quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Marrocos procura rentabilizar a ameaça terrorista para sua política anexionista no Sahara Ocidental



Após a intervenção militar francesa no Mali e o posterior ataque terrorista às instalações de exploração de gás de Amenas gerou-se no Ocidente um aumento da preocupação em relação à estabilidade dos países do Magreb. Marrocos sempre pretendeu rentabilizar a “ameaça jihadista” em beneficio dos seus interesses anexionistas no Sahara Ocidental: por um lado tentando criminalizar o povo saharaui com campanhas de difamação sobre supostas relações entre os saharauis e o braço da Al Qeda que opera no Sahel; e, por outro, tentando apresentar-se perante as grandes potências como um “aliado estratégico e fundamental” na região face ao terrorismo. No caso do conflito saharaui, a falta de argumentos legais e de racionalidade democrática, realiza-se contrapondo a sua alegada estabilidade frente a uma hipotética debilidade de um futuro Estado saharaui.

Nos últimos anos aparecem certas sombras que alimentam a suspeita de que existem obscuros interesses para além da estrita guerra jihadista declarada por estes grupos ao Ocidente. Não parece ser por acaso que sejam sempre a Argélia e a Frente Polisario os atores na zona, ou os alvos na região, que estão no ponto de mira desestabilizador destes grupos, ou que sejam as agências mauritanas na órbita do mazjén os meios de comunicação que dão cobertura mediática aos terroristas, ou inclusive, que as negociações para a libertação dos sequestrados se realizem num país aliado de Marrocos na região, como é o Burkina Faso.

O último atentado na Argélia, de acordo com os terroristas, ocorre pela cedência do espaço aéreo desse país de à intervenção militar francês, apoio quase forçado por facto consumado, quando, paradoxalmente, o primeiro apoio à intervenção veio pela mão de Marrocos.



A envergadura da operação sugere que ela não se deve a uma resposta imediata, mas é provavelmente resultado de uma planificação anterior à autorização da cedência do espaço aéreo. A perceção, por parte dos EUA e da Europa, da Argélia como um país-chave para a segurança na região, bem como o aumento da sua atratividade como destino de investimento, ofusca o papel até agora representado por Marrocos. Talvez interesses estrangeiros possam ter a ver com este assunto. O mentor dos atos terroristas tem claro que, entre os seus objetivos está a desestabilização da Argélia e da Frente Polisário, tanto no plano político e económico como ante a comunidade internacional.

Se tivermos em conta que a ameaça terrorista é, praticamente, o único argumento da diplomacia marroquina para defender a sua política expansionista no Sahara e que o assunto quase que absorve exclusivamente a política externa marroquina, pode-se intuir que existem interesses que podem estar ocultos. Não parece ser por acaso que, alguns dias antes da operação, um meio de comunicação espanhol ligado ao Mazjén tenha veiculado informações dos serviços secretos marroquinos ao afirmar a existência de uma mudança nas prioridades da Inteligência da Argélia, empenhando-se agora em aumentar os seus efetivos nas regiões fronteiriças com a Tunísia e a Líbia. Nem tão pouco pode passar desapercebido o silêncio inicial e a tardia condenação do assalto terrorista por parte da diplomacia marroquina. (Quando o assunto estava já resolvido e se tinha gerado a condenação geral sobre o ataque). É de supor que alguém tenha notado em Rabat a caricatural situação de se pretender liderar a frente antiterrorista sem, ao mesmo tempo, condenar o terrorismo.



Embora esta situação já tenha tido consequências para a cooperação nos campos de refugiados saharauis em Tindouf, com a retirada dos cooperantes, talvez a evolução dos acontecimentos possa não ter sido a esperada. A contundência e a prontidão da operação militar argelina para pôr temo ao sequestro e a importância que a Argélia tem manifestado de que a França possa sair airosamente da intervenção militar pode ter feito soar os sinos de alarme em Rabat, a quem poderia ter convido um sequestro prolongado que traçasse um cenário em que a opinião pública internacional viesse a ficar pendente de negociações e mediações em que Marrocos poderia ter a pretensão de desempenhar um papel significativo.

Talvez Marrocos tenha agora pressa em ocupar uma posição que lhe permita rentabilizar a atual situação para os seus interesses no conflito do Sahara Ocidental.

Pelo menos, a imprensa marroquina mostra-se esperançada. Exemplo disso é a notícia publicada no portal marroquino de notícias Yabiladi: Reunião Mali /Imigração clandestina: Le Maroc au coeur des peurs européennes

Fonte: La Tribuna del Sahara

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