O ex-diplomata norte-americano deu a entender que entre os factores que torpedearam as negociações está o medo de Marrocos, a sua certeza do resultado do referendo, que será a escolha do povo saharaui pela independência. Além disso, o responsável deixou claro que Marrocos está certo de que os saharauis querem a independência em benefício do seu Estado, a RASD.
Omar Hilale, representante do Reino de Marrocos na ONU
Ross recorda que exerceu durante oito anos as funções de enviado pessoal do Secretário-Geral da ONU para o Sahara Ocidental. "A minha missão, tal como definida nas sucessivas resoluções do Conselho de Segurança, era facilitar as negociações directas entre Marrocos e a Frente Polisario, com vista a alcançar "uma solução política mutuamente aceitável, que preveja a autodeterminação do povo do Sahara Ocidental". Para esse efeito, as duas partes apresentaram as suas propostas em abril de 2007", lê-se na resposta do antigo enviado da ONU.
O diplomata norte-americano esclarece dúvidas e confirma que, durante os oito anos em que foi mediador da ONU, nunca apoiou nenhuma das propostas apresentadas por Marrocos e pela Frente Polisario, apesar das fortes pressões exercidas por Rabat para que defendesse a sua proposta de autonomia sob a soberania marroquina. "Defendi uma solução política como previsto nas resoluções do Conselho de Segurança. Nunca defini a forma que a autodeterminação deveria assumir e desafio os meus amigos marroquinos a citar qualquer declaração que eu tenha feito ao longo de oito anos a favor de um referendo. Acreditava firmemente que os termos da autodeterminação deveriam ser abordados em negociações entre as partes", acrescenta Ross.
O antigo mediador da ONU para o Sahara Ocidental acrescenta que, em cada uma das suas visitas à Argélia nos últimos oito anos, teve a oportunidade de pedir ao antigo presidente argelino Abdelaziz Bouteflika que o ajudasse na sua missão. "A sua resposta foi invariavelmente que a Argélia apoiaria qualquer decisão da Polisario, mas que, na sua opinião, qualquer acordo deveria passar por um referendo, como é o caso na própria Argélia. Marrocos está claramente dececionado com o facto de a Argélia não poder ser forçada a fazer mais para promover uma solução a seu gosto. Como Estado soberano, manteve a sua posição. Este foi o primeiro elemento de insatisfação de Marrocos em relação a mim", reconheceu Ross.
Ao longo dos anos, continua Ross, e vendo-me repetir constantemente a minha declaração de missão tal como consta das resoluções da ONU, Marrocos lamentou que eu nunca abandonasse a minha neutralidade para dar à sua proposta a "preeminência" que procurava. "Parece que Marrocos queria aplicar o princípio de que se eu não estou com ele, devo necessariamente estar contra ele. Para dizer a verdade, nunca me passou pela cabeça ser hostil a Marrocos, um país onde passei três anos maravilhosos da minha vida no início da minha carreira de diplomata americano e onde sempre tive amigos. Custa-me que o governo marroquino e alguns meios de comunicação social marroquinos me considerem hostil porque a minha neutralidade como mediador me impediu de promover a posição de Marrocos. Mas é uma pena. A vida é assim mesmo", conclui Ross.
Sem comentários:
Enviar um comentário