segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Depois do relatório do RFK Center, Hillary Clinton coloca pressão sobre Marrocos



Mais uma vez foi dado ao Reino Alauita um aviso sério e grave sobre as suas sistemáticas violações dos direitos humanos nos territórios ocupados saharauis. Com a agravante: a ‘bofetada na cara’ foi dada pelos seus amigos norte-americanos.

Como diz o velho ditado "poupa a vara e estraga a criança"! O Departamento de Estado dos EUA enviou ao Congresso um relatório condenando a violação dos direitos humanos por parte de Marrocos no Sahara Ocidental. A situação levanta "sérias preocupações", ressalta amplamente o relatório do Departamento de Estado norte-americano.

Este relatório foi apresentado a pedido explícito do Congresso dos EUA, que adotou uma lei em dezembro de 2011 exigindo ao Departamento da Sra. Clinton para elaborar todos os anos uma avaliação dos direitos humanos nos territórios ocupados. Mais ainda: o Congresso dos EUA decidiu que todos os auxílios concedidos a Marrocos fossem subordinados ao rigoroso respeito pelos direitos humanos.

Temos de confiar que o relatório apresentado pelos serviços Sra. Clinton é mais preocupante do que reconfortante para "nosso amigo, o rei" (Nota: alusão ao livro de Gilles Perrault “Notre Ami, Le Roi”) . Lendo este documento, uma cópia do qual foi difundida hoje pela APS, podemos ver que o Marrocos ultrapassou em muito os limites.

O Departamento de Estado dos EUA constata e sublinha prima facie que "o Sahara Ocidental é um território não autónomo sobre o qual Marrocos reclama soberania, uma posição que não é aceite pela comunidade internacional". É uma forma clara de notificar o reino que o seu pedido de anexação é nulo e sem efeito.

Uma bofetada na cara do Makhzen

É recordado igualmente que o Conselho de Segurança da ONU havia estabelecido em 1991 a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO) "para permitir ao povo do Sahara Ocidental escolher entre a independência e a integração no Reino de Marrocos".
Hillary Clinton

Na verdade, o plano de autonomia marroquino contradiz esta afirmação dos EUA. Especialmente tendo em vista o facto de que o Departamento Sra. Clinton enfatiza que "os Estados Unidos, recentemente, renovaram o seu apoio à MINURSO através da adoção da Resolução 2044 do Conselho de Segurança da ONU em abril deste ano".

O documento mostra que este famoso referendo "nunca teve lugar e o Sahara Ocidental continua, de facto, sob a autoridade administrativa marroquina e isso acontece apesar do facto de Marrocos não ser reconhecido pela ONU como potência administrante do Sahara Ocidental".

Em conclusão, os Estados Unidos privam implicitamente o Makhzen de toda a cobertura política na sua vã tentativa de legitimar a sua colonização. Em relação à situação no terreno, o reino leva mais uma vez uma ‘reguada’ sobre os nós dos dedos do seu "aliado" americano.

 Rabat foi longe ao violar as regras

O Departamento de Hillary Clinton informou, pois, o Congresso dos EUA que "a situação dos direitos humanos nos territórios saharauis levanta uma série de preocupações graves, incluindo restrições à liberdade de expressão e de reunião, o uso de detenções arbitrárias e abusos físicos e verbais contra os detidos no decurso das suas detenções e encarceramentos".

E sobre a liberdade de expressão saharaui? O relatório observa que Marrocos considera as reivindicações a favor da independência do Sahara Ocidental como "um delito grave contra a segurança".

"Como tal, existem contínuas restrições, nomeadamente aos direitos de reunião pacífica e sobre as publicações que clamam pela independência ou por um referendo com a independência como uma opção", verifica o Departamento de Estado dos EUA. Na mesma linha, deve-se salientar que "quaisquer manifestações sobre direitos humanos ou qualquer demonstração especificamente a favor da independência do território saharaui são estritamente proibidas por lei em Marrocos".

Este documento "escaldante" sublinha também que "as pessoas presas por terem protestado contra a integração do Sahara Ocidental no Reino de Marrocos, nem sempre tiveram um julgamento público e justo". O relatório refere ainda que a "distribuição de panfletos pedindo a independência do Sahara Ocidental ou um referendo com a independência como uma opção é proibida".

O rude despertar dos EUA

O relatório dos EUA afirma também que "a lei marroquina proíbe os cidadãos de expressar a sua oposição à posição oficial do governo sobre o Sahara Ocidental". Nesta base, o relatório aponta que "a maioria dos meios de comunicação e blogs praticam a auto-censura sobre esta questão", enquanto "os blogueiros que suspeitam estar a ser espiados de perto pelas autoridades marroquinas chegam a " esconder a sua identidade".

Capitólio, sede do Congresso dos EUA

O Departamento de Estado dos EUA lembra as conclusões a que a delegação do Robert F. Kennedy Center for Justice (RFK Center) chegou ao descrever no seu relatório "graves violações de direitos humanos cometidos no Sahara Ocidental". O Departamento de Estado dos EUA, por último, observa que o governo marroquino segue "procedimentos rigorosos que limitam drasticamente a capacidade de ONGs e ativistas encontrarem com jornalistas".

O Departamento da Sra. Clinton informa ainda o Congresso dos EUA que Marrocos "recusa" a presença permanente de um escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos ou um mecanismo de direitos humanos como parte do mandato da Missão das Nações Unidas (MINURSO).

Também deve ficar claro que é à luz deste relatório que a Casa dos Representantes dos EUA e do Senado vão decidir se devem ou não conceder ajudas financeiras ao governo marroquino. A leitura deste relatório condenatório mostra que o reino não tem agora margem de erro.

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