Mais, muito mais que uma intérprete mundialmente reconhecida
pela sua música saharaui e africana. Porque Aziza Brahim, que esta sexta feiras
atua apresentando o seu último disco — ‘Habbar el Hamada’ — na sala de espetáculo
madrilena Conde Duque e uma semana depois fá-lo-á no Teatro Zorrilla de
Badalona, é uma ativista a favor do direito de autodeterminação do seu povo,
reconhecido pela ONU e atraiçoado por muitos Governos, a começar pelos sucessivos
executivos de Espanha, pois o nosso país tem a maior responsabilidade pelo abandono
em que deixou a sua então colónia em 1975. Aziza, cujo padre morreu nesta luta
que dura há mais de quatro décadas, agradece ao povo espanhol o contínuo apoio e
solidariedade com os saharauis.
– Achas que a música,
a tua maravilhosa música, ajudará a resolver o problema do povo saharaui?
– Oxalá pudesse. É um problema político e como tal terá que
ser resolvido de uma maneira totalmente política. A música ou a cultura pode
contribuir para difundir a situação do povo saharaui.
– Certamente que tens
muitos recitais por essa Europa onde levarás a tua música. Qual a resposta de
um público tão diferente do espanhol?
– Surpreendeu-me muito comprovar a quantidade de seguidores
que tem a minha música na Europa. Ver o público cantarolar as canções foi uma grande
alegria para mim.
– Tens contactos com a tua gente nos acampamentos? Vais lá muitas vezes? Como é que as pessoas aguentam esta quase eterna espera?
– Claro, estou em contínuo contacto com a minha família que,
na sua maioria, vive nos acampamentos. Vou sempre que posso, que não é tanto
como gostaria. A espera torna-se desesperante, especialmente quando os governos
europeus diminuíram a ajuda internacional, apesar das devastadoras inundações
de Outono passado.
– Uma espera que
inclui as agressões de Marrocos, que ultimamente se intensificaram…?
– Sim, mas as agressões são constantes. Nos territórios
ocupados cada vez com mais dureza e impunidade. Ante as recentes declarações de
Ban Ki-moon, Marrocos expulsou os observadores civis da MINURSO.
– Pode-se falar de traição
o que fez o Governo espanhol quando da Marcha Verde e tudo o que se seguiu com
o PSOE e o PP, apesar de em termos de princípios dizerem o contrário?
-Sim, pode-se e deve-se, porque essa é a palavra certa. Até que
o Governo espanhol não assuma a sua responsabilidade no sucedido, pode-se considerar
traição. Espanha tem uma responsabilidade de peso em tudo o que acontece com a
população saharaui tanto nos territórios ocupados como nos acampamentos de
refugiados e, por isso, é responsável de não haver descolonizado o território quando
foi instada em muitas ocasiões a fazê-lo na ONU e, portanto, é um país chave na
resolução do conflito, já que é o causador.
– Outro grave
problema, para além de Marrocos, é o apoio que este país tem da França e dos Estados
Unidos, o que torna as coisas muito piores para vós, não é?
– É incompreensível que neste século se continue a apoiar,
por parte de um qualquer país, uma ocupação ilegal e não contribuírem todos esses
países em procurar uma solução pacífica para o conflito. É incompreensível.
– Qual pode ser,
então, a solução?
– Só há uma, que, além disso é a legal: a realização de um
referendo de autodeterminação onde nós saharauis possamos exercer o nosso direito
de voto para decidir sobre o nosso destino.
– Felizmente para vós,
os espanhóis, em geral, comportam-se em sentido contrário aos dos seus governos.
Até que ponto isso é importante?
– Sim, desde logo, felizmente a solidariedade internacional
demonstrada pelo povo espanhol é admirável, sem ela não sobreviveríamos. Ele
entende que até há pouco fazíamos parte da sua sociedade e que é inadmissível que
nos encontremos na situação para onde nos empurraram os seus governantes. Foi
sempre um apoio muito grande para nós.
– É admirável a vossa
capacidade de resistência há já quatro décadas. De onde vos vem
essa força?
-A força vem do convencimento na nossa dignidade como povo e
na justiça da nossa luta.
Fonte:
Diario Crítico / Por Emilio Martínez
Sem comentários:
Enviar um comentário