quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Mahyuba, uma jovem saharaui a quem a família biológica não deixava regressar à Europa


Mahyuba Mohamed Hamdidaf

A história da jovem saharaui Mahyuba é um exemplo do confronto entre a tradição e a modernidade, entre o amor-possessivo arreigado da família de sangue e a liberdade de uma jovem brilhante que tem umas encantadoras asas para voar…       

É difícil mudar mentalidades. Muitas vezes, os processos revolucionários de libertação nacional irrompem com todo o seu vigor e bandeiras de utopia, mas a mudança de mentalidades nem sempre chega a todos, educados em práticas ancestrais que se perdem na memória dos tempos.

A Frente Polisario, constituída a 10 de maio de 1973 na sua esmagadora maioria por jovens saharauis, veio abalar também concepções, modos de vida, mentalidades…40 anos passados sobre a sua fundação tudo o que preconizava e defendia foi conseguido? Não. Mas seria idílico que isso ocorresse, numa sociedade em que no tempo colonial espanhol fenómenos como a escravatura ainda existiam e eram, até, prática corrente…

Eis como o jornal EL MUNDO conta a sua história:


"A retenção de Mahyuba Mohamed Hamdidaf nos acampamentos saharauis de Tindouf (Argélia) chegou ao seu fim. Mahyuba, de nacionalidade espanhola, saiu esta terça-feira do acampamento de El Aaiun e encontra-se a salvo no consulado de Espanha em Argel, segundo confirmaram ao EL MUNDO fontes próximas da sua família de acolhimento. Está previsto que hoje mesmo viaje para Espanha.

A jovem de 24 anos estava retida contra sua vontade desde mediados de agosto, obrigada por seus pais biológicos a permanecer nos acampamentos. Retiraram-lhe o seu passaporte espanhol e proibiram-na de voltar à sua vida na Europa, onde trabalhava há um ano numa prestigiada fundação de Londres.

Numa entrevista a este periódico há uma semana, Mahyuba pedia para ser livre: "Quero decidir por mim mesma. Sou uma mulher de 24 anos; não me formei para estar na cozinha. ¡Quero a minha liberdade!".

Desde há semanas, o Ministério dos Negócios Estrangeiros [de Espanha] mediava com a Frente Polisario e a família biológica da jovem para que Mahyuba fosse libertada. A organização Human Rights Watch (HRW) também denunciou o seu confinamento forçado em Tindouf. Familiares e amigos de Hamdidaf em Espanha criaram uma plataforma para denunciar a sua situação e exigir o seu direito a decidir.

Mahyuba chegou pela primeira vez a Espanha em 1999, dentro do programa “Vacaciones en Paz”, através do qual centenas de famílias espanholas acolhem durante o verão crianças saharauis. Em 2002, foi ratificado o seu acolhimento permanente no seio de uma família da localidade valenciana de Genovés.

Em 2012, a jovem obteve a nacionalidade espanhola. Licenciada em Filologia Árabe pela Universidade de Alicante, seus professores qualificaram Hamdidaf de "aluna brilhante". Agora, poderá recuperar a vida e a sua prometedora carreira."

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