Mohamed Kheddad |
Mohamed Kheddad, coordenador
saharaui junto da MINURSO, deu uma entrevista à jornalista do Meriem Kaci, do diário
argelino Reporters.
Que apreciação faz da evolução do dossiê saharaui durante os
últimos dez anos na ONU?
Mohammed Kheddad : Houve
um recuo no seio da ONU em relação à nossa nobre e justa causa. Com efeito, desde
2012, não tiveram lugar quaisquer rondas de negociações entre as partes em
conflito, Marrocos e a Frente Polisario. Também o Enviado Pessoal de Ban
Ki-moon, Christopher Ross, foi impedido por diversas vezes de visitar a região
e particularmente o Sahara Ocidental. Em Março passado, a componente civil e
política da MINURSO foi expulsa de El Aaiún pelas forças marroquinas sem que
tenha havido, infelizmente, uma reação da parte das Nações Unidas.
Imputa esse recuo a Ban Ki-moon ?
Não. Não posso afirmar
que Ban Ki-moon esteja por detrás desse recuo e da agressão à causa saharaui. No
entanto, estou convencido que que ele poderia ter feito mais a favor da nossa
causa. O Secretário-Geral da ONU tinha razão quando qualificou Marrocos de força
ocupante, porque é um facto e uma realidade que ninguém pode negar. Infelizmente,
o Conselho de Segurança não foi a jogo e não defendeu o Secretário-Geral da ONU,
nem a MINURSO que tem por principal missão a organização de um referendo de
autodeterminação. Eu imputo a responsabilidade desse recuo à França, membro do
Conselho de Segurança da ONU, que tomou como refém a questão saharaui. Esse
país é responsável pelo statu quo no Sahara
Ocidental, pois impede qualquer perspectiva de solução do conflito no território
ocupado desde há quarenta anos por Marrocos, bloqueando toda a perspectiva de
paz, e que pode degenerar numa situação gravíssima. No momento em que lhe falo,
as forças saharauis e marroquinas estão separadas por menos de 120 metros na
região tampão de Guerguerat, e isso com pleno conhecimento das Nações Unidas. A
ONU continua sem reagir para encontrar uma solução para um conflito de
descolonização e que continua inscrito na agenda dessa organização.
Que pensa da designação de António Guterres para a chefia da ONU
?
Guterres é um bom
conhecedor do dossiê saharaui, não apenas porque ele esteve na chefia do Alto
Comissariado da ONU para os Refugiados e visitou também os campos de refugiados,
mas também – e eu sublinho-o – porque ele foi um profundo conhecedor de um
problema semelhante ao nosso que foi o caso de Timor-Leste e que ele resolveu.
Guterres é o artesão da descolonização de Timor-Leste. Ele jogou um papel primordial
na União Europeia e na ONU para resolver esse problema. Era um pouco tarde, mas
ele acabou mesmo assim por assumir a responsabilidade da potência colonial
portuguesa que colonizou esse país desde 1596 e que viria a ser anexa pela
Indonésia em 1975. Guterres é conhecido dos Saharauis. Ele tem qualidade e
atributos pessoais que o colocam em melhor posição para contribuir a encontrar
uma solução justa e definitiva para o conflito do Sahara Ocidental. Brahim
Ghali felicitou-o pela sua nomeação e temos esperança que a sua brilhante
eleição contribuirá para encontrar uma solução justa e equitativa para questão
saharaui, em conformidade com as resoluções da ONU e a legitimidade internacional.
Sem comentários:
Enviar um comentário