sábado, 6 de julho de 2024

Os meios de comunicação social saharauis regozijam-se com a suspensão da deportação de um ativista saharaui de Espanha para Marrocos

 

Youssef el Mahmoudi

Alfonso Lafarga - Contramutis | 06/07/2024 - Youssef el Mahmoudi, o jovem saharaui detido no aeroporto de Bilbau há 14 dias, não foi enviado para Marrocos como previsto: abandonou as instalações do aeroporto de madrugada e evitou a deportação para o país ocupante do Sahara Ocidental, um território não autónomo que aguarda a descolonização.

A sua libertação, decretada pelo juiz de plantão, foi recebida com alegria pelos meios de comunicação saharauis através da rede X (twitter).

Segundo relatou Francisco Carrión, do jornal El Independiente, na segunda-feira, ele deverá encontrar-se com o juiz, que terá de decidir os próximos passos após a rejeição do seu pedido de asilo. "Ainda não foi submetido a uma avaliação médica, mas posso dizer que estava muito alegre e feliz", diz um dos activistas que tem lutado nos últimos dias para impedir o seu regresso forçado a Marrocos.

A deportação de Youssef el Mahmoudi foi adiada na sexta-feira, depois de o piloto se ter recusado a embarcá-lo no voo da AirArabia com destino a Tânger, tendo sido adiada para sábado de manhã.

A suspensão da deportação vem na sequência do pedido feito no final de sexta-feira ao ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, pela ministra da Juventude e da Infância, Sira Rego, pedindo que o estudante saharaui não fosse enviado para Marrocos.

Em carta dirigida a Grande-Marlaska, a ministra da Izquierda Unida explica que o estudante saharaui, de 23 anos, é "um ativista perseguido pelo seu empenhamento na defesa do Sahara Ocidental" e que "o seu regresso a Marrocos o colocaria em grave perigo", pelo que solicita "uma autorização provisória" para a entrada do cidadão saharaui em Espanha "por razões humanitárias", tendo em conta a sua situação pessoal e física.

Da parte da Coordinadora Estatal de Asociaciones Solidarias con el Sáhara (CEAS-Sáhara), a sua presidente, Maite Isla, afirmou em carta ao ministro do Interior que se o estudante fosse enviado para Marrocos significaria "um sério e grave risco para a sua pessoa ser deportado para um país que ocupa o território do Sahara Ocidental e que considera que defender o legítimo direito à autodeterminação desse território implica anos de prisão".

Jovens saharauis acolhem o seu compatriota no aeroporto de Bilbao

Tanto o ministro da Juventude como a presidente do CEAS-Sahara recordaram o caso de Husein Amadour, um estudante universitário saharaui que chegou à ilha de Lanzarote em janeiro de 2019 de barco e pediu asilo político, mas foi enviado de volta para Marrocos, onde foi condenado a 12 anos de prisão.

Em Bilbao realizou-se uma manifestação na praça Moyua diante da sub-delegação do governo espanhol, em apoio ao ativista saharaui; o representante da Frente Polisario em Euskadi, Fadel Brahim, alertou para as graves consequências do seu regresso a Marrocos. "Youssef é perseguido como todos os saharauis nos territórios ocupados que Marrocos fechou para que não se saiba o que se passa", afirmou.

Youssef el Mahmoudi, natural de El Aaiún, capital do Sahara Ocidental ocupado por Marrocos, chegou a Bilbao no passado dia 23 de junho, proveniente de Marraquexe (Marrocos), e pediu asilo político em Espanha. "Depois de o pedido de proteção internacional ter sido rejeitado e de ter sido pedida uma reapreciação, o último pedido foi rejeitado a 2 de julho. O Tribunal Superior Nacional rejeitou a medida cautelar apresentada pelos advogados do departamento de imigração da Ordem dos Advogados de Biscaia, considerando que não existem provas suficientes de que o jovem necessite de proteção internacional, de acordo com a ONG Zehar-Errefuxiatuekin, que descreveu a decisão como 'inaceitável'", segundo El Independiente.

Na quarta-feira, o estudante entrou em greve de fome perante a iminência da sua deportação. Desde a sua chegada a Bilbau, tem estado sob vigilância policial permanente, privado da sua liberdade. Fontes próximas do estudante explicaram que, na sexta-feira, a polícia pediu que a sua deportação fosse adiada por 48 horas. Um juiz visitou-o no aeroporto e decidiu que não podia continuar detido", acrescenta o relatório.

A suspensão da deportação de Youssef el Mahmoudi foi aplaudida no X (twitter). Entre outras reacções, pela deputada saharaui de Sumar, Tesh Sidi: "GRANDE NOTÍCIA! Graças à coragem de Youssef por ter resistido durante estes dias". Num outro tweet afirma que "um governo progressista distingue-se da direita racista ao colocar os direitos humanos no centro das suas políticas" e exige que o ministério do Interior conceda ao ativista saharaui uma autorização humanitária. "A sua libertação ontem à noite continua a ser insuficiente", acrescenta.

O ativista saharaui Hassanna Aalia, refugiado em Espanha e condenado à revelia a prisão perpétua por um tribunal militar marroquino, depois de ter participado, em 2010, no acampamento de protesto pacífico de Gdeim Izik, afirmou: "Juntos conseguimos travar a #devolução de Youssef e ele já deixou as imediações do aeroporto de Bilbau. Viva a luta do povo #Sahrawi e a solidariedade internacionalista".

Para Enrique Santiago, secretário-geral do PCE e deputado de Sumar, "a autoridade espanhola tem uma obrigação de solidariedade com o povo saharaui. A autorização de entrada em Espanha por razões humanitárias está pendente. Não contradiz uma resolução judicial e resolve a situação, evitando os riscos que a deportação acarretaria para Youssef".

 

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