A Dra. Lehdia Mohamed Dafa (ao centro) com duas colegas da direção do SAHARA MEDICAL |
FUTURO SAHARAUI : Como
surgiu a ideia de fundar uma Associação de médicos saharauis em Espanha?
A ideia de continuar a ajudar a população saharaui nos
acampamentos de refugiados está na mente de todos os profissionais saharauis da
diáspora. Encontrar fórmulas para prosseguir nessa ajuda sempre esteve no cerne
de todas os debates fossem eles oficiais, como a tentativa que fez o anterior ministro
da Saúde no ano de 2007 ou informais, como na reunião que tivemos vários
médicos saharauis em finais de 2009 e que seria o ponto de partida para a
organização do Sahara Medical.
FUTURO SAHARAUI : Receberam
algum tipo de apoio por parte do ministério da Saúde saharaui?
Antes de responder, gostaria de esclarecer que SaharaMedical é uma organização totalmente independente e não-governamental constituída
e registada em Espanha, que surge da convicção de que, embora tenhamos decidimos
emigrar, não queremos perder a ligação com o nosso povo e sentimos a obrigação moral
de continuar ajudando, de levar a assistência médica, de compartilhar conhecimentos
com os nossos companheiros nos acampamentos e de defender o direito à saúde da
população saharaui. Somos uma parte do que se designa por sociedade civil e a
nossa filosofia é ajudar a partir do compromisso, mas também a partir da total
independência do Ministério ou de qualquer outra instituição.
Com o anterior ministro da saúde pública, Sidahmed Tiyeb
(Beri) tivemos várias conversas relacionadas com a necessidade de que os
médicos na diáspora estivessem ligados aos acampamentos e que pudessem ajudar a
população. Em determinado momento, recebemos uma carta escrita pelo seu punho dirigida
mim pessoalmente, onde o ministro pedia ajuda urgente para organizar e animar os
companheiros nos acampamentos para fazer frente à preocupante situação sanitária
aí prevalecente. Esse foi, talvez, o tiro de partida para organizar Sahara
Medical. Constituída a Associação, convidámos o Ministério, dirigido já pelo
atual ministro, para participar no nosso primeiro ato público: as 1ªs Jornadas
científicas e solidárias de Médicos Saharauis em Espanha, que organizámos em maio
de 2012, em Madrid. Embora o ministro não tenha assistido, alguns dos seus
colaboradores responderam de forma positiva participando nas jornadas, o que é
de agradecer naturalmente.
Acampamentos de refugiados perto de Tindouf (Sudoeste argelino) |
FUTURO SAHARAUI : Estiveram
recentemente nos acampamentos, poderia dizer-nos qual foi a vossa atividade
nesse período?
Sahara Medical é uma ONGD bastante jovem, temos apenas um
ano de vida e, no entanto, levados pelo nosso desejo de ajudar, realizámos já
vários projetos. Além da organização dessas primeiras jornadas científico-solidárias
de médicos saharauis em Espanha, que constituiu uma experiência de grande êxito
em termos de aprendizagem mútua entre saharauis e espanhóis ligados ao mundo da
Cooperação sanitária, e de ter participado no Congresso da Associação de Médicos
Árabes na Europa (ARABMED), realizado em Madrid, em outubro de 2011, promovemos
nos acampamentos um Curso de Farmácia para Cuidados Primários na nossa Língua,
o Hassania, a todo o pessoal ligado à farmácia dos dispensários, hospitais
regionais e do hospital nacional, uma experiência pioneira, já que, até então,
a formação era dada normalmente por estrangeiros com tradutores nem sempre profissionais
o que levava a que se perdesse grande parte da informação. Enviámos também três
comissões médicas mistas constituídas por voluntários espanhóis e saharauis
entre médicos especialistas e enfermeiras, ação que decorreu entre setembro e novembro. Estas comissões atenderam a mais
de 3.000 pessoas nas wilayas de El Aaiún e Smara.
FUTURO SAHARAUI
: Hoje em dia contam-se pelos dedos da
mão os médicos que ficaram nos acampamentos. Há alguma iniciativa ou medida no futuro
para restringir a emigração dos médicos?
Estamos conscientes de que a situação sanitária nos acampamentos
é cada dia mais precária, e que quaisquer esforços que se façam serão
insuficientes frente a tanta necessidade. Não sabemos quais são as iniciativas
do Ministério para travar a saída maciça dos profissionais dos acampamentos, já
para não falar nos estímulos a dar para o seu retorno ou à forma em que, pelo
menos, possam temporariamente prestar ali os seus serviços, mas a presença de quase
200 médicos saharauis em Espanha é uma realidade que faz parte do drama que vive
o nosso povo. De nada serve fazer juízos de valor em relação à questão, trata-se
de adotar medidas eficazes para que os nossos compatriotas nos acampamentos, e
fora deles, recebam toda a assistência médica de que precisam. Sahara Medical nestes
meses demonstrou que os médicos saharauis podem organizar comissões médicas aos
acampamentos e recolher apoios para melhorar a saúde dos nossos irmãos.
Iniciativas como esta são as que julgamos que há que apoiar e fomentar.
Medico Pediatra nos acampamentos |
FUTURO SAHARAUI: Como ONG pensaram em prestar algum tipo de ajuda a algum dos casos de doentes mais graves que estão em Espanha?
Entre os nossos objetivos, expressos nos estatutos, está o
de levar assistência médica e defender o direito à saúde da população saharaui,
onde quer que esteja. Estamos evidentemente dispostos a ajudar os pacientes que
estão em Espanha na medida das nossas possibilidades e, de facto, alguns de nós
já o tem o feito a título individual. E também gostaríamos de chegar à
população nas zonas ocupadas, mas onde cremos que o nosso trabalho é insubstituível
é, neste momento, nos acampamentos.
FUTURO SAHARAUI
: Pensaram em ampliar a associação aos
médicos e pessoal sanitário em geral que está fora de Espanha?
Estamos abertos a colaborar com todas as pessoas, profissionais
da saúde e da cooperação que compartilhem os nossos objetivos, tanto dentro
como fora de Espanha. Procuramos ter uma importante presença nas redes sociais
para que qualquer pessoa que queira colaborar possa pôr-se em contato connosco.
FUTURO SAHARAUI : Que
projetos têm para o futuro?
Gostaríamos de continuar a enviar comissões médicas aos acampamentos
enquanto persistir a escassez de médicos e encontremos colaboração necessária,
tanto lá, como aqui em Espanha. Pensamos também que a formação e atualização de
conhecimentos dos companheiros sanitários e farmacêuticos locais é uma área onde
podemos realizar um trabalho eficaz e, por último, não descartamos a
possibilidade de desenvolver projetos de educação para a saúde e de sensibilização
para a população que, numa situação como a que se vive nos acampamentos, pode ter
uma incidência importante. Neste momento estamos esperando que o Ministério da Saúde
Pública, nos dê via verde para prosseguir o nosso trabalho.
مرسلة بواسطة futurosahara في quinta-feira, dezembro 20,
2012
Muito obrigada. Lehdía M. Dafa
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