domingo, 11 de fevereiro de 2018

Fotógrafo espanhol Gervasio Sánchez: "Tenho vergonha do comportamento da Espanha no conflito do Sahara Ocidental"



O fotógrafo Gervasio Sánchez e a representante da Frente Polisario em Espanha Jira Bulahi Bad - Foto José Miguel Marco.


Saragoça,10 fev 2018 (SPS)- O fotógrafo e jornalista espanhol, Gervasio Sánchez, organizador esta semana em Saragoça da exposição "Visões saharauis", que reflete as dificuldades da vida quotidiana dos saharauis e os sofrimentos a que estão sujeitos devido a um exílio forçado que dura há 42 anos, afirmou que "tem vergonha do comportamento do Estado espanhol no conflito saharaui que começou pelo abandono do território em 1975 pouco depois da ocupação por parte de Marrocos".

Veja as fotos da Exposição "Visiones Saharauis" em: http://bit.ly/2EwV0zc



Mohamed Salem Ahmed Hama, nascido em 1925, tem bilhete de identidade espanhol emitido a 28 de novembro de 1973 em Smara e é pai de Sid Salek Mohamed, desaparecido em abril de 1976 ma zona ocupada de Amgala quando tinha 15 anos e pastorava junto com o seu irmão Yahdi, de 12 anos. Foto de Gervasio Sánchez



Gervasio Sánchez acusou sábado em entrevista à agência espanhola EFE, todos os governos que desde então se sucederam que levaram à "inação" da Espanha e, especialmente, afirmou, "o governo do socialista Felipe Gonzalez marcado pela hipocrisia e o cinismo ".

Felipe Gonzalez - acrescentou o fotojornalista – aproximou-se bastante dos saharauis anunciando-lhes que todos os espanhóis estavam a favor de sua causa, para traí-los de seguida, lamentou o entrevistado.

A exposição do fotojornalista espanhol, que estará patente até ao dia 1º de maio em Saragoça, tenta explicar "a experiência vivida por quatro gerações de saharauis que vivem em campos de refugiados". De um total de 30 imagens, o fotógrafo detalha algumas das consequências desse conflito que fez centenas de desaparecidos entre a população saharaui e milhares de pessoas mutiladas por minas antipessoal.

Sánchez deplorou, além disso, os papéis desempenhados por Estados como a Espanha e a França, que devido aos seus interesses apoiam Marrocos.

"Se os países mais próximos da zona de conflito no Sahara Ocidental estão do lado marroquino, é difícil para outros países distantes, como a Alemanha ou a Suécia, contribuírem para a solução do conflito por terem outros problemas ", acrescentou o repórter, que também deplorou a ameaça do uso do direito de veto nas Nações Unidas sempre que se pretende prevenir a repressão sistemática e violações dos direitos humanos nos territórios saharauis ocupados ".

Sánchez recorda ter tido a experiência direta da repressão do poder das forças de segurança marroquinas, que o forçaram a abandonar as zonas saharauis ocupadas onde ele pretendia fazer grande parte da sua reportagem.
"Foi muito difícil para mim trabalhar livremente e entrevistar quem eu queria", disse.

Na sua reporta, o fotógrafo espanhol concentra a sua objetiva nos retratos de parentes de pessoas desaparecidas, pessoas mutiladas por minas antipessoal marroquinas e também retratos de crianças que beneficiaram do programa anual de férias da paz organizado pelo movimento espanhol de solidariedade com o povo saharaui.

A sua exposição, disse, tenta dar maior visibilidade à causa saharaui para que não seja esquecida, esperando que a comunidade internacional possa assegurar a implementação das resoluções da ONU e do direito internacional para permitir para que essas pessoas possam usufruir do direito à autodeterminação que lhes permita decidir livremente seu futuro. (SPS)

Gervazio Sanchez – Nasceu em Córdoba, Espanha, em 1959. Como repórter fotográfico cobriu a maior parte dos conflitos armados da América Latina e a Guerra do Golfo. Cobriu também vários conflitos em África e na Asia, tendo trabalhado para diferentes meios como a Cadena SER, o serviço espanhol da BBC (desde 1994) e para a revista Tiempo (desde o ano de 2000), obtendo diversos prémios, como o prémio Ortega y Gasset de jornalismo e publicado vários livros de fotografia.

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