Horst Köhler |
Fonte: La Vanguardia / Por Adolfo S. Ruiz — A ONU supervisionará
uma "mesa redonda" sobre o Sahara [Ocidental] nos dias 4 e
5 de dezembro em Genebra, com a presença de todas as partes
envolvidas no conflito. O ex-presidente alemão Horst Köhler,
enviado especial do Secretário Geral das Nações Unidas, António
Guterres, já tem confirmação oficial de que Marrocos, Frente
Polisario, Argélia e Mauritânia estarão à mesa.
Os responsáveis das Nações Unidas, Guterres e Köhler, evitam
falar em "negociações" e reduzem a reunião a uma
"discussão", de modo que não propõem uma agenda de
questões, mas pediram às partes que fizessem chegar sugestões e
iniciativas. O prazo para aceitar esta mesa-redonda terminou no dia
20 e Stephane Dijarric, porta-voz do secretário-geral, confirmou a
resposta positiva de todas as partes.
O último ciclo de negociações diretas entre Marrocos e o Polisario
sobre o problema do Sahara remonta a 2012, data a partir da qual não
foram realizados novos contactos. A estagnação da situação levou
Guterres a confiar a Köhler em 2017 a missão de tentar reunir
novamente os marroquinos e os saharauis. O ex-presidente alemão
assumiu a tarefa com absoluta seriedade e diligência, sem regatear
esforços. Entre o final de junho e início de julho, fez um périplo
que o levou a Argel, Nouakchott, Tindouf, Rabat, El Aaiun, Smara e
Dakhla.
A Argélia é a parte que mantém maiores reticências ao encontro
uma vez que o regime de Buteflika continua a defender que o problema
do Sahara é uma questão bilateral entre Marrocos e a Frente
Polisário. Rabat, por sua vez, insiste que a Argélia deve ter uma
representação do mais alto nível "como um parte totalmente
envolvida pelo seu apoio decisivo e indisfarçado à Frente
Polisario".
O anúncio da realização desta mesa de negociação coincidiu com a
divulgação dos dados fornecidos pelo Alto Comissário para os
Refugiados (ACNUR), que cifram em 173.600 o número de saharauis que
atualmente sobrevivem nos campos localizados em Tindouf (Argélia).
Do total de refugiados, 51% são homens e 49% são mulheres, enquanto
um terço do total tem menos de 17 anos de idade.
O número de pessoas que vivem nos campos é uma questão central *
(Ver nota da AAPSO a este respeito), especialmente tendo em vista a
futura realização de um referendo sobre a autodeterminação do
Sahara, como a Polisario reivindica e apoia a Argélia. Os
independentistas saharauis tendem a aumentar o número de habitantes
enquanto o Marrocos, pelo contrário, minimiza a população que
considera "sequestrada", segundo a terminología oficial de
Rabat. Dado que os dados do HCR apareceram filtrados na imprensa
argelina, muitos meios de comunicação marroquinos consideram-nos
"totalmente falsos".
Desde 1975, após a retirada espanhola, Marrocos controla a maior
parte do Sahara Ocidental, uma área desértica de 266.000
quilómetros quadrados e o único território da África pós-colonial
cujo presente e futuro não foram resolvidos.
* Nota da AAPSO: A Missão das Nações Unidas para o Referendo no
Sahara Ocidental (MINURSO) deu por concluído o recenseamento dos
cidadãos com capacidade de participar na consulta popular em Janeiro
de 2000.
Não obstante os entraves, os subornos e o longo arrastar do processo
de recenseamento que Marrocos promoveu, os técnicos da ONU não
permitiram que os cadernos eleitorais fossem invadidos por uma
multidão de falsos saharauis que o reino marroquino pretendia à
viva força introduzir. Das quase 200.000 solicitações apresentadas
– na sua esmagadora maioria apresentadas por Marrocos com vista a
adulterar o Censo Eleitoral a seu favor, só 86.000 corresponderam a
saharauis com direito a votar, ou seja, 13.000 a mais dos que os
incluídos no último censo espanhol realizado em 1974.
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