Marrocos
chamou esta sexta-feira o seu embaixador na Tunísia após o Presidente tunisino
Kais Saied ter recebido o Presidente da República Árabe Saharaui Democrática
(RASD) e SG da Frente Polisario que luta pela independência para o Sahara
Ocidental, um território que Marrocos ocupa desde 1975.
A
Tunísia acolhe este fim-de-semana a Conferência Internacional de Tóquio sobre
Desenvolvimento Africano, uma reunião que incluirá chefes de Estado de países
africanos.
Para
o MNE do Reino de Marrocos, a decisão da Tunísia de convidar Brahim Ghali para
uma cimeira de desenvolvimento japonesa para África que Tunes acolhe este
fim-de-semana foi "um acto grave e sem precedentes que fere profundamente
os sentimentos do povo marroquino".
O
ocorrido abre uma nova frente na série de disputas regionais e mostra o
isolamento com que Marrocos se depara tanto no Magrebe como no continente
Africano. Recorde-se que a RASD é membro fundador da União Africana desde maio
de 2001. Marrocos só viria a aderir à organização pan-africana em 30 de janeiro
de 2017, sendo o único Estado do continente africano que permanecia à margem.
Marrocos
foi membro fundador da Organização de Unidade Africana (OUA), a antecessora da
UA, em 1963, mas decidiu abandonar em 1984 devido à admissão da República Árabe
Saharaui Democrática (RASD).
Numa
declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Marrocos afirma que já não
participa na cimeira. Também acusou a Tunísia de ter recentemente
"multiplicado as posições negativas" contra Marrocos, e que a sua
decisão de acolher Ghali "confirma a sua hostilidade de uma forma
flagrante".
Ganhar
o reconhecimento da sua soberania sobre o Sahara Ocidental tem sido, desde há
muito, o objectivo primordial de Marrocos em matéria de política externa. Em
2020, o então presidente Donald Trump dos Estados Unidos reconheceu a sua
soberania em troca de Marrocos acordar laços mais estreitos com Israel.
Desde
então, Marrocos tomou uma posição mais dura sobre o Sahara Ocidental, retirando
os seus embaixadores em Espanha e Alemanha até se aproximarem da sua posição sobre
o território.
Por
seu lado, a Argélia retirou o seu próprio embaixador em Espanha, um importante
cliente do gás argelino, após a súbita mudança de Madrid sobre o Sahara
Ocidental.
Com
resposta à decisão o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Imigração e
Tunisinos no Estrangeiro emitiu hoje um comunicado em que afirma:
“– A Tunísia
manteve a sua total neutralidade sobre a questão do Sahara Ocidental no que diz
respeito à legitimidade internacional, uma posição firme que não mudará até que
as partes envolvidas encontrem uma solução pacífica aceitável para todos.
– Tal
como a Tunísia respeita as resoluções das Nações Unidas, também está vinculada
pelas resoluções da União Africana, da qual o nosso país é um dos fundadores.
Neste
contexto, é de salientar que, ao contrário do que foi dito na declaração
marroquina, a União Africana, na qualidade de importante participante na
organização do Simpósio Internacional de Tóquio, emitiu um memorando convidando
todos os membros da União Africana, incluindo a República Árabe Saharaui
Democrática, a participar nas actividades da Cimeira TICAD 8 na Tunísia. Numa
segunda fase, o Presidente da Comissão Africana fez também um convite
individual directo à República Saharaui para participar na Cimeira”.
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