sábado, 18 de janeiro de 2014

A guerra contra o invasor marroquino



Fonte: El Sáhara de los Olvidados / Livro “Del Sáhara Español a la República Saharaui” // Por Emiliano Gómez


Fase da “Defesa Positiva”

A defesa positiva foi uma estratégia delineada pela Frente POLISARIO para atrasar o mais possível o avanço da invasão e assim permitir que a população civil pudesse pôr-se a salvo da repressão e do extermínio físico. Por essa razão as operações militares foram de caráter defensivo e tiveram um raio de ação limitado. Não obstante, a dureza dos confrontos pautou desde um primeiro momento o desenvolvimento ulterior da guerra.

As forças marroquinas tiveram que se haver com um inimigo tenaz e extremamente movediço, que atacava no lugar e no momento menos previsível, e se esfumava na paisagem com a mesma rapidez que tinha aparecido. O Exército Popular Saharaui desenvolveu um enorme esforço até que conseguiu completar a evacuação dos refugiados para a zona de Tindouf (Argélia) nos últimos dias de março de 1976.


Ofensiva de Verão

Com a proclamação da República Saharaui (27 de fevereiro de 1976), e depois de colocar ao abrigo do perigo dezenas de milhares de refugiados civis, a Frente POLISARIO deu por finalizada a denominada fase “Defesa Positiva”. A partir de então voltou-se a inverter o sinal dos confrontos, imprimindo um caráter ofensivo às ações do Exército Popular.

A Ofensiva de Verão prolongou-se até finais de agosto. Durante o seu curso, o Exército Popular conseguiu tomar a iniciativa no terreno e apoderar-se do armamento necessário para desenvolver ações de maior envergadura. Mostrou também que poderia atingir no mais profundo da retaguarda do inimigo, sem que a distância constituísse um obstáculo intransponível.



Quarto Congresso da Frente POLISARIO. Ofensiva “Houari Boumédiène”

Em setembro de 1978 teve lugar o 4º Congresso da Frente POLISARIO sob o lema: ”A luta continua para impor a independência nacional e a paz”. Este Congresso ordenou ao Exército Popular o desencadeamento da ofensiva “Houari Boumédiène” assim denominada em homenagem ao presidente argelino recentemente falecido.

A vasta operação bélica haveria de prolongar-se até meados de 1981 e as suas ações mais importantes seriam levadas a cabo na região do Saguia El Hamra (centro e norte do Sahara Ocidental) e, sobretudo, na região sul do território marroquino. O objetivo central da ofensiva era destruir as bases de apoio logístico das FAR (Forças Armadas Reais), desorganizar a sua retaguarda e isolar as tropas destacadas no Sahara.

Um balanço da F. POLISARIO indicava que, entre novembro de 1978 e finais de outubro de 1979, e o exército marroquino teria sofrido 20.140 baixas entre mortos e feridos, além de 739 efetivos capturados. Também havia perdido 1.650 veículos de todo tipo, assim como sete helicópteros e seis aviões.

A ofensiva saharaui prosseguiu com intensidade durante o ano de 1980. A 1 de março desse ano, um exército marroquino composta por 8000 efetivos internou-se na região montanhosa de Ouarkziz (sul de Marrocos), com o objetivo de desalojar a zona de forças saharauis. A batalha prolongou-se até 11 de março e teve um final desastroso para as FAR: 2.000 baixas, 108 prisioneiros e 41 carros blindados e 181 veículos destruídos.



Um despacho da Agência France Presse, descrevia o aspeto que apresentava o cenário dos combates uma vez finalizados:

“No dia seguinte à batalha que se desenrolou entre os dias 1 e 11 de março e em que os agrupamentos móveis marroquinos OUHOUD e ZELLAGA foram deslocados, um pequeno grupo de jornalistas da imprensa internacional, pôde visitar durante 48 horas uma parte do campo de batalha que se estende numa frente de 120 quilómetros. Os cadáveres dos militares marroquinos jaziam às dezenas nos diversos lugares dos enfrentamentos, com guarnições e tropas dos blindados e dos transportes de tropa carbonizados no seu interior, testemunhando a violência dos combates ".

A última ação de grande envergadura, e talvez a mais impactante da ofensiva “Houari Boumédiène” foi o ataque a Guelta Zemmur e o virtual aniquilamento da sua guarnição. Com efeito, a 13 de outubro de 1981 o IV Regimento das FAR foi aniquilado e o seu comandante pôs-se em fuga abandonando até a sua documentação pessoal.

Os combatentes do ELPS (Exército de Libertação Popular Saharaui) atravessaram os campos minados e as barreiras de arame farpado e tomaram de assalto o dispositivo do regimento. Nessa ação capturaram 230 prisioneiros, destruíram 4 aviões e apoderaram-se de uma enorme reserva de provisões e armamento.

A ofensiva “Houari Boumédiène” obrigou o alto comando marroquino a rever a sua estratégia no Sahara Ocidental. Em finais de 1980, o ELPS controlava mais das três quartas partes do solo pátrio e tinha mergulhado na aflição todo o sistema militar do sul de Marrocos.




Estratégia dos muros e participação norte-americana

Tendo em vista os péssimos resultados militares, o governo marroquino decidiu erigir um sistema defensivo para proteger a zona económica mais importante do Sahara, isto é, o denominado “triângulo útil” cujos vértices eram El Aaiún, Smara e Bu-Craa.

A nova estratégia marroquina baseava-se na criação de uma área, teoricamente inexpugnável, que pudesse ser alargada gradualmente até abarcar a totalidade do território saharaui. Deste modo poder-se-ia conseguir: 1º – Proteger o “triângulo útil” e isolar o sul de Marrocos mediante um muro fortificado que fosse intransitável para o exército saharaui. 2º – Reduzir sucessivamente a área controlada pela Frente POLISARIO para impedir a mobilidade das suas unidades de combate.

Entre agosto de 1980 e os primeiros meses de 1982 foi construído o primeiro muro em torno do “triângulo útil”. Quase de imediato, foram levantados o segundo e o terceiro para ampliar a proteção do mencionado “triângulo”. Posteriormente, em maio de 1984, Marrocos começou a erigir o quarto muro, e um ano depois o quinto. Em 1987, com o sexto muro, as obras defensivas totalizavam 2500 quilómetros e estendiam-se desde a região de Ouarkziz no sul marroquino, até à fronteira meridional do Sahara.




Os muros em questão são barreiras de pedra e areia, com uma altura média de três metros. À frente deles, a uma centena de metros de distância, estende-se uma faixa de campo minado, e entre este e os muros existem defesas de arame farpado. O complexo defensivo dispõe de um sistema de radares capaz de detetar o movimento de uma pessoa a vários quilómetros de distância.

A guarnição destes muros é composta por unidades com diferente potencial de fogo de acordo com o comprimento do troço de defender.

Cada dez quilómetros há um “ponto de apoio” com 150 homens armados com metralhadoras ligeiras e metralhadoras pesadas, armas antitanque e morteiros de 80 a 120 mm. Entre dois “pontos de apoio” há uma “sonnette” (alarme) integrada por 46 homens. Entre todas estas posições há um patrulhamento contínuo durante as vinte e quatro horas.

Dez quilómetros atrás do muro há um segundo dispositivo defensivo integrado por unidades de tanques, artilharia e destacamentos blindados, cuja missão é ajudar imediatamente qualquer ponto atacado, e fechar a ruptura da primeira linha. O sistema de defesa terrestre é reforçado com apoio aéreo de helicópteros e aviões de combate.


Segundo a Frente POLISARIO, o desenho da estratégia marroquina foi possível graças à assessoria técnica e ao apoio político e económico brindado pelos Estados Unidos. A colaboração militar entre os EUA e Marrocos intensificou-se depois de Hassan II ter atuado como mediador na aproximação entre Israel e alguns países árabes, aproximação que culminou com a assinatura dos acordos de Camp Davis em 1978.

Já em princípios de 1979, o Departamento de Estado autorizou a venda de vários helicópteros ao governo marroquino. Pouco depois concedeu-lhe ajuda militar num montante multimilionário. Uma boa parte desses fundos foi destinada à construção e equipamento dos muros defensivos. Graças a isso, o trono alauita conseguiu afastar o espetro de uma eminente derrota.

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