sexta-feira, 12 de maio de 2023

Sahara Ocidental: Luta pela independência é maior do que nunca cinco décadas depois - afirma representante da Frente Polisario em Portugal




Lisboa, 11 mai 2023 (Lusa) – Os objetivos da Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos, continuam os mesmos, mas a determinação, passados 50 anos, é “mais do que nunca”, disse hoje fonte oficial do movimento.

Em declarações à agência Lusa, por ocasião do 50.º aniversário da fundação do movimento, a 10 de maio de 1973, o representante da Frente Polisário em Portugal, Omar Mih, sublinhou que todo este tempo a luta “foi muito útil”, embora os objetivos estejam ainda por concretizar.

“Claro que foi muito útil. Não foram apenas 50 anos de luta e sofrimento. Foram também 50 anos de construção, vitórias e conquistas que resultaram hoje numa nova realidade sarauí, moderna, unificada, mais determinada do que nunca a lutar e mais capaz de vencer”, afirmou.

“O objetivo último e único é o de completar a soberania da República Sarauí sobre todo o seu território nacional”, acrescentou o representante, para quem o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que aprovou uma resolução em 1991 com vista à realização de um referendo de autodeterminação do território, ainda por cumprir, “optou por gerir o conflito e não por resolvê-lo”.


Omar Mih, representante da Frente POLISARIO em Portugal


Omar Mih responsabiliza a “arrogância e a intransigência” de Marrocos face a um processo negocial que Rabat diz não existir, pelo que considera tratar-se de um “não assunto”.

“A arrogância e a intransigência de Marrocos são um sinal de fraqueza. Marrocos teme a paz. O atual regime [do rei Mohammed VI] não tem a força necessária para avançar com os seus vizinhos para uma nova era de cooperação e integração sob os auspícios da paz e da estabilidade”, defendeu o representante do movimento em Portugal.

No seu entender, o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem demonstrado falta de vontade política para resolver um conflito, pelo que o caminho passa por exercer cada vez maior pressão para que o tema volte à agenda política internacional.

 “Há que exercer pressão sobre a parte que rejeita [Marrocos], até à data, todas as ofertas feitas pela ONU e pelos enviados pessoais [do secretário-geral]. Para isso, há que começar por romper com esta tendência crescente na ONU de querer sacrificar o Direito Internacional em nome de uma visão errónea, parcial e injusta da ‘realpolitik’ [prática política orientada para a obtenção de resultados e limitada apenas por exigências práticas]”, defendeu.

“A missão da ONU e a sua missão no Saara Ocidental é aplicar a sua carta e promover uma solução dentro desse quadro. É doloroso que, em vez de ser pressionado a chegar a uma solução, Marrocos esteja constantemente a receber gestos de cumplicidade que levaram ao colapso do processo e que podem conduzir a cenários ainda mais perigosos para todos nós”, concluiu.

Fundado por El-Ouali Mustapha Sayed, a Frente Polisário, acrónimo de Frente Popular de Libertação de Saguia e Hamra e Rio do Ouro, é um movimento político e revolucionário em favor da autonomia do território do Saara Ocidental e pela autodeterminação do povo sarauí, mediante a instituição da República Árabe Sarauí Democrática (RASD, proclamada unilateralmente em 1976).

O objetivo, em 1973, era combater a ocupação espanhola do antigo Saara Espanhol, com Madrid, dois anos depois, a abandonar o território, cedendo parte dele à Mauritânia e outra a Marrocos.

A Mauritânia deixou o território em 1979 e Marrocos, que ocupava o Saara Ocidental desde 1975, passou a tornar-se o adversário da Polisário, apoiada pela Argélia, onde residem mais de 125 mil refugiados sarauís.


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