sábado, 22 de dezembro de 2012

O jovem Said Dambar foi assassinado há dois anos - Aminatou Haidar fala da sua morte




 "as vítimas saharauis não são passivas, lutamos para desafiar a impunidade das forças de segurança marroquinas".
  
Após o ataque e a destruição do acampamento de Gdeim Izik, durante a madrugada do dia 8 de novembre de 2010, grupos de jovens saharauis tiveram uma reação espontânea de raiva, impotência e ira sem precedentes na história do Sahara Ocidental. “É verdade que se produziu uma resposta violenta, com muitos incidentes, contra todo aquilo que representava o Estado marroquino, não só em El Aaiún, mas em muitas outras cidades do Sahara ocupado, mas era uma resposta provocada pela frustração que acumula o meu povo contra a arbitrariedade com que actuaram os marroquinos no Acampamento da Dignidade”, afirma Aminetu Haidar, a mais destacada e conhecida ativista defensora dos Direitos Humanos da causa saharaui.

Marrocos ordenou então toda um drástico role de medidas de força e opressão contra a população saharaui, argumentando a necessidade de “travar a escalada de extrema violência” que se estava produzindo na capital do Sahara Ocidental. As invasões e buscas de domicílios, as detenções arbitrárias, a introdução de um toque de recolher a partir das 19 horas, as tortura, agressões e espancamentos por parte da polícia marroquina e militares estavam na ordem do dia. Houve muitas vítimas de diferentes características, mas o caso mais chocante e dantesco foi o do jovem Said Dambar,  de 26 anos, que foi baleado na cabeça por um polícia no dia 22 de dezembro de 2010, durante o toque de recolher em El Aaiún.

Como relatam responsáveis do Centro RFK no livro "El Oasis de la Memoria", "às 3 da manhã do dia 22 de dezembro, a polícia chegou à casa dos seus pais pedindo os seus documentos de identidade, alegando que ele tinha batido num polícia. Na altura, a polícia não informou a família que ele já estava morto, nem que o seu corpo estava sob custódia policial.

Em vez disso, foram informados de que Said tinha uma lesão no braço e que estava no hospital a receber tratamento. A família Dambar esperou várias horas no hospital, sem saber se ele estava vivo ou morto. A 23 de dezembro, Said Dambar foi oficialmente declarado morto e a família pôde apenas ver a sua cabeça: tinha um ferimento de bala no centro da testa. A família recebeu relatos contraditórios sobre o que aconteceu em 22 de dezembro. "

Cumprem-se dois anos desde o seu assassinato e e família Dambar não teve ainda acesso à sua história clínica, porque o hospital Bem El Mehdi Ben não lho entregou. E também não poderá vir a saber saber as circunstâncias da morte de Said, uma vez que, em junho passado, as autoridades marroquinas invadiram a casa da mãe de Sai Dambar, Jira Ahmed Embarek, para lhe entregar um documento emitido em 04/06/2012/ pelo Gabinete do Procurador Geral do Rei e do Tribunal de Apelações, informando que os restos mortais de Said foram enterrados a 9 de janeiro de 2012.

O pai de Said, falecido em agosto de 2011, não chegou
a ver feita justiça sobre o assassinato do seu filho... 

O caso de Said Dambar é um desafio ao Coletivo de Direitos Humanos dos Saharauis (CODESA), cujo máximo responsável é a própria Haidar. Ela refere que "depois de 17 meses de espera com o corpo de Said no necrotério do hospital, à espera de que se fizesse a autópsia, a família recebe uma visita em que se lhes informa que, em menos de uma hora, o corpo seria enterrado. Sem tempo para reagir, a mãe de Said Dambar recusou-se expressamente a assinar a ordem de consentimento, porque ainda não tinha sido feita a autópsia. "

De acordo com Aminatou , "as informações são muito contraditórias e, se as coisas continuam assim, não creio que se venha a saber a verdade. Os marroquinos dizem que o sepultaram em janeiro, depois que ele seria enterrado naquele dia de junho, tendo fechado o cemitério Jat Eramla e o rodeado muito a polícia e presença militar. Ninguém sabe o que realmente aconteceu, nem onde ele está enterrado, nem quem é responsável último por esta barbaridade, mas é necessário que se abra uma investigação exaustiva para determinar os factos deste assassinato, que continua impune, porque o polícia marroquino julgado foi protegido pelo próprio sistema, onde são os executores dos saharauis que fazem investigações dos casos denunciados e, entre eles, nunca se acusam de nada."

Desde o CODESA, Aminatou Haidar lançou uma enérgica mensagem de repulsa e condenação pelo assassinato de Said Dambar, assegurando que "a história das violações dos direitos humanos no Sahara Ocidental foi e está sendo ocultada de uma maneira consciente e instrumentada, porque está sujeita a um absoluto bloqueio informativo. Por isso, a ativista diz categoricamente que "as vítimas saharauis não são passivas, estamos em luta para desafiar a impunidade das forças de segurança marroquinas. Abrimos vários caminhos no âmbito da investigação. Principalmente exigimos que se chega até ao fim na averiguação da verdade no caso de Said Dambar e no de tantos outros mártires, desaparecidos ou presos políticos, bem como se localizem os responsáveis ​​e que estes sejam levados a julgamento; que as vítimas e suas família tenham justiça, o reconhecimento do dano lhes foi causado e a restituição dos seus bens".

Fonte: © Elisa Pavón

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