“Em 2018, um kickboxer alemão fez amizade com Mohamed VI. O monarca tem sido raramente visto desde então”. Assim começa o longo artigo publicado na última edição da prestigiada revista britânica “The Economist”. O artigo, assente num exaustivo trabalho de investigação, relata a preocupação das elites marroquinas com a ausência de Mohamed VI de Marrocos: "Vamos num avião sem piloto" - diz uma fonte altamente colocada no Palácio Real ao articulista. O rei passou cerca de 200 dias no exterior em 2022, quando o país passa por uma fase económica sombria, flagelado por uma inflação galopante num país onde a distribuição da riqueza é verdadeiramente abissal.
Embora tratando em profundida a relação do monarca com os seus amigos Azaitar, o que o artigo traduz é uma impressão indelével de fim de ciclo ou fim de regime. Talvez que a visitas constantes e assíduas de altos representantes da administração norte-americana a Rabat e, em particular, dos diferentes responsáveis das secretas dos EUA, traduza, no fundo, essa preocupação.
14/04/2023 - The Economist - Por Nicolas Pelham - Correspondente do «The Economist» no Médio Oriente
Há cinco anos atrás, uma imagem invulgar apareceu no Instagram. Mostrava Mohamed VI, o rei de Marrocos de 54 anos, sentado num sofá ao lado de um homem musculado em roupa desportiva. Os dois homens juntos um ao lado do outro com sorrisos a condizer como um par de crianças no acampamento de verão. Os marroquinos estavam mais habituados a ver o seu rei sozinho num trono dourado.
A história por trás da foto era ainda mais estranha. Abu Azaitar, o homem de 32 anos, sentado ao lado do rei, é um veterano do sistema prisional alemão e campeão de artes marciais mistas (mma). Desde que se mudou para o Marrocos em 2018, o seu feed do Instagram cheio bitaites fez a elite conservadora do país estremecer. Não são apenas os carros de luxo deslumbrantes, é o tom notavelmente informal com que se dirige ao monarca: “Nosso querido rei”, escreveu ao lado de uma foto dos dois juntos. “Não tenho palavras para agradecê-lo o suficiente por tudo que ele fez por nós.”
Está a surgir uma crise em Marrocos, e o kickboxer radiante está no cerne da mesma. O país é considerado como uma das histórias de sucesso do mundo árabe. Tem uma próspera indústria automóvel e os seus ‘souks’ medievais e as suas tranquilas riads seduzem os turistas ocidentais. Marrocos parece ter todo o encanto do Médio Oriente e nenhum dos seus tumultos.
“A imprensa se tornou mais respeitosa com Hammouchi [chefe dos serviços de segurança e dos serviços secretos internos] do que com o rei”, diz um empresário marroquino.
Artigo em Inglês: AQUI
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