Após a intervenção militar francesa no Mali e o posterior
ataque terrorista às instalações de exploração de gás de Amenas gerou-se no Ocidente
um aumento da preocupação em relação à estabilidade dos países do Magreb. Marrocos
sempre pretendeu rentabilizar a “ameaça jihadista” em beneficio dos seus interesses
anexionistas no Sahara Ocidental: por um lado tentando criminalizar o povo saharaui
com campanhas de difamação sobre supostas relações entre os saharauis e o braço
da Al Qeda que opera no Sahel; e, por outro, tentando apresentar-se perante as grandes
potências como um “aliado estratégico e fundamental” na região face ao terrorismo.
No caso do conflito saharaui, a falta de argumentos legais e de racionalidade
democrática, realiza-se contrapondo a sua alegada estabilidade frente a uma
hipotética debilidade de um futuro Estado saharaui.
Nos últimos anos aparecem certas sombras que alimentam a suspeita
de que existem obscuros interesses para além da estrita guerra jihadista
declarada por estes grupos ao Ocidente. Não parece ser por acaso que sejam sempre
a Argélia e a Frente Polisario os atores na zona, ou os alvos na região, que estão
no ponto de mira desestabilizador destes grupos, ou que sejam as agências
mauritanas na órbita do mazjén os meios
de comunicação que dão cobertura mediática aos terroristas, ou inclusive, que as
negociações para a libertação dos sequestrados se realizem num país aliado de
Marrocos na região, como é o Burkina Faso.
O último atentado na Argélia, de acordo com os terroristas, ocorre
pela cedência do espaço aéreo desse país de à intervenção militar francês, apoio
quase forçado por facto consumado, quando, paradoxalmente, o primeiro apoio à intervenção
veio pela mão de Marrocos.
A envergadura da operação sugere que ela não se deve a uma
resposta imediata, mas é provavelmente resultado de uma planificação anterior à
autorização da cedência do espaço aéreo. A perceção, por parte dos EUA e da
Europa, da Argélia como um país-chave para a segurança na região, bem como o
aumento da sua atratividade como destino de investimento, ofusca o papel até
agora representado por Marrocos. Talvez interesses estrangeiros possam ter a
ver com este assunto. O mentor dos atos terroristas tem claro que, entre os seus
objetivos está a desestabilização da Argélia e da Frente Polisário, tanto no
plano político e económico como ante a comunidade internacional.
Se tivermos em conta que a ameaça terrorista é, praticamente,
o único argumento da diplomacia marroquina para defender a sua política
expansionista no Sahara e que o assunto quase que absorve exclusivamente a política
externa marroquina, pode-se intuir que existem interesses que podem estar
ocultos. Não parece ser por acaso que, alguns dias antes da operação, um meio
de comunicação espanhol ligado ao Mazjén
tenha veiculado informações dos serviços secretos marroquinos ao afirmar a
existência de uma mudança nas prioridades da Inteligência da Argélia, empenhando-se
agora em aumentar os seus efetivos nas regiões fronteiriças com a Tunísia e a Líbia.
Nem tão pouco pode passar desapercebido o silêncio inicial e a tardia condenação
do assalto terrorista por parte da diplomacia marroquina. (Quando o assunto estava
já resolvido e se tinha gerado a condenação geral sobre o ataque). É de supor
que alguém tenha notado em Rabat a caricatural situação de se pretender liderar
a frente antiterrorista sem, ao mesmo tempo, condenar o terrorismo.
Embora esta situação já tenha tido consequências para a
cooperação nos campos de refugiados saharauis em Tindouf, com a retirada dos cooperantes,
talvez a evolução dos acontecimentos possa não ter sido a esperada. A contundência
e a prontidão da operação militar argelina para pôr temo ao sequestro e a
importância que a Argélia tem manifestado de que a França possa sair
airosamente da intervenção militar pode ter feito soar os sinos de alarme em
Rabat, a quem poderia ter convido um sequestro prolongado que traçasse um cenário
em que a opinião pública internacional viesse a ficar pendente de negociações e
mediações em que Marrocos poderia ter a pretensão de desempenhar um papel
significativo.
Talvez Marrocos tenha agora pressa em ocupar uma posição que
lhe permita rentabilizar a atual situação para os seus interesses no conflito
do Sahara Ocidental.
Pelo menos, a imprensa marroquina mostra-se esperançada. Exemplo
disso é a notícia publicada no portal marroquino de notícias Yabiladi:
Reunião Mali /Imigração clandestina: Le Maroc au coeur des peurs européennes
Fonte: La Tribuna del Sahara
Sem comentários:
Enviar um comentário