sexta-feira, 16 de abril de 2021

Frente Polisario rejeita Luís Amado como Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental

 

Luís Amado, ex-MNE do Governo Português

16-04-2021 - Luís Amado "não é o primeiro candidato a ser rejeitado, é o enésimo", desabafou um diplomata das Nações Unidas à AFP.

A Frente Polisário rejeitou o nome do português Luís Amado para representante das Nações Unidas na mediação do conflito no Sahara Ocidental, posição que se encontra desocupada há quase dois anos, avançou esta quinta-feira a agência France-Presse (AFP).

A agência de notícias francesa cita "fontes diplomáticas" que pediram anonimato e lembra que diversos outros contactos efetuados nos últimos dois anos "também fracassaram". "Este [Luís Amado] não é o primeiro candidato a ser rejeitado, é o enésimo", desabafou um diplomata das Nações Unidas à AFP.

Segundo "vários outros diplomatas", Luís Amado foi o último 'candidato' ao cargo a ser rejeitado pela Frente Polisario, após analisar declarações do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional, nos Governos de José Sócrates, que considerou terem "uma inclinação a favor de Marrocos".

"É exagerado", disse à AFP um dos diplomatas, enquanto outra fonte da agência considerou que o facto de o nome de Luís Amado ter sido apoiado por Rabat "era motivo suficiente para ter oposição dos saharauis".

Ainda segundo uma fonte diplomática da ONU, "os EUA estão a pressionar" para que seja encontrado um emissário para as negociações relativamente ao Sahara Ocidental.

Com a partida do ex-Enviado Pessoal em 2019, o antigo Presidente alemão Horst Kohler, (que alegou razões de saúde mas cujas verdadeiras razões assentam na obstaculização de Marrocos ao processo de autodeterminação), o Sahara Ocidental já “consumiu” cinco mediadores após os dois americanos James Baker e Christopher Ross e o holandês Peter Van Walssun, o último foi Kohler.

As figuras que vêm sendo conhecidas como alegadamente convidadas por António Guterres para o cargo suscitam as maiores apreensões quanto à isenção e peso político para mediar um conflito que dura desde 1975. Depois de figuras como o antigo SE dos EUA, James Baker, ou de diplomatas com um currículo internacional como Ross ou da envergadura política do antigo Presidente da Alemanha, a eventual nomeação de figuras de segunda linha é deliberadamente votar o processo ao fracasso de mais 30 anos, o que claramente interessa à parte marroquina. Recorde-se que Marrocos, ao tempo governado por Hassan II, subscreveu os acordos de 1991, que estabeleceram a criação da MINURSO e a realização do REFERENDO seis meses depois daquela data. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que o Reino de Marrrocos não quer à viva força a realização da consulta à população autóctone do Sahara Ocidental...

A abordagem da administração do democrata Joe Biden contrasta com a do ex-presidente republicano, Donald Trump, que no final do seu mandato, em dezembro, reconheceu a soberania de Marrocos nos territórios do Saara Ocidental, reclamados pela Frente Polisario.

A decisão de Trump não foi acolhida pelas Nações Unidas, que continuam a centrar-se nas resoluções adoptadas há cerca de 30 anos para a região.

A próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a questão do Saara Ocidental está agendada para quarta-feira.

No conflito do Sahara Ocidental, que dura há várias décadas, a Frente Polisário reclama a realização de um referendo, agendado pela ONU em 1991, tendo para isso criado então a Missão das Nações Unidas para o Referendo no SAhara Ocidental (MINURSO), enquanto Marrocos, que controla 80% daquele vasto território (que equivale a três vezes o território de Portugal), propõe um plano de autonomia sob a sua soberania.

 

O reatamento da guerra no território

A questão agudizou-se em novembro, após os separatistas saharauis terem interrompido o cessar-fogo em vigor desde 1991, em resposta a uma operação militar marroquina numa zona tampão (desmilitarizada) no extremo sul do Sahara Ocidental.

Há 155 dias que os combates prosseguem com a iniciativa por parte do Exército de Libertação Popular Saharaui (ELPS), que quotidianamente lança ataques de artilharia sobre o muro militar defensivo construído por Marrocos e que se estende por 2720 km.

C/ AFP e Lusa

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