No início da guerra, em 1976, as forças da RASD tiveram de enfrentar dois países muito mais poderosos e armados, a Mauritânia e Marrocos, com a ajuda da França. Tratava-se de uma desvantagem colossal no campo de batalha, no entanto, o comando militar saharaui, então chefiado por Luali Mustafa Sayed [ morto em combate na Mauritânia a 9 de junho de 1976], optou por uma estratégia mista baseada na manutenção de uma ofensiva contida contra a parte forte da coligação, que era Marrocos. e dedicar mais esforços contra o lado fraco, a Mauritânia. Neste contexto, o Exército de Libertação Saharaui intensificou os seus ataques na Mauritânia até atingir o seu objectivo: provocar a retirada da Mauritânia depois de ter feito colapsar a sua economia e regime político, provocando a quebra do acordo com Marrocos e o consequente reconhecimento da RASD.
A coordenação das FAR marroquinas era precária visto que, naqueles anos, Hassán II ainda temia os militares, já que estes haviam tentado por duas ocasiões (1970,1971) depô-lo através de um golpe de Estado, de modo que o monarca concedia ao alto comando a capacidade para iniciar operações militares, o redundava num caos operacional. Assim, a Polisario realizou emboscadas bem sucedidas penetrando em território marroquino, como foi o caso de Tan Tan.
Marrocos, desgastado pela intensa guerra em que se surpreendeu com a capacidade saharaui, conclui que a vitória militar era praticamente impossível. Neste contexto, a estratégia do Exército de Libertação Saharaui leva o inimigo invasor contra as cordas e obriga-o novamente a mudar os seus planos de guerra. O comando militar marroquino decide-se por uma nova estratégia que consistia em adotar uma atitude defensiva através de posições estáticas. Entre agosto de 1980 e abril de 1987, construiu seis muros formados por aterros, fortificações armadas, cercadas por minas antipessoal e com um amplo detetor de movimentos. Este trabalho colossal inspirado na linha de Bar Lev representou um enorme gasto militar, humano e económico e reflete em grande escala o nível de confusão em que se encontrava o comando militar marroquino. O muro militar foi erguido com o objetivo de evitar as incursões saharauis e para que, caso ocorressem, as cercassem e aniquilassem. No entanto, foram ineficazes no momento da verdade, uma vez que a sua implementação não foi capaz de impedir as penetrações do Exército de Libertação Saharaui, iniciadas sem cessar desde Setembro de 1983 , tendo sido penetrado sobretudo a partir de 1986, sendo dado como ultrapassada a situação criada pelos muros após a Batalha de Um Dreiga, em outubro de 1989, quando unidades militares saharauis invadiram mais de 50 quilómetros para lá das muralhas defensivas, demonstrando a sua ineficácia militar. A partir daqui, Marrocos começou a pensar seriamente num cessar-fogo, ciente de que o tempo estava trabalhando a seu favor.
Como se pode constatar, o Exército de Libertação Saharaui soube adaptar-se às condições impostas por Marrocos e repensar continuamente a sua acção militar até atingir o seu objectivo. A estratégia combinada de velocidade e ação assente numa formidável vontade de sacrifício fez com que o moral dos marroquinos afundasse e levasse a consequentes derrotas. Por outro lado, no que diz respeito aos muros, a história mostra-nos que o seu benefício não é proporcional ao seu custo. Temos a Linha Bar Lev, o Muro do Atlântico, a Linha Maginot e a Linha Siegfried, e nenhum deles impediu a penetração do lado inimigo, pelo que o muro militar marroquino não ia ser uma exceção a esta regra histórica.
Enquadradas nessas condições, duas vantagens decisivas emergem para o ELPS no campo de batalha; A primeira é que por ter a iniciativa ofensiva, impõe ao inimigo onde e quando cada cada batalha será travada, esta vantagem aumenta ainda mais se tivermos em conta que os saharauis conhecem o território e se adaptam às inclemências oferecidas pelo ambiente desértico, sendo consequentemente o Verão o pesadelo das FAR. A segunda vantagem é que, por serem fixas as posições das FAR, os combatentes da RASD sabem a todo o momento onde estão os marroquinos, enquanto os marroquinos nunca o saberão, dada a mobilidade da Polisario. Esta vantagem constitui um fator determinante na realização de um ataque imprevisto ou emboscada, sofrido pelas FAR até à exaustão. Esses ataques, como vemos atualmente nesta segunda guerra, acabam desmoralizando o inimigo, mantendo-o em constante estado de alerta, com pequenas perdas que se tornam significativas com a evolução do conflito.
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