Fonte:
Ara!nfo
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Por Luis Mangrané [advogado
aragonês]
- Felipe VI visita Marrocos
acompanhado
por vários
ministros.
O
reino
alauita
ocupa desde 1976 o
Sahara
espanhol,
quando
Espanha
não
cumpriu com as suas obrigações
legais:
descolonizar a
então
província
53 e
ao firmar com Marrocos e Mauritânia os ilegais
acordos
tripartidos
de Madrid.
Embora
um ano antes o Tribunal Internacional de Haia tivesse declarado que
não existiam laços de soberania entre o Marrocos e o Sahara, Hassan
II entrou a ferro e fogo no território, iniciando uma sangrenta
guerra.
As
Nações Unidas ordenaram que se retirassem e que fosse realizado um
referendo para que o povo saharaui pudesse decidir sobre o seu
destino. Marrocos não fez caso. Os saharauis, através de uma guerra
de guerrilha, resistiram a um exército que os superava, que contava
com parte dos media internacionais e aliados poderosos (França e
Estados Unidos), conseguindo que a Mauritânia se retirasse do
conflito e, em 1991, assinando um cessar-fogo para que as Nações
Unidas supervisionassem o referendo que deveria conduzir ao fim do
conflito.
Ao
longo de quatro décadas Marrocos sabotou o referendo, aprisionou os
saharauis que protestam contra a ocupação militar e fechou o
território à imprensa e aos observadores internacionais. O saque de
recursos tornou-se sofisticado e é disfarçado como um tratado
internacional.
A
União Europeia contradiz as sentenças de seus mais altos tribunais
e, para proteger o saque, renova os acordos declarados ilegais
baseando-se em sofisticadas interpretações de juristas a soldo de
ditames de políticos sem escrúpulos.
O
povo saharaui está dividido entre a diáspora, os campos de
refugiados na Argélia e o próprio Sahara Ocidental ocupado. A
Frente Polisario, seu único e legítimo representante, centra hoje a
sua resistência na luta em tribunais e instituições
internacionais, consciente de que o direito internacional sempre
esteve do seu lado. Os guerrilheiros de antigamente são hoje os
diplomatas que comparecem perante os juízes europeus, esperando que
eles respeitem mais a legalidade do que os políticos ocidentais.
A
solidariedade com o Sahara Ocidental em Espanha é popular (entre os
povos), as associações de amizade garantem que o conflito não seja
esquecido e que anualmente milhares de crianças refugiadas passem os
seus verões em casa de famílias espanholas, gerando laços de união
mais fortes que falsas declarações de políticos que, conforme
passam da oposição ao poder, transformam seu apoio aos saharauis
por interesses inconfessáveis que os transformam em aliados
marroquinos.
O
interesse por este conflito, nos últimos anos, foi transferido para
a situação nos territórios ocupados, apesar dos intentos de
Marrocos que pretende que as violações dos direitos humanos
cometidos permaneçam ocultos. Durante os anos de chumbo de Hassan II
a repressão foi brutal: desaparecimentos forçados, assassinatos,
bombardeamentos... em suma, uma tentativa de genocídio que é objeto
de investigação no Tribunal Nacional de Espanha (a Audiência
Nacional).
Com
o atual monarca, Mohamed VI, a situação não melhorou. Desde 2007
assisti a julgamentos de ativistas saharauis e, com outros camaradas,
vimos como os maltratavam perante os juízes, impediram-nos de aceder
às suas casas, expulsaram-nos das suas cidades, fomos perseguidos e
assediados. Fomos nós e tantas centenas de outros europeus,
incluindo deputados do Parlamento Europeu.
Os
diferentes partidos de turno no Governo espanhol não fizeram nenhum
protesto contra esta situação, apesar das queixas dos que a
denunciaram. Em vez disso, venderam armas a Marrocos, receberam
comitivas oficiais que incluíam torturadores, como Hosni Benslimane,
e voltaram a manifestar em Marrocos o seu acordo com esses
personagens.
Nas
respostas oficiais, diz-se que a Espanha coopera na ajuda humanitária
internacional aos campos de refugiados. A Espanha é cúmplice desta
situação e tem o cinismo de usar a ajuda como um álibi.
São
múltiplos os mecanismos e fóruns em que Espanha se relaciona com
Marrocos: cooperação judicial, emigração, comércio ... e parece
que nenhum deles é usado para exigir que esse conflito seja
resolvido.
A
Espanha exige que a Venezuela organize eleições quando em maio
passado as realizou, mas nada diz sobre o referendo pendente há mais
de 40 anos que não se realiza por recusa de Marrocos.
Nesta
visita, os nossos representantes [de Espanha] deveriam ter a
responsabilidade de exigir publicamente que sejam respeitados os
direitos dos saharauis que permanecem sob ocupação marroquina,
muitos deles com documentação espanhola, atual ou caducada. É o
mínimo que podem fazer por um povo pacífico que recebe a
solidariedade dos espanhóis e que segue atento a qualquer gesto ou
notícia de autoridades que os abandonaram nos estertores da ditadura
de Franco e que durante a democracia só lhes demonstraram ignomínia.
Há
dois anos atrás, a CIA desclassificou documentos confidenciais que
revelaram que Juan Carlos II negociou secretamente os termos da
Marcha Verde com Hassan II. Qual é o propósito real das
conversações e desta visita [realizada por Felipe VI]? A sujeição
de um povo irmão é o preço da amizade entre duas casas reais ou a
moeda de troca entre dois Estados que simulam modernidade e
democracia mas praticam a "realpolitik" usual que oculta
razões e interesses económicos inconfessáveis à custa dos mais
fracos ?
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