sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Marrocos vai apresentar moção para excluir Sahara Ocidental da União Africana – anedota ou um «tiro no pé»?






Diz hoje a Lusa, com base da revista Jeune Afrique, que “A diplomacia marroquina, que recentemente reforçou a sua representação em Adis Abeba, sede da União Africana (UA), vai apresentar uma moção destinada a excluir a República Árabe Saharaui Democrática (RASD) da organização pan-africana, noticia hoje a imprensa.

Quanto mais o seu isolamento mais as autoridades marroquinas – que quando se fala em autoridades estamos a falar obviamente no Rei de Marrocos e o Mahkzen ou a sua entourage  - parecem entricheiradas nas suas teses expansionistas que há muito a comunidade internacional vem condenando, empreendendo uma fuga prá frente cujo desfecho se desconhece. O seu isolamento no continente africano parece não levantar contestação e para isso basta analisar as conclusões da recente cimenta da UA em Addis Abeba.


Segundo a revista Jeune Afrique, nos “corredores” da sede da UA, os diplomatas marroquinos em Adis Abeba não têm escondido a intenção, garantindo que o projeto será apresentado em breve.

A revista de atualidade virada para o continente africano mas desde sempre alinhada com Marrocos refere que à decisão de Marrocos não é alheia a eleição do país para o Conselho de Paz e Segurança da organização, a 26 de janeiro último.

Na ocasião, 39 países - mais de dois terços dos membros (55) - votaram a favor de Marrocos, sem qualquer voto contra, mas com 16 abstenções, pelo que, nos “corredores”, a ideia agora é convencer os indecisos.

Fontes citadas pela revista semanal indicaram que, apesar de o voto neste tipo de decisões ser eletrónico, logo, secreto, os marroquinos têm “uma ideia de quem são os indecisos”, pelo que estão a intensificar a pressão, através dos lóbis, para os convencer favoravelmente.
Paralelamente, as autoridades de Rabat destacaram para Adis Abeba a maior e mais importante representação diplomática em África.

Nesse sentido, adquiriram um prédio, de sete pisos, em fase final de construção, próximo do aeroporto de Bole (Adis Abeba), onde irão instalar a embaixada de Marrocos na Etiópia, liderada por uma mulher, a embaixadora Nehza Alaoui M´Hamdi, e os escritórios do representante permanente junto da UA, Mohamed Arrouchi.

A missão diplomática marroquina contará também com representantes de vários ministérios – Justiça, Agricultura, Economia e Ambiente -, albergando ainda uma célula dos serviços secretos do país.

Marrocos regressou à União Africana em janeiro de 2017, 33 anos depois de abandonar, em 1984, a então Organização da Unidade Africana (OUA), após esta ter reconhecido a RASD (Sahara Ocidental) como país e a Frente Polisário (FP) como seu representante legítimo.
O processo de paz saharauí está num impasse há já vários anos devido a posições divergentes entre as duas partes.

Diz a Lusa: “A RASD, representada pela Frente Polisário, reclama a realização de um referendo de autodeterminação, pretensão recusada pelas autoridades de Marrocos, que propõem uma maior autonomia do território, mas sempre sob soberania marroquina”.

Pelo que se lê do texto da agência noticiosa portuguesa mais parece que estamos a falar de um Benfica Sporting… Mas a agência devia ater-se mais às decisões da ONU sobre o tema. A questão do Referendo é uma premissa da comunidade internacional e foi aprovada e aceite pelas duas partes do conflito – Marrocos e a Frente Polisario – desde 1991. Foi isso que deu origem ao cessar-fogo após 16 anos de intensa guerra e à criação, pela ONU, da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), que está no terreno, tanto nas regiões do território ocupadas por Marrocos, como nas regiões libertadas pela Polisario, como nos campos de refugiados saharauis na região de Tindouf, no extremo sudoeste da Argélia, junto à fronteira com o Sahara Ocidental.

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