terça-feira, 22 de julho de 2014

Uma evolução que inquieta Marrocos: a Frente Polisario nas manchetes da imprensa egípcia



Em Rabat, círculos marroquinos dizem-se alarmados pela notoriedade da questão do Sahara Ocidental na imprensa egípcia, sobretudo `pelo movimento de simpatia que mostra a causa saharaui. É o que reportam vários grandes quotidianos pan-árabes, como o “Al Hayat” e o “Al Quds Al Arabi”, editados em Londres, que referem que se regista agora uma mudança na postura oficial do Cairo sobre o velho conflito do Sahara Ocidental, pelo menos desde a aproximação entre a Argélia e o Egipto, que se refletiu, em particular, com a visita do presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, à Argélia o mês passado.

Observa-se, de facto, uma campanha mediática no Egipto, onde surgiram longas entrevistas com responsáveis da Frente Polisario e reportagens realizadas por vários periódicos egípcios nos últimos dias, que evidenciam uma franca solidariedade com a tese da autodeterminação do povo saharaui, considerando a presença marroquina no Sahara Ocidental como uma ocupação que deve terminar.



O periódico "Misr Al Yawm” publicou numa das suas edições da semana passada um importante artigo sobre a questão saharaui. Por seu lado, a revista egípcia "Rose Al Youssef” dedicou várias páginas ao conflito do Sahara Ocidental, onde figura com grande destaque uma longa entrevista com o presidente saharaui Mohamed Abdelaziz. Este último parece ter aproveitado a oportunidade para pôr tudo sobre a mesa. "A Frente encontra-se sob a pressão dos jovens, cansados ​​de viver nos acampamentos e que querem voltar à guerra", declarou.



O Presidente Abdelaziz deplorou o facto de a UE ter reduzido em 60% a sua ajuda aos acampamentos de Tindouf. Atribuiu esta diminuição às "consequências da crise económica". Mas, sobretudo, criticou a falta de participação dos países árabes em encontrar uma solução duradoura para o conflito do Sahara Ocidental.

Em resposta, sítios de notícias marroquinos (ou sítios de propaganda, conforme o ponto de vista), criticam violentamente a perda por parte do Egipto da sua neutralidade no conflito, algo que sucedeu no passado, não só com o Egipto, mas também em relação a muitos países árabes, especialmente no âmbito da Liga Árabe. A imprensa marroquina, em particular a que é próxima do governo islamita de Marrocos, aproveitou para qualificar o atual executivo do Cairo como ilegítimo depois do golpe militar contra o ex-presidente e líder dos Irmãos Muçulmanos, Mohamed Morsi.

Uma «bronca» na ON TV: a apresentadora Amani El Khayat qualificou Marrocos de «Bordel"

As relações entre os dois países deterioraram-se seriamente com a gafe de uma apresentadora [Amani El Khayat] de uma cadeia de televisão egípcia ON TV (propriedade do patrão da Orascom, Naguib Sawiriss) que qualificou Marrocos como "bordel". O ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shokry, teve que reagir, expressando a sua desaprovação, reuniu com os patrões dos meios de comunicação e sublinhou numa declaração ao Al Ahram "as boas relações" entre o Cairo e Rabat especialmente desde o dia 3 de julho de 2013 (queda de Mohamed Morsi – nota do tradutor). Simultaneamente, encarregou o embaixador egípcio em Rabat a emitir, quinta-feira, 17 de julho, um comunicado em que expressa a sua indignação e repúdio pelas declarações proferidas pela apresentadora da televisão  egípcia sobre Marrocos.


Fonte: Le Jour d'Algérie, 22/07/2014

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