Mohamed
Elouali Akeik é, desde fevereiro do ano passado, o primeiro ministro
da República Árabe Saharaui Democrática (RASD). Este histórico da
Frente Polisario contra a invasão marroquina, e fundador do braço
secreto desta organização na cidade de El Aaiún ocupada,
substituiu Abdelkader Taleb Omar, após 15 anos no cargo. Esta é a
primeira entrevista da Akeik a um órgão de informação espanhol.
O
novo presidente de RASD tem vindo a introduzir alterações no
governo desde a sua eleição em 2016. O que significa a sua
nomeação?
A
minha tarefa é continuar a lutar pela libertação do nosso povo
como o fez o meu antecessor de forma comprometida com a causa. O
Presidente Gali confiou-me a missão inicial de formar um novo
executivo RASD o mais rápido possível.
Que
novos ares trouxe Brahim Gali em comparação com aquele que foi
presidente durante 40 anos, o falecido Mohamed Abdelaziz em 2016?
O
presidente Brahim Gali supõe a continuidade total, porque todos os
saharauis temos os mesmos objetivos: soberania, independência e
construção do Estado saharaui.
O
Tribunal de Justiça Europeu reafirmou recentemente, numa resolução
de Dezembro passado, que o acordo de pesca entre a União Europeia e
Marrocos não pode ser aplicado ao Sahara Ocidental ou às suas águas
territoriais. Qual é a sua leitura?
Fica
claro, mais uma vez, e já há muito tempo, que a legalidade europeia
e internacional está do lado do povo saharaui e nos dá grande força
para continuar a nossa luta.
Isso
também significa que a Europa se está aproximando do Sahara
Ocidental?
No
nível judicial, muitos progressos estão ocorrendo a nível europeu.
Após a decisão do Tribunal de Justiça Europeu de Dezembro sobre os
produtos da pesca e a agricultura e a resolução de 27 de Fevereiro
sobre os acordos de pesca da União Europeia com o reino alauita,
fica evidente que o Sahara Ocidental não pertence Marrocos e a nossa
causa é vista com mais atenção. É justo que os países e empresas
europeus respeitem a legalidade internacional.
É
mais um passo para a tão desejada independência ?
É
um passo gigantesco para nós, porque é impossível que, hoje, a
Europa continue a fazer ouvidos moucos e a fechar os olhos às
violações dos direitos humanos que o Marrocos está a cometer todos
os dias.
A
opção militar continua em cima da mesa?
Está
sempre. Enquanto não for resolvido o problema, ela estará sempre.
Com o ambiente geopolítico atual, creio que estamos um pouco mais
próximos da solução diplomática e a mais afastada a militar, mas
esta nunca desaparecerá até que o conflito seja solucionado.
E
o referendo?
Marrocos
nunca teve a intenção de realizar esta consulta aos saharauis, como
o demostrou ao longo de 27 anos durante os quais impediu a aplicação
do plano de Paz que aceitou e subscreveu ante da ONU em 1991.
O
que pensa do posicionamento dos vários governos espanhóis ao longo
destes anos sobre a causa saharaui?
Ignoraram
sempre as suas responsabilidades e foi precisamente a Espanha que
causou toda a calamidade que o povo saharaui sofre nestes últimos 42
anos. A Espanha poderia ter muito boas relações com o RASD e isso
teria sido muito mais benéfico para os dois países.
No
entanto, muitos cidadãos e organizações do Estado espanhol estão
muito envolvidos com a causa saharaui...
A
esses só tenho que lhes agradecer e dizer-lhes: bravo. Nós, os
saharauis sabemos muito bem distinguir entre os governos espanhóise
o povo espanhol.
Como
recorda Mohamed Abdelaziz?
Foi
um símbolo do nacionalismo saharaui, da resistência e da unidade do
povo saharaui. Também foi um combatente, um militar e um político
fundamental para a RASD.
O
senhor esteve preso um ano em Espanha. Porquê?
Fui
detido com 24 anos em El Aaiún, concretamente a 6 de novembro de
1974. Acusaram-me de fazer parte do grupo que atacou a 16 de outubro
a cinta transportadora da empresa (de fosfatos) Fos Bucraa. Estive
preso um ano em Las Palmas juntamente com outros seis jovens
companheiros.
E
também foi ferido na guerra contra Marrocos…
A
explosão de uma mina feriu-me com gravidade, mas não tem nada a ver
com o genocídio de que foi alvo o povo saharaui na invasão
marroquina. A sua aviação bombardeou com fósforo branco e napalm
famílias que fugiam pelo deserto para escapar à barbárie do
exército marroquino. Foi um massacre com fuzilamentos
extrajudiciais, cidadãos enterrados com vida em fossas comuns,
lançamento de pessoas de helicópteros e desaparecimentos forçados.
Até
há pouco era ministro dos Territórios Ocupados e da Diáspora. Como
se vive a repressão nos territórios ocupados?
É
a mais brutal e desproporcionada que existe hoje em qualquer país no
mundo. Mas é também a mais silenciada, porque Marrocos estabeleceu
um bloqueio informativo quase impenetrável, com expulsões de
jornalistas e ativistas de direitos humanos.
E
o pior exemplo são as penas proferidas contra os presos de Gdeim
Izik?
Esse
julgamento foi uma farsa onde foram fabricadas provas para culpar
injustamente os saharauis que protestaram contra a ocupação. O
acampamento de Gdeim Izik em 2010 foi uma expressão pacífica e
civilizada contra a ocupação ilegal do Sahara Ocidental. As penas
de prisão perpétua para oito jovens saharauis, três sentenças de
30 anos, cinco de 25 anos e três outras de 20 anos são uma violação
flagrante dos direitos humanos.
Fonte
e foto: Mundo Negro / Por Eugenio G. Delgado
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