacando que o incidente havia terminado "sem baixas".
O evento ocorreu perto de Inal — uma pequena localidade de 3.600 habitantes, localizada próxima à linha férrea entre Nouadhibou e Zouerat [minas de ferro] — e nele participou uma patrulha mauritana que "perseguia um grupo de traficantes" e foi baleada pela parte marroquina à qual respondeu, quando se aproximou de uma zona defensiva do muro e foi considerada como "uma força hostil”.
Estes acontecimentos, também divulgados em Marrocos, embora justifiquem os dois últimos, a luta contra os contrabandistas, num caso, e os garimpeiros, noutro, por não quererem vinculá-los aos "ataques hostis" ao muro por parte da Frente Polisario, mostram a clara tensão militar que existe nesta região. Três incidentes em quinze dias não são acidentais e mostram que existe um conflito bélico.
Quanto à diplomacia, Marrocos continua a gozar do reconhecimento da declaração da sua soberania proferida pelo ainda presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e até quis estendê-la quando um órgão da NATO publicou um mapa com o Sahara incluído.
A imprensa marroquina rapidamente destacou este facto mas, como aconteceu no caso do alegado reconhecimento de El Aaiún pela UNESCO, esqueceu-se de mencionar a posterior correção por parte da Aliança Atlântica. É que as retificações que não agradam, escondem-se, como outros factos incontestáveis, os falsos mapas que recolhem todo o território saharaui sob controlo marroquino ou a sua inexistente presença na cidade de La Guera [no extremo sul do SO, face à cidade mauritana de Noudibhou].
Por fim, no caso dos consulados fantasmas em território saharaui, há que ler a própria imprensa marroquina, a escassa que é crítica e investiga o assunto, e que reflete toda a rede de interesses e subornos tecida pela diplomacia da Makhzen para que os países africanos abram os seus supostos escritórios diplomáticos com nula atividade depois do cortar da fita inaugural.
Países pobres e pequenos como a Guiné-Bissau, Djibouti, São Tomé e Príncipe ou as Ilhas Comores têm consulado no Sahara, embora não tenham ali nacionais e não tenham representação diplomática em nações mais proeminentes, mas recebem investimentos e prebendas de todos os tipos da parte do reino cherifiano.
A reportagem, insisto, não provém da imprensa espanhola "hostil e provocadora" — como costumam denominar os meios de comunicação controlados pelo Makhzén e seus acólitos todos aqueles que não reconhecem a sua soberania sobre o Sahara —, mas sim de um jornal digital marroquino .
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