terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma grande festa para o casamento e uma outra para o divórcio!



Não dramatizam. Os Saharauis, mulheres e homens, não fazem do divórcio um drama. Contentam-se em organizar uma festa «de dignidade» para a mulher perante toda a família e conhecidos a fim de que ela possa voltar a casar de cabeça levantada pela segunda ou terceira vez.

Os saharauis nunca dramatizam com a separação de um casal. A mulher é informada pelo seu marido, para que se prepare para deixar a sua casa de forma permanente, especialmente se ela vive com a sogra.

De acordo com o semanário saharaui Esahra el-Hora, o homem começa a preparar o "Amisfate" da mulher. É uma espécie de dote que consiste numa quantia em dinheiro, camelos, ovelhas e cabras, móveis e até uma tenda (“Jaima”). Mas se o marido vive com a família da mulher, ele apenas recupera os seus pertences antes de sair. Após o período de "el-idda" a família da divorciada organiza uma festa. "Esta festa não pretende, em nenhum caso, minimizar a dignidade da mulher divorciada. Pelo contrário, pretende enfatizar o lugar da mulher na sociedade a fim de que seja respeitada da mesma forma que a dignidade do homem", cita o artigo na mesma revista.

A mulher põem-se bonita, vestindo a sua mais linda «melfa» (traje saharaui tradicional), adorna-se com joias, pinta os seus os olhos com "kohl" e as suas mãos com “henna”. Senta-se num tapete enrolado em forma de banco. Instalada no meio da sua tenda, a sua "Jaima," a mulher está cercada pelas suas amigas que dançam, batem palmas, cantam e entoam os seus «youyous».



Querem-lhe provar que ela pode voltar a casar-se de novo com um homem que lhe agrade, mas não com um qualquer. Durante este período de festa de 3 dias, o que se come de ovelhas ou camelos abatidos são geralmente despesas pagas pelo pretendente que espera pelo fim da "iddah" para se casar com a divorciada.

Esta fase é denominada pelos saharauis por «el tahriche». Mas se uma mulher não tiver ainda pretendente, são os seus irmãos e primos que se encarregam dos custos da festa para preservar a dignidade e a reputação desta mulher que pode voltar a casar dignamente se ela se vier a divorciar mais uma vez. «Uma mulher divorciada mais do que uma vez é adulada pelos homens pois tem uma experiência acrescida na gestão do seu lar», cita o artigo da revista.

Quando às causas de divórcio entre os saharauis, elas não são diferentes das conhecidas em outras sociedades. Encontramos o mau relacionamento entre o casal após o casamento, a diferença de mentalidades ou o não-respeito pelo marido pelas condições estabelecidas antes do casamento (educação, habitação, trabalho ou férias na Argélia, Mauritânia ... ). Estes casos podem ser a causa de vários casos de divórcio nos campos de refugiados saharauis, a pedido do homem ou da mulher não satisfeitos com a sua situação ou condições de vida.



3 para o divórcio, 7 para o casamento

Tradição. Se à mulher saharaui divorciada é dedicada uma festa de 3 dias, para o seu primeiro casamento está-lhe reservada uma festa de sete dias.

A mulher saharaui recebe um dote muito especial — segundo E-Hajj Mohamed — para ela se possa casar "tat-khayeme". O homem deve dar-lhe o seu dote (à celibatária). São entre 25-35 objetos diferentes antes do casamento. Por exemplo, ele deve dar-lhe 35 roupas de todos os tipos, 25 pares de sapatos e chinelos "chengala", 25 cobertores "manta", 35 "melhfa '(véus) de todas as cores, 35 tipos de maquiagem e um conjunto de 3 malas de todas as formas, bem como joias banhadas a ouro. "Nunca se dão joias de ouro. Mas a joias ditas "elgarenti".

O marido compra um novo “chech, Deraa, nayel e them", essas mesmas roupas "Siyani" são compradas para serem oferecidas pela mãe da noiva ao seu marido como um presente da parte do seu genro. Ela deve dizer: "Este é um presente para você." O mesmo vale para o avô, que recebe o mesmo que o seu filho. Por sua vez, a mãe e avó da noiva também têm os seus dons. A Kheima ou “jaima” (tenda) é obrigatória. É o marido que a deve comprar.

A noiva convida as suas amigas para comer na Kheima depois de ter morto cabras, ovelhas ou camelos, de acordo com o número de convidados "redjline" (el-Ghachi). O homem tem seu vizir. "O seu mais próximo amigo que cuida dele durante todo o período do casamento", diz-nos  Mohamed El-Hajj. A noiva, também, tem a sua wazira. "Ela deve estar concentrada sobre si mesma e afastar-se dos seus mais próximos e familiares durante todo o período da festa. É para evitar o mau-olhado e as maldições de que pode ser vítima", diz Oum el-mouminine, uma jovem de 19 anos que se vai casar em breve. No dia 'D', a noiva já está em contato com o marido, sendo levada para sua casa a bordo de um carro, "el-Wetta".



Segundo um outro saharaui, uma meia centena de camelos são reunidos para o banquete do dia seguinte, "muitos convidados afluem a casa dos recém-casados. Os mais velhos estão vestidos com Khelkhal e melhfas brancas. “Os camelo são abatidos, diz-nos Mohamed El-Hajj, lamentando o facto de novas tradições serem importadas pela nossa juventude”. Trazem as tradições dos países onde estudam (Argélia, Líbia e outros). Por exemplo, a nossa noiva deve colocar a "chgiga", que é a melhfa ligeira dos nossos antepassados. Mas hoje ela maquilha-se, o que era proibido no tempo dos nossos ancestrais”. A noiva, de acordo com Fatimatou, coloca a sua melhfa preto e branco para ser vista e admirada pelos seus convidados. A noiva convida toda a sua família a desfrutar da refeição.

 Por : Souad Labri

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