sábado, 9 de julho de 2016

Brahim Ghali é o novo SG da Frente POLISARIO e Presidente da República Saharaui




Ministro da Defesa durante os anos de guerra, antigo delegado da Polisario em Espanha, anterior embaixador da RASD na Argélia, Brahim Ghali foi eleito novo líder da Frente Polisario, após se terem cumprido 40 dias de luto nacional decretados pela morte do anterior líder, Mohamed Abdelaziz, falecido a 31 de maio após prolongada doença.
Responsável das organizações políticas, único candidato à presidência, Brahim Ghali, obteve 93,19% dos votos de um total de 2.470 congressistas no XV Congresso extraordinário realizado este fim-de-semana nos campos de refugiados saharauis de Dakhla, no sudoeste da Argélia, segundo dados oficiais definitivos divulgados hoje pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN).

''Houve votos nulos (64), assim como congressistas que não votaram ou fizeram-no em branco"(65) e 538 abstenções'', precisou  uma fonte ao El Confidencial Saharaui.

Na opinião daquele meio de informação “Brahim Ghali é um homem que garante a continuidade das atuais políticas, mas que também está disposto a mudá-las e a endurecê-las como exigem alguns jovens se a via diplomática continuar estagnada.

Afável e com um perfeito domínio do espanhol, fontes saharauis asseguram que Ghali é "um líder de consenso" que manterá a linha traçada pelo secretariado geral apostando por prosseguir a via diplomática.

Ghali, ex-ministro da Defesa e antigo delegado saharaui para Espanha e depois embaixador na Argélia, volta a assumir o cargo pela segunda vez - após 43 anos do seu primeiro mandato como Secretário-Geral da FP - para um novo mandato de 4 anos, até 2020.

Dentro do governo saharaui, Ghali é considerado um dos "duros" dentro do aparelho saharaui, partidário do retorno às armas se se continuar a permitir a política dilatória de Marrocos.



O percurso de Brahim Ghali

Nascido na localidade de Smara, no Sahara Ocidental, a 16 de setembro de 1949, sob mandato colonial de Espanha, Ghali era atualmente responsável das organizações de massas e organização política da Frente Polisario, movimento de que é um dos seus fundadores.

O novo presidente saharaui serviu nas tropas nómadas espanholas na década de sessenta e foi destacado para Smara, onde realizou trabalhos de administração.

Em 1969 juntou-se à luta do histórico herói saharaui Mohamad Bassiri, e a outros homens como Mohamed Abdelaziz, a quem agora sucede, para fundar o "Movimento de Libertação de Saguia el Hamra e Wadi el Dhahab", origem da Frente Polisario.

Nos primeiros tempos, na proclamação da República Saharaui, nos anos de guerra, Brahim Gahli esteve sempre na primeira linha da luta de libertação...


Eleito primeiro secretário-geral da Frente Polisario, Ghali foi um dos líderes da tragicamente famosa manifestação de 16 de junho de 1970 em El Aaiún - conhecida como Intifada de Zemla -, reprimida com dureza pelo Exército ocupante espanhol, na sequência da qual foi preso durante um ano, acusado de atividade política subversiva, e o líder do movimento, Mohamad Bassiri, viria a ser morto na prisão e o seu corpo feito desaparecer pelas autoridades coloniais.

Meses depois da sua libertação voltou a ser preso, passou vário tempo detido ou vigiado, o que não o impediu de participar nas reuniões que estiveram na base da fundação, a 10 de Maio de 1973, da Frente Polisario, e ser eleito primeiro secretário-geral do movimento, cargo que agora volta a assumir.

Homem de ação, decidido, valente e ambicioso segundo aqueles que o conhecem, chefiou a primeira ação armada contra as tropas de ocupação espanholas em El Khanga.

Partidário da pressão militar como via para alcançar objetivos políticos, Ghali cedeu em 1974 a secretaria-geral ao seu companheiro e também histórico líder El Uali Mustafa Sayed, e assumiu a direção do braço armado do movimento, conhecido como "Exército de Libertação do Povo Saharaui".



Em 1975, fez parte – juntamente com El Uali e Mahfud Ali Beiba (ambos já falecidos) - da primeira delegação saharaui que se reuniu oficialmente com o então governador do Sahara Ocidental ocupado por Espanha, o general Federico Gómez de Salazar.

Membro do núcleo que, em fevereiro de 1976, proclamou na localidade de Bir Lehlu a República Árabe Saharaui Democrática (RASD), exerceu o cargo de ministro de Defesa desde a sua criação até 1989, ano em que passou a dirigir a 2.ª região militar, uma das mais importantes.

''Durante esses 13 anos, dirigiu com êxito estratégico e mão-de-ferro a guerra de guerrilhas contra a Mauritânia e Marrocos, potências ocupantes do território após a famosa "Marcha Verde" marroquina de 1975 e os Acordos de Madrid''.



Conseguido o cessar-fogo de 1991 e iniciado o processo de diálogo com Rabat em busca do referendo de autodeterminação que a autoridade colonial espanhola prometeu na década de sessenta, Ghali foi nomeado em 1999 representante da Polisario em Espanha, cargo que exerceu até fevereiro de 2008.

Meses depois foi nomeado embaixador saharaui na Argélia, cargo que exerceu até que, no anterior congresso, realizado em dezembro de 2015, com um Mohamed Abdelaziz já doente, foi reincorporado nas funções governativas como responsável da organização de massas e organização política da Frente Polisario.

Passo prévio para a sua eleição de agora como secretário-geral e sucessor de Abdelaziz à frente da RASD, uma designação que não entusiasma Marrocos, que segundo parece preferia um homem com um perfil "mais dialogante e brando".


A sua primeira prova de fogo será precisamente a decisão que a ONU venha a tomar em finais deste mês de julho sobre a continuidade da sua missão no Sahara Ocidental (MINURSO).

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