"as vítimas saharauis não são passivas, lutamos para desafiar a impunidade das forças de segurança marroquinas".
Após o ataque e a destruição do acampamento de Gdeim Izik,
durante a madrugada do dia 8 de novembre de 2010, grupos de jovens saharauis tiveram
uma reação espontânea de raiva, impotência e ira sem precedentes na história do
Sahara Ocidental. “É verdade que se produziu uma resposta violenta, com muitos incidentes,
contra todo aquilo que representava o Estado marroquino, não só em El Aaiún, mas
em muitas outras cidades do Sahara ocupado, mas era uma resposta provocada pela
frustração que acumula o meu povo contra a arbitrariedade com que actuaram os marroquinos
no Acampamento da Dignidade”, afirma Aminetu Haidar, a mais destacada e
conhecida ativista defensora dos Direitos Humanos da causa saharaui.
Marrocos ordenou então toda um drástico role de medidas de força
e opressão contra a população saharaui, argumentando a necessidade de “travar a
escalada de extrema violência” que se estava produzindo na capital do Sahara Ocidental.
As invasões e buscas de domicílios, as detenções arbitrárias, a introdução de
um toque de recolher a partir das 19 horas, as tortura, agressões e
espancamentos por parte da polícia marroquina e militares estavam na ordem do
dia. Houve muitas vítimas de diferentes características, mas o caso mais
chocante e dantesco foi o do jovem Said Dambar, de 26 anos, que foi baleado na cabeça por um
polícia no dia 22 de dezembro de 2010, durante o toque de recolher em El Aaiún.
Como relatam responsáveis do Centro RFK no livro "El
Oasis de la Memoria", "às 3 da manhã do dia 22 de dezembro, a
polícia chegou à casa dos seus pais pedindo os seus documentos de identidade, alegando
que ele tinha batido num polícia. Na altura, a polícia não informou a família
que ele já estava morto, nem que o seu corpo estava sob custódia policial.
Em vez disso, foram informados de que Said tinha uma lesão
no braço e que estava no hospital a receber tratamento. A família Dambar esperou
várias horas no hospital, sem saber se ele estava vivo ou morto. A 23 de
dezembro, Said Dambar foi oficialmente declarado morto e a família pôde apenas ver
a sua cabeça: tinha um ferimento de bala no centro da testa. A família recebeu
relatos contraditórios sobre o que aconteceu em 22 de dezembro. "
Cumprem-se dois anos desde o seu assassinato e e família
Dambar não teve ainda acesso à sua história clínica, porque o hospital Bem El
Mehdi Ben não lho entregou. E também não poderá vir a saber saber as
circunstâncias da morte de Said, uma vez que, em junho passado, as autoridades
marroquinas invadiram a casa da mãe de Sai Dambar, Jira Ahmed Embarek, para lhe
entregar um documento emitido em 04/06/2012/ pelo Gabinete do Procurador Geral
do Rei e do Tribunal de Apelações, informando que os restos mortais de Said foram
enterrados a 9 de janeiro de 2012.
O pai de Said, falecido em agosto de 2011, não chegou a ver feita justiça sobre o assassinato do seu filho... |
O caso de Said Dambar é um desafio ao Coletivo de Direitos
Humanos dos Saharauis (CODESA), cujo máximo responsável é a própria Haidar. Ela
refere que "depois de 17 meses de espera com o corpo de Said no necrotério
do hospital, à espera de que se fizesse a autópsia, a família recebe uma visita
em que se lhes informa que, em menos de uma hora, o corpo seria enterrado. Sem
tempo para reagir, a mãe de Said Dambar recusou-se expressamente a assinar a
ordem de consentimento, porque ainda não tinha sido feita a autópsia. "
De acordo com Aminatou , "as informações são muito contraditórias
e, se as coisas continuam assim, não creio que se venha a saber a verdade. Os marroquinos
dizem que o sepultaram em janeiro, depois que ele seria enterrado naquele dia de
junho, tendo fechado o cemitério Jat Eramla e o rodeado muito a polícia e
presença militar. Ninguém sabe o que realmente aconteceu, nem onde ele está
enterrado, nem quem é responsável último por esta barbaridade, mas é necessário
que se abra uma investigação exaustiva para determinar os factos deste
assassinato, que continua impune, porque o polícia marroquino julgado foi
protegido pelo próprio sistema, onde são os executores dos saharauis que fazem
investigações dos casos denunciados e, entre eles, nunca se acusam de nada."
Desde o CODESA, Aminatou Haidar lançou uma enérgica mensagem
de repulsa e condenação pelo assassinato de Said Dambar, assegurando que
"a história das violações dos direitos humanos no Sahara Ocidental foi e
está sendo ocultada de uma maneira consciente e instrumentada, porque está sujeita
a um absoluto bloqueio informativo. Por isso, a ativista diz categoricamente
que "as vítimas saharauis não são passivas, estamos em luta para desafiar
a impunidade das forças de segurança marroquinas. Abrimos vários caminhos no âmbito
da investigação. Principalmente exigimos que se chega até ao fim na averiguação
da verdade no caso de Said Dambar e no de tantos outros mártires, desaparecidos
ou presos políticos, bem como se localizem os responsáveis e que estes sejam levados a julgamento; que as vítimas e suas família tenham
justiça, o reconhecimento do dano lhes foi causado e a restituição dos
seus bens".
Fonte: © Elisa Pavón
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