Lisboa, 26 jan 2024 (Lusa) – Um fotógrafo ‘freelance’ português denunciou hoje à agência Lusa ter sido expulso terça-feira pelas autoridades marroquinas quando “documentava a resistência" na região do Saara Ocidental, e sem que lhe tenham sido explicadas formalmente as razões.
Em declarações à Lusa, Rafael Lomba, 24 anos, referiu que se encontrava em El Aiune, capital do Saara Ocidental, onde chegou a 19 deste mês, quando, terça-feira, cerca de uma dezena de polícias marroquinos bateram à porta do quarto do hotel onde se encontrava instalado e lhe deram 10 minutos para fazer as malas, para depois ser transportado para o aeroporto da cidade.
“Durante os cerca de 20 minutos de viagem até ao aeroporto, dentro de um carro da polícia, interrogaram-me sobre o que fazia em El Aiune e mostraram-me uma fotografia minha ao lado de supostos ativistas da Frente Polisário [movimento que luta pela independência do Saara Ocidental]”, relatou.
Rafael Lomba, natural de Braga, respondeu-lhes que estava na capital sarauí em turismo e que não entendia a razão pela qual estava a ser retido pela polícia, que, sem mais explicações, lhe retirou o telemóvel e o manteve sob custódia num voo até Casablanca, onde pernoitou no aeroporto local, também sob vigilância policial.
“Não me deixaram telefonar nem para a embaixada de Portugal [em Rabat] nem à minha família”, afirmou.
Na manhã do dia seguinte, o telemóvel foi-lhe devolvido à porta do avião e deixou Casablanca com destino a Portugal.
Para Lomba tratou-se de “mais uma das inúmeras violações” cometidas pelas autoridades marroquinas no “território ocupado do Saara Ocidental”, tema que, defendeu, “tem estado escondido” da agenda política internacional.
Assumindo que foi vontade sua observar a região, Rafael Lomba disse ter-se apoiado na plataforma Equipe Media, um coletivo de jornalistas do Saara Ocidental, para poder fotografar os locais com maior interesse.
Segundo Rafael Lomba, o objetivo da viagem era “documentar a resistência e a luta do povo sarauí pela independência do Sahara Ocidental”.
“A minha ideia inicial era começar pelos campos de refugiados sarauís, mas acabei por mudar de opinião porque era mais arriscado e havia a possibilidade de não poder, depois, visitar os territórios ocupados”, explicou Rafael Lomba.
“No entanto – prosseguiu – optei por ir primeiro para os territórios ocupados, onde tive oportunidade de testemunhar a brutal repressão de Marrocos contra o povo sarauí”, acrescentou.
Rafael Lomba lembrou que para visitar Marrocos e o Saara Ocidental basta ter um passaporte válido, razão pela qual rejeitou qualquer ideia de ter sido expulso por se encontrar em situação ilegal, considerando que os seus direitos foram desrespeitados.
A questão desta antiga colónia espanhola opõe há décadas Marrocos – que controla 80% do território e propõe um plano de autonomia sob a sua soberania – aos separatistas sarauís da Frente Polisário, apoiados pela Argélia.
Na ausência de um acordo final, o Saara Ocidental é considerado um “território não autónomo” pela ONU.
A Lusa tentou obter esclarecimentos junto da embaixada de Marrocos em Lisboa, mas não obteve, até agora, qualquer resposta
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