sexta-feira, 6 de novembro de 2015

“A possibilidade de regresso às armas é real”, adverte ministro saharaui


 Brahim Mojtar, ministro da Cooperação da RASD

O ministro saharaui da Cooperação, Brahim Mojtar, condenou hoje a visita do rei Mohamed VI de Marrocos a El Aaiún e advertiu de que se não se avança na solução política existe “uma possibilidade real” de regresso às armas.

Em entrevista concedida à agência EFE, um dos homens fortes do atual governo saharaui sublinhou que “a intransigência marroquina”, somada ao cansaço de 40 anos de exílio forçado e as recentes inundações, que arruinaram os acampamentos, multiplicaram a aposta na radicalização, em particular entre os jovens.

“Tudo isso, junto com a intransigência marroquina, não fará mais que incrementar essa frustração que poderá desembocar numa radicalização de todo o processo e poderá levar, sobretudo da população mais jovem de saharauis, a reivindicar o regresso às armas”, sublinhou.

“É inegável que o governo saharaui e a direção política da Frente Polisario estão sob pressão contínua por parte dos jovens que reivindicam ação”, acrescenta o ministro nas suas instalações em Rabouni, zona administrativa dos campos de refugiados saharauis no sudoeste da Argélia.

Na sequência deste argumento, advertiu que das duas uma, “ou aceleramos o processo de negociação que leve à realização do referendo, como prometeram as Nações Unidas no ano de 1991, ou permitimos-lhes retomar as armas para continuar aquilo que fizeram os seus pais desde 1975 até 1991”.

“Penso que a possibilidade é real, a ameaça é real e há que levá-la muito a sério”, sublinhou.

Mojtar, homem de longa trajetória na Frente Polisario e de grande experiência no governo saharaui, atribuiu toda a responsabilidade a Marrocos, a quem acusou de jogar com a comunidade internacional para iludir o cumprimento das distintas resoluções da ONU.

“O rei o que está fazendo é uma provocação, está atuando contra o direito internacional porque sabe, como o sabem todos os marroquinos, que o Sahara é um território colonizado, pendente de descolonização e que não deve ser visitado pelas autoridades marroquinas”, afirmou.

“Pensamos que é uma fuga para a frente, enquanto as Nações Unidas estão procurando por todos os meios uma maneira de aplicar as diferentes resoluções que defendem uma solução política, consensual, que permita o direito do povo saharaui à autodeterminação”, realçou.

A este respeito, citou como exemplo a obstinada rejeição do reino alauita em receber Christopher Ross, enviado pessoal do SG da ONU para conflito do Sahara, e em facilitar a missão para a realização do referendo, pendente desde que a Espanha aceitou fazê-lo na já longínqua década de sessenta.

“Pensamos que esta fuga para a frente, esta intransigência, não leva àquilo que a comunidade internacional pretende, que é uma solução pacífica através das negociações e que poderá incrementar mais ainda a frustração já vivida pelos saharauis devido ao arrastamento de todo este período”, afirmou.

“A abertura de mais um foco de tensão na região, já de si muito volátil, cremos que não é do interesse nem dos países vizinhos, nem das partes envolvidas nem da própria Europa do sul”, acrescentou.

Rajoy com Garcia-Margallo

Mojtar teve também duras palavras para a Espanha, potência colonial no Sahara, a quem pediu que utilize o seu atual cargo de presidente em exercício do Conselho de Segurança da ONU para solucionar o que definiu como “último problema por resolver dos criados pelo franquismo”.

“Pedimos veementemente ao governo de Espanha que use toda a sua força, toda a sua energia, para forçar o rei de Marrocos e ao governo marroquino a sentar-se à mesa de negociação e a procurar uma solução com o povo saharaui que conduza à autodeterminação”, afirmou.

“Espanha, tal como o fez Portugal em relação a Timor-Leste, tem todas as possibilidades de dizer basta, 40 anos são mais que suficientes. Vamos descolonizar este território que deixámos às mãos de verdugos e que mais não fizeram do que fazer sofrer a população saharaui indefesa”, acrescentou.

Nesse sentido, Mojtar afirmou que o Sahara também está pendente das eleições do próximo dia 20 de dezembro [em Espanha] mas que “a única coisa que pedimos a quem vier a ocupar a Moncloa é que já é tempo de resolver o último resíduo dos problemas criado pelo franquismo”.

Por último, Mojtar sublinhou a importância que tem o próximo Congresso Geral da Frente Polisario, a que assistirá o presidente Mohamed Abddelaziz, como disse, juntamente com mais de 2.500 delegados e onde serão tomadas decisões cruciais.

“A 16 de dezembro temos o congresso geral da Frente Polisario que é onde se tomam as decisões estratégicas e em que a maioria dos congressistas serão jovens com menos de 30 anos”, enfatizou.

Fonte: Terra / EFE


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