segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Documentário “A semente da Verdade”



A 12 de fevereiro de 1976, dois beduínos caem mortos às mãos do exército de Marrocos, quando procuravam água.

Não se passaram sequer quatro meses desde que, num dia de outubro como o de hoje, o rei Hassan II deu início à Marcha Verde. A Espanha, que continuava a ser administradora da sua colónia saharaui, juntamente com Marrocos e Mauritânia, num governo tripartido provisório até duas semanas depois desse 12 de fevereiro, anunciara já, no entanto, que abandonava a sua colónia.

O Rei Hassan II - que vê perigar o cobiçado território com a resolução da ONU que adverte que deve ser o próprio povo saharaui a determinar se quer a independência ou a anexação de Marrocos - , envia 350 mil dos seus súbditos e 25.000 soldados para ocupar a colónia rica em recursos naturais.

É uma estratégia que procura a legitimar essa adesão, acompanhada, em paralelo, com uma caça sangrenta aos saharauis a quem se procura fazer desaparecer do mapa com bombas de fósforo e napalm. É nesta paisagem de "limpeza" que são abatidos os dois beduínos.



Quase 40 anos depois, o Instituto de Estudios sobre Desarrollo y Cooperación Internacional 'Hegoa', do País Vasco, recebe uma chamada da Associação de Familiares de Presos e Desaparecidos Saharauis (AFAPREDESA), desde os territórios "libertados" do Sahara Ocidental. Um beduíno que se dedica ao pastoreio de cabras e camelos na zona encontrara restos humanos, uma descoberta que coincide com o relato de uma testemunha - uma criança de 14 anos na altura - , que se salvou por pouco de ser o terceiro ocupante de uma fossa comum naquele dia 12 de fevereiro de 1976.

"O Instituto Hegoa pôs-se logo em contacto connosco [a Sociedad de Ciencias Aranzadi], dada a nossa trajetória e experiência de exumações pela recuperação da memória histórica", explica Eztizen Miranda, autora do documentário que conta a história desta primeira viagem ao Sahara Ocidental liderada pelo médico legista Francisco Etxeberria, em junho passado, e que iria acabar por descobrir duas valas comuns e oito corpos de civis mortos pelo exército marroquino, dois deles crianças.

Em pouco menos de um mês, a equipa de Etxeberria vai regressar à região em busca de mais fossas comuns. De momento, tem já localizadas outras duas. "Isto é apenas o início ", adverte Miranda.

"La semilla de la verdad", documentário que recupera o esquecimento olvido internacional a que foi submetido um povo massacrado e desterrado para o deserto mais quente do mundo, foi apresentado no passado X Festival de Cinema do Sahara (FiSahara).


Rafa Hernández

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