quinta-feira, 14 de junho de 2018

Mohamed Elouali Akeik, primeiro-ministro da RASD: “O Sahara Ocidental não pertence a Marrocos”





Mohamed Elouali Akeik é, desde fevereiro do ano passado, o primeiro ministro da República Árabe Saharaui Democrática (RASD). Este histórico da Frente Polisario contra a invasão marroquina, e fundador do braço secreto desta organização na cidade de El Aaiún ocupada, substituiu Abdelkader Taleb Omar, após 15 anos no cargo. Esta é a primeira entrevista da Akeik a um órgão de informação espanhol.

O novo presidente de RASD tem vindo a introduzir alterações no governo desde a sua eleição em 2016. O que significa a sua nomeação?

A minha tarefa é continuar a lutar pela libertação do nosso povo como o fez o meu antecessor de forma comprometida com a causa. O Presidente Gali confiou-me a missão inicial de formar um novo executivo RASD o mais rápido possível.

Que novos ares trouxe Brahim Gali em comparação com aquele que foi presidente durante 40 anos, o falecido Mohamed Abdelaziz em 2016?

O presidente Brahim Gali supõe a continuidade total, porque todos os saharauis temos os mesmos objetivos: soberania, independência e construção do Estado saharaui.

O Tribunal de Justiça Europeu reafirmou recentemente, numa resolução de Dezembro passado, que o acordo de pesca entre a União Europeia e Marrocos não pode ser aplicado ao Sahara Ocidental ou às suas águas territoriais. Qual é a sua leitura?

Fica claro, mais uma vez, e já há muito tempo, que a legalidade europeia e internacional está do lado do povo saharaui e nos dá grande força para continuar a nossa luta.

Isso também significa que a Europa se está aproximando do Sahara Ocidental?

No nível judicial, muitos progressos estão ocorrendo a nível europeu. Após a decisão do Tribunal de Justiça Europeu de Dezembro sobre os produtos da pesca e a agricultura e a resolução de 27 de Fevereiro sobre os acordos de pesca da União Europeia com o reino alauita, fica evidente que o Sahara Ocidental não pertence Marrocos e a nossa causa é vista com mais atenção. É justo que os países e empresas europeus respeitem a legalidade internacional.

É mais um passo para a tão desejada independência ?

É um passo gigantesco para nós, porque é impossível que, hoje, a Europa continue a fazer ouvidos moucos e a fechar os olhos às violações dos direitos humanos que o Marrocos está a cometer todos os dias.

A opção militar continua em cima da mesa?

Está sempre. Enquanto não for resolvido o problema, ela estará sempre. Com o ambiente geopolítico atual, creio que estamos um pouco mais próximos da solução diplomática e a mais afastada a militar, mas esta nunca desaparecerá até que o conflito seja solucionado.

E o referendo?

Marrocos nunca teve a intenção de realizar esta consulta aos saharauis, como o demostrou ao longo de 27 anos durante os quais impediu a aplicação do plano de Paz que aceitou e subscreveu ante da ONU em 1991.

O que pensa do posicionamento dos vários governos espanhóis ao longo destes anos sobre a causa saharaui?

Ignoraram sempre as suas responsabilidades e foi precisamente a Espanha que causou toda a calamidade que o povo saharaui sofre nestes últimos 42 anos. A Espanha poderia ter muito boas relações com o RASD e isso teria sido muito mais benéfico para os dois países.

No entanto, muitos cidadãos e organizações do Estado espanhol estão muito envolvidos com a causa saharaui...

A esses só tenho que lhes agradecer e dizer-lhes: bravo. Nós, os saharauis sabemos muito bem distinguir entre os governos espanhóise o povo espanhol.

Como recorda Mohamed Abdelaziz?

Foi um símbolo do nacionalismo saharaui, da resistência e da unidade do povo saharaui. Também foi um combatente, um militar e um político fundamental para a RASD.

O senhor esteve preso um ano em Espanha. Porquê?

Fui detido com 24 anos em El Aaiún, concretamente a 6 de novembro de 1974. Acusaram-me de fazer parte do grupo que atacou a 16 de outubro a cinta transportadora da empresa (de fosfatos) Fos Bucraa. Estive preso um ano em Las Palmas juntamente com outros seis jovens companheiros.

E também foi ferido na guerra contra Marrocos…

A explosão de uma mina feriu-me com gravidade, mas não tem nada a ver com o genocídio de que foi alvo o povo saharaui na invasão marroquina. A sua aviação bombardeou com fósforo branco e napalm famílias que fugiam pelo deserto para escapar à barbárie do exército marroquino. Foi um massacre com fuzilamentos extrajudiciais, cidadãos enterrados com vida em fossas comuns, lançamento de pessoas de helicópteros e desaparecimentos forçados.

Até há pouco era ministro dos Territórios Ocupados e da Diáspora. Como se vive a repressão nos territórios ocupados?

É a mais brutal e desproporcionada que existe hoje em qualquer país no mundo. Mas é também a mais silenciada, porque Marrocos estabeleceu um bloqueio informativo quase impenetrável, com expulsões de jornalistas e ativistas de direitos humanos.

E o pior exemplo são as penas proferidas contra os presos de Gdeim Izik?

Esse julgamento foi uma farsa onde foram fabricadas provas para culpar injustamente os saharauis que protestaram contra a ocupação. O acampamento de Gdeim Izik em 2010 foi uma expressão pacífica e civilizada contra a ocupação ilegal do Sahara Ocidental. As penas de prisão perpétua para oito jovens saharauis, três sentenças de 30 anos, cinco de 25 anos e três outras de 20 anos são uma violação flagrante dos direitos humanos.

Fonte e foto: Mundo Negro / Por Eugenio G. Delgado


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