Lisboa, 01
set 2022 (Lusa) – O BE pede coerência ao Governo português na adoção de
“atitudes que favoreçam a autodeterminação do povo do Saara Ocidental”, tal
como fez quanto a Timor ou à Ucrânia, apelando a uma posição forte nesta defesa
no contexto europeu.
Uma
delegação do BE, constituída pela coordenadora do partido, Catarina Martins,
pelo fundador Luís Fazenda e pelo ex-deputado e dirigente José Manuel Pureza,
reuniu-se esta semana com o novo representante da Frente Polisário em Portugal,
Omar Mih.
Em
declarações à agência Lusa a propósito deste encontro pedido pela Frente
Polisário, José Manuel Pureza começou por expressar a solidariedade do partido
com o povo do Saara Ocidental, especialmente numa altura em que “há alterações
nas tomadas de posição” de Espanha, que manifestou “uma posição de convergência
com as teses de Marrocos sobre o Saara Ocidental”.
“É
particularmente importante que a solidariedade internacional se possa exprimir
e que se faça junto dos governos dos nossos países, neste caso do Governo de
Lisboa, toda a pressão para que o nosso Governo seja coerente, no caso do Saara
Ocidental, com aquilo que é o seu discurso, que é positivo a favor da
autodeterminação dos povos”, apelou.
Na opinião
do dirigente bloquista, o Governo português tem “expressado a sua posição muito
forte em matéria de defesa da autodeterminação do povo da Ucrânia”, uma postura
com a qual o BE concorda e apoia.
“Mas, em
coerência, deve tomar atitudes que favoreçam a autodeterminação do povo do
Saara Ocidental e de outros povos do mundo que lutam pela sua
autodeterminação”, desafiou, recordando a posição “muito corajosa” de Portugal
em relação a Timor-Leste.
Pedindo uma
posição “mais forte de Portugal” nesta matéria no contexto da União Europeia,
Pureza referiu que o processo da realização do referendo sob os auspícios das
Nações Unidas é um processo com décadas de expectativa e “sempre boicotado por
Marrocos”.
“Agora que
foi finalmente possível, coisa que não tinha sido durante muito tempo, nomear
um novo representante do secretário-geral das Nações Unidas para o processo do
Saara Ocidental, Portugal deve fazer tudo aquilo que esteja ao seu alcance para
que o seu mandato culmine com a efetivação do referendo, que é o ato de
autodeterminação que está ainda pendente graças aos obstáculos sempre
levantados por Marrocos”, defendeu.
Em junho, o
Governo de Espanha reiterou que a proposta de Marrocos é a melhor base para
resolver o conflito no Saara Ocidental, mas sublinhou que a solução tem de ser
reconhecida pelas Nações Unidas e aceite pelas duas partes.
O Saara
Ocidental é uma antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há 47 anos, no
contexto de um processo de descolonização.
Espanha
defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental
era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU
deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
Sánchez defendeu
que a nova posição do Governo espanhol em relação ao Saara Ocidental está
alinhada com a de outros países europeus, como França, Alemanha ou Países
Baixos, e com a dos Estados Unidos.
Em meados de
julho, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, convidou o
enviado da ONU para o Saara Ocidental, Staffan de Mistura, para um encontro em
Portugal para discutir o processo de “pacificação” naquela zona do Norte
África.
“Aquilo que
nós queremos sublinhar é o nosso apoio ao processo que as Nações Unidas estão a
desenvolver e pensamos que ao fim destas décadas deve-se procurar chegar a um
entendimento”, sublinhou então, adiantando então à Lusa que Staffan de Mistura
visitaria “Portugal em breve”, provavelmente “a seguir às férias de verão”.
LUSA
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