Ministro da Defesa durante os
anos de guerra, antigo delegado da Polisario em Espanha, anterior embaixador da
RASD na Argélia, Brahim Ghali foi eleito novo líder da Frente Polisario, após
se terem cumprido 40 dias de luto nacional decretados pela morte do anterior
líder, Mohamed Abdelaziz, falecido a 31 de maio após prolongada doença.
Responsável das organizações
políticas, único candidato à presidência, Brahim Ghali, obteve 93,19% dos votos
de um total de 2.470 congressistas no XV Congresso extraordinário realizado
este fim-de-semana nos campos de refugiados saharauis de Dakhla, no sudoeste da
Argélia, segundo dados oficiais definitivos divulgados hoje pela Comissão
Eleitoral Nacional (CEN).
''Houve votos nulos (64), assim
como congressistas que não votaram ou fizeram-no em branco"(65) e 538
abstenções'', precisou uma fonte ao El
Confidencial Saharaui.
Na opinião daquele meio de
informação “Brahim Ghali é um homem que garante a continuidade das atuais
políticas, mas que também está disposto a mudá-las e a endurecê-las como exigem
alguns jovens se a via diplomática continuar estagnada.
Afável e com um perfeito domínio
do espanhol, fontes saharauis asseguram que Ghali é "um líder de consenso"
que manterá a linha traçada pelo secretariado geral apostando por prosseguir a via
diplomática.
Ghali, ex-ministro da Defesa e
antigo delegado saharaui para Espanha e depois embaixador na Argélia, volta a
assumir o cargo pela segunda vez - após 43 anos do seu primeiro mandato como
Secretário-Geral da FP - para um novo mandato de 4 anos, até 2020.
Dentro do governo saharaui, Ghali
é considerado um dos "duros" dentro do aparelho saharaui, partidário do
retorno às armas se se continuar a permitir a política dilatória de Marrocos.
O percurso de Brahim Ghali
Nascido na localidade de
Smara, no Sahara Ocidental, a 16 de setembro de 1949, sob mandato colonial de
Espanha, Ghali era atualmente responsável das organizações de massas e organização
política da Frente Polisario, movimento de que é um dos seus fundadores.
O novo presidente saharaui serviu
nas tropas nómadas espanholas na década de sessenta e foi destacado para Smara,
onde realizou trabalhos de administração.
Em 1969 juntou-se à luta do histórico
herói saharaui Mohamad Bassiri, e a outros homens como Mohamed Abdelaziz, a
quem agora sucede, para fundar o "Movimento de Libertação de Saguia el
Hamra e Wadi el Dhahab", origem da Frente Polisario.
Nos primeiros tempos, na proclamação da República Saharaui, nos anos de guerra, Brahim Gahli esteve sempre na primeira linha da luta de libertação... |
Eleito primeiro secretário-geral
da Frente Polisario, Ghali foi um dos líderes da tragicamente famosa manifestação
de 16 de junho de 1970 em El Aaiún - conhecida como Intifada de Zemla -,
reprimida com dureza pelo Exército ocupante espanhol, na sequência da qual foi
preso durante um ano, acusado de atividade política subversiva, e o líder do
movimento, Mohamad Bassiri, viria a ser morto na prisão e o seu corpo feito
desaparecer pelas autoridades coloniais.
Meses depois da sua
libertação voltou a ser preso, passou vário tempo detido ou vigiado, o que não o
impediu de participar nas reuniões que estiveram na base da fundação, a 10 de
Maio de 1973, da Frente Polisario, e ser eleito primeiro secretário-geral do movimento,
cargo que agora volta a assumir.
Homem de ação, decidido,
valente e ambicioso segundo aqueles que o conhecem, chefiou a primeira ação armada
contra as tropas de ocupação espanholas em El Khanga.
Partidário da pressão militar
como via para alcançar objetivos políticos, Ghali cedeu em 1974 a secretaria-geral
ao seu companheiro e também histórico líder El Uali Mustafa Sayed, e assumiu a
direção do braço armado do movimento, conhecido como "Exército de Libertação
do Povo Saharaui".
Em 1975, fez parte – juntamente
com El Uali e Mahfud Ali Beiba (ambos já falecidos) - da primeira delegação saharaui
que se reuniu oficialmente com o então governador do Sahara Ocidental ocupado
por Espanha, o general Federico Gómez de Salazar.
Membro do núcleo que, em fevereiro
de 1976, proclamou na localidade de Bir Lehlu a República Árabe Saharaui
Democrática (RASD), exerceu o cargo de ministro de Defesa desde a sua criação
até 1989, ano em que passou a dirigir a 2.ª região militar, uma das mais
importantes.
''Durante esses 13 anos,
dirigiu com êxito estratégico e mão-de-ferro a guerra de guerrilhas contra a Mauritânia
e Marrocos, potências ocupantes do território após a famosa "Marcha
Verde" marroquina de 1975 e os Acordos de Madrid''.
Conseguido o cessar-fogo de
1991 e iniciado o processo de diálogo com Rabat em busca do referendo de
autodeterminação que a autoridade colonial espanhola prometeu na década de sessenta,
Ghali foi nomeado em 1999 representante da Polisario em Espanha, cargo que exerceu
até fevereiro de 2008.
Meses depois foi nomeado embaixador
saharaui na Argélia, cargo que exerceu até que, no anterior congresso, realizado
em dezembro de 2015, com um Mohamed Abdelaziz já doente, foi reincorporado nas funções
governativas como responsável da organização de massas e organização política da
Frente Polisario.
Passo prévio para a sua
eleição de agora como secretário-geral e sucessor de Abdelaziz à frente da
RASD, uma designação que não entusiasma Marrocos, que segundo parece preferia um
homem com um perfil "mais dialogante e brando".
A sua primeira prova de fogo
será precisamente a decisão que a ONU venha a tomar em finais deste mês de
julho sobre a continuidade da sua missão no Sahara Ocidental (MINURSO).
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