Fonte: Contramutis / Por Alfonso Lafarga
Mais de quatro mil crianças saharauis passaram dois meses de férias
em Espanha e, mais uma vez, voltaram aos campos de refugiados sem
serem recebidas pelas altas instituições do Estado.
Muito embora tenham recebido a atenção de muitas autarquias locais
e parlamentos regionais, como acontece todos os anos desde que o
programa Férias em Paz se realiza e pelo qual as crianças saharauis
abandonam as altas temperaturas do deserto argelino e passam as
férias com famílias espanholas, tempo em que fazem exames médicos
e aprendem espanhol.
Surpresa tiveram as crianças saharauis que passaram as férias na
Itália: foram recebidas pelo Papa Francisco e pelo Presidente do
Parlamento italiano, Roberto Fico.
No dia 8 de agosto, na cidade do Vaticano, o Papa Francisco recebeu
duas dezenas de crianças saharauis vestidas com roupas tradicionais,
a quem saudou como "embaixadores saharauis da paz",
crianças que lhe responderam que pertenciam a "uma sociedade
islâmica moderada que quer paz, liberdade, justiça e a melhor
coexistência entre as religiões e culturas do mundo ".
Antes, a 25 de julho, Roberto Fico recebeu na sede do Parlamento
italiano os pequenos saharauis, a quem ofereceu presentes que lhes
entregou pessoalmente, com sinais de afeição.
De acordo com a resenha de imprensa da SPS, o presidente do
Parlamento italiano reafirmou que, como presidente da mais alta
instituição do seu país, continuará a defender e apoiar os
direitos e a causa justa do povo saharaui até à sua
autodeterminação.
Os gestos com as crianças saharauis em Espanha, o país que
abandonou o povo saharaui há mais de 42 anos e que entregou as suas
terras a Marrocos, mantiveram-se no âmbito local e regional, apesar
do movimento de solidariedade com o Sahara solicitar a instâncias
superiores atenção para com as crianças.
Em Madrid, as associações pró-Sahara solicitaram repetidas vezes
ao Palácio da Zarzuela um encontro das crianças saharauis com a
rainha Letizia, dado o seu interesse pela infância, um pedido que
também foi feito nos anos em que era princesa, mas sem resultado.
Enquanto as atenções às crianças saharauis permanecerem ao nível
de presidentes de câmara e presidentes de instituições autónomas,
não haverá perigo de manchetes de imprensa como a de Jesús
Cabaleiro Larrán em Jornalistas em espanhol: "Papa Francisco
recebe crianças saharauis e irrita Marrocos" . Primeiro que
tudo, há que não irritar Marrocos.
As crianças saharauis regressaram aos acampamentos de adobe e e às
suas jaimas (tendas) em Tindouf, enquanto nas suas terras, nos
territórios do Sahara Ocidental ocupados por Marrocos, os direitos
humanos continuam a ser violados, tal como nas cidades do sul
marroquino em que vive população saharaui e nas prisões com
presos políticos saharauis.
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