O ministro da Segurança e Documentação (serviços de inteligencia) voltou a erguer o tom bélico contra o regime de Mohamed VI e lembra-lhe que os objectivos
dos manifestantes saharauis em El Guerguerat são intocáveis.
Chahid Alhafed, 10 novembro de 2020. - Lehbib Abdelhay /ECS - Abdalahe Lehbib Balal, ministro da Segurança e Documentação da República Saharaui (Serviços
de Inteligência) advertiu hoje Marrocos que a Frente Polisario responderá com "uma grande e esmagadora força" a qualquer ataque contra os manifestantes saharauis em El Guerguerat.
Em declarações à APS, o dirigente saharaui voltou a levantar o tom em relação ao Makhzen (poder do Palácio de Marrocos). "A decisão ignorante de Marrocos de planear um ataque à brecha ilegal em El Guerguerat só mostra que não
entende a realidade", disse Lehbib, acrescentando "Qualquer ataque feito por Marrocos contra qualquer cidadão saharaui na brecha ilegal será respondido com uma força grande e avassaladora.
Abdalahe Lehbib Balal lembrou que a Frente Polisario e a RASD não permitirão a abertura dessa brecha (através da qual Marrocos exporta para a Mauritânia e
para África os recursos naturais expoliados no território que ocupa do Sahara Ocidental) e que a sua persistência representa uma violação do cessar-fogo em vigor desde 1991.A Frente Polisario colocou este domingo as suas tropas em alerta devido à tensão na passagem da fronteira de Guerguerat e confirmou ontem que responderá "com
firmeza" a qualquer agressão marroquina na zona.A mobilização surgiu após alerta para a presença de viaturas militares marroquinas "a apenas três quilómetros" das dezenas de saharauis
que mantêm um acampamento na zona desde 21 de outubro, bloqueando a passagem de viaturas que entram ou saem da Mauritânia.Além das viaturas militares marroquinas, o governo saharaui detetou e denunciou também a incursão de soldados camuflados.
O governo saharaui lamenta os "anos de silêncio" da comunidade internacional face à "ocupação e pilhagem" de Marrocos.O governo saharaui lamenta os "anos de silêncio" da comunidade internacional ante a "ocupação e a expoliação" por parte de Marrocos
- afirmou o ministro. Risco de um "massacre"
Após concentração de forças militares ao longo do Muro da Vergonha, na área adjacente à brecha ilegal em El Gueguerat, em clara violação
das cláusulas do Acordo Militar nº 1 (entre as partes, Marrocos e a Frente Polisario), as forças de ocupação marroquinas empreenderam, desde a noite de domingo, o destacamento em larga escala
do Exército, da Gendarmaria e de outras equipas de segurança para a zona ”, afirma um comunicado do governo saharaui.
O comunicado afirma, citando "informações fiáveis de fontes presentes no local", que os militares marroquinos se disfarçaram com roupas
civis, "aos olhos da MINURSO [Missão da ONU para o referendo no Sahara Ocidental]", para atacar civis saharauis, que bloqueiam a área desde 21 de outubro.
Qualquer incursão marroquina nesta zona libertada da RASD, conhecida como zona de separação, será considerada uma "agressão flagrante a que o
lado saharaui responderá com firmeza, em legítima defesa da sua soberania nacional", afirma. “Também significará o fim do cessar-fogo e abrirá as portas para a eclosão de
uma nova guerra total na região”, acrescenta.
O governo saharaui em comunicado defende o direito de se manifestar pelos "direitos inalienáveis do seu povo à autodeterminação e independência"
e responsabiliza a ONU, e especialmente o Conselho de Segurança, por "salvaguardar a integridade física dos civis saharauis presentes", em risco de "agressão militar iminente perpetrada
por soldados marroquinos disfarçados de civis", que pode levar a um "massacre hediondo". Mohamed VI reivindica a soberania "plena e integral" de Marrocos sobre o Sahara e nega o referendo No sábado passado, coincidindo com o 45º aniversário da Marcha Verde - quando soldados e civis marroquinos marcharam sobre o Sahara, então ocupado pelo Estado
espanhol -, o rei de Marrocos, Mohamed VI, fez um discurso marcado pela situação atual da Covid-19. Abordou também a questão do Sahara Ocidental ocupado. O monarca reivindicou a sua antiga proposta,
o plano autonomista, garantindo que o Marrocos permaneceria para sempre "no seu Sahara".O rei defendeu, de facto, pela primeira vez, uma solução aceitável por ambas as partes, a Frente Polisario e Marrocos. No entanto, sublinhou que não há
solução possível fora da soberania "plena e total" de Marrocos, ou da iniciativa de autonomia apresentada em 2007, rejeitando totalmente o referendo de autodeterminação prometido
e proposto pela ONU em 1991 (e para o qual foi constituída a Missão MINURSO).
Sem comentários:
Enviar um comentário