quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Crueldade contra Mohamed Tahlil





Fonte e foto: Contramutis / Por Cristina Martínez Benítez de Lugo - No dia 16 de janeiro cumpriram-se 45 dias de isolamento a que foi punido o preso político saharaui Mohamed Tahlil. Está metido num ‘curro’ na prisão de Bouzakarn, em Marrocos, um espaço de dimensões tão pequenas que nem consegue dormir estendido.

Tahlil foi punido por se recusar a usar roupas de prisioneiros comuns quando é um prisioneiro político.
Mohamed Tahlil, saharaui, ativista dos direitos humanos nos territórios ocupados do Sahara Ocidental, foi preso pela polícia judiciária marroquina a 4 de Dezembro de 2010 e submetido aos dois processos-farsa de Gdeim Izik, que lhe valeram uma condenação a 20 anos de prisão. Já fora preso pelas suas ideias políticas em 2005 e em 2007. Em ambos os casos foi condenado a três anos de prisão, mas foi libertado ao cabo de ano e meio de detenção.
Mohamed Tahlil nasceu em 1981 em Guelta Zemour, Sahara Ocidental. É presidente da seção de Bojador da Associação Saharaui de Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos Cometidas pelo Estado Marroquino (ASVDH).
Em 2017, durante o segundo pseudo-julgamento de Gdeim Izik, Tahlil, na sua declaração, acusou o Marrocos de ser um Estado ocupante e ditatorial, de organizar um julgamento de farsa. Deixou claro que ele estava na cadeia, não por causa de Gdeim Izik - onde ele nem sequer tinha estado -, mas por defender a independência do Sahara Ocidental como foi deduzido dos interrogatórios da instrução, durante os quais não lhe perguntaram sobre o acampamento de protesto, mas pela sua viagem à Argélia e pelos líderes da Polisario. Afirmou que era um saharaui, não um marroquino ou um tunisino. Essas declarações não são gratuitas e pagam-se caro. Todos os prisioneiros daquele julgamento enfrentaram o tribunal com igual coragem e estão pagando por isso: uma sentença injusta; torturados, sem cuidados médicos, sem direitos, longe da sua terra e de suas famílias, isolados, sem qualquer garantia, sem se saber nada sobre eles.
Não houve muitas explicações sobre a situação de Tahlil. E não há novidades. Ninguém o pode ver. Ninguém sabe nada sobre ele. Entrou em greve de fome quando foi levado para o ‘curro’ de isolamento. As notícias que temos de outras punições semelhantes são assustadoras: o espaço de um banheiro nauseabundo com insetos.
Causa horror só de pensar como estará. Incomunicável durante 45 dias num sítio como esse é uma sentença de morte lenta e angustiante. A falta de comunicação pode também implicar um ainda maior desprezo por parte dos seus carcereiros em dizer como se encontra: teve ataques de ansiedade, sim está doente – mas dizem que do rim e do estômago devido a greves de fome anteriores - sente frio, humidade e dor e coceira. Esqueceram-se dele no inferno e quando abrem o ‘curro’ arrastam um farrapo de pessoa. O mesmo que tantos outros companheiros. Não o perdoam por um dia. Continua no ‘curro’ e sofre de total isolamento.
16 de janeiro, um dia fatídico para a história: o Parlamento Europeu transgride os princípios nos quais se baseia aceitando a inclusão ilegal do Sahara Ocidental ocupado nos acordos da UE com Marrocos. Dessa forma, poderão continuar a saquear os seus recursos naturais. Vale tudo. E pergunta-mo-nos quem poderá defender esses presos.
Se os representantes do povo votam contra a lei e a favor de interesses económicos ilegítimos, eles já não são mais nossos representantes, são impostores. E esses impostores fazem qualquer coisa para ignorar a injustiça e a crueldade do ocupante. Maus momentos.



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