terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Federica Morgherini responde a IU sobre situação dos presos políticos saharauis



15 de Janeiro de 2019 por porunsaharalibre - PUSL - Federica Morgherini, a Alta Representante da UE para Política Externa e Segurança, respondeu por escrito às perguntas apresentadas pela eurodeputada espanhola, Paloma Lopez, da Izquierda Unida sobre a situação dos presos políticos saharauis do Grupo de Gdeim Izik.

Lopez tinha apresentado nos últimos meses de 2018 duas perguntas sobre a situação de risco em que se encontram os presos políticos saharauis detidos em Tiflet2, Marrocos.

Os 4 membros do grupo Gdeim Izik encontram-se em confinamento prolongado há mais de um ano e têm sido vítimas de maus tratos e negligência médica intencional, realizaram várias greves de fome e o seu caso tem sido amplamente denunciado junto não só da União Europeia como também junto dos mecanismos das Nações Unidas.

As duas perguntas apresentadas referentes a Sidi Abdallah Abbahah, Mohamed Bourial, Mohamed Lamin Haddi e El Bachir Khadda foram:

Pergunta com solicitude de resposta escrita E-005408/2018/rev.1

.“Sabendo que o confinamento em condições desumanas de isolamento é contrário à legalidade internacional (Regra 17 das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos):

1) A Vice-Presidente / Alta Representante pretende continuar a ignorar estas violações dos direitos humanos?

2) Considera a Comissão que pode defender o diálogo comercial com um regime internacionalmente exposto como torturador?”

Pergunta com solicitude de resposta escrita E-005407/2018/rev.1

.“1) A Vice-Presidente / Alta Representante conhece estas práticas com as quais o Reino de Marrocos ataca os direitos humanos mais básicos?

2) O Comité das Nações Unidas contra a Tortura informou casos de tortura e violações do direito internacional. Existem exceções aplicáveis ​​ao Reino de Marrocos para que a União Europeia não condene estas práticas contra prisioneiros saharauis?”

Federica Morgherini respondeu em duas cartas com uma resposta tipo que tem utilizado ao longo destes anos publicadas no final deste artigo. No entanto a segunda resposta enviada a 7 de Janeiro deste ano refere que:

Nos termos do artigo 2.º do Acordo de Associação UE-Marrocos, o respeito pelos princípios democráticos e pelos direitos humanos é um elemento essencial do Acordo. Por conseguinte, a UE manifesta periodicamente as suas preocupações em matéria de direitos humanos, designadamente nas reuniões do subcomité dos direitos humanos e dos princípios democráticos estabelecidos no âmbito do Acordo.

Marrocos está em violação clara com os direitos humanos no que concerne os presos políticos saharauis, mas é apenas “informado das preocupações” sem sofrer qualquer tipo de consequência e ainda a usufruir de somas avultadas “Através do orçamento da UE, a União apoia instituições e organizações da sociedade civil, com o objetivo de reforçar o sistema judicial em Marrocos, em conformidade com a Constituição marroquina de 2011.”

Morgherini continua a dizer que as informações sobre os presos chegam através do CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos de Marrocos) e de uma associação saharaui legalizada e reconhecida por Marrocos. O CNDH é considerado pela Amnistia Internacional um organismo com falta de independência como se pode ler no relatório de 2018 “O facto de o presidente da CNDH e pelo menos nove de seus 27 membros serem nomeados pelo rei de Marrocos é uma ameaça à sua independência e imparcialidade.”[1]

É pois surpreendente que Frederica Morgherini parece ter apenas informações “reactivas” visto a situação dos presos políticos apenas ser mencionada quando existem perguntas escritas ou orais no Parlamento Europeu apresentadas pelos Eurodeputados e que as respostas tardam meses, devido certamente ao facto do “acompanhamento da situação” pelo CNDH e outras fontes consultadas por Morgherini ser claramente deficiente.

ES
E-005408/2018
Resposta do vice-presidente Mogherini
em nome da Comissão Europeia
(22.12.2018)

A UE tem estado muito atenta à situação dos prisioneiros de Gdeim Izik.
O acompanhamento desta situação incluiu a presença da Delegação da UE em Rabat como observadora no processo civil. Além disso, os representantes da Delegação da UE em Rabat reúnem-se periodicamente com o Conselho Nacional dos Direitos Humanos para discutir as condições sanitárias e gerais de detenção dos prisioneiros Gdeim Izik. Foram também realizadas reuniões sobre o assunto com organizações da sociedade civil e, em particular, com a Associação Saharaui de Vítimas de Violações Graves dos Direitos Humanos.


A democracia e os direitos humanos são elementos essenciais da política externa da UE e do seu diálogo com os países parceiros, incluindo Marrocos. A prevenção e erradicação de todas as formas de tortura e maus-tratos em todo o mundo é um dos principais objetivos da política de direitos humanos da UE. No quadro do seu diálogo político regular com as autoridades marroquinas, a UE manifesta sistematicamente a sua preocupação com os alegados casos de maus tratos e com a impunidade. Através do seu orçamento, a UE apoia também as instituições e as organizações da sociedade civil presentes em Marrocos, com vista a reforçar o sistema judicial, em conformidade com as regras ambiciosas estabelecidas na Constituição marroquina de 2011.

A UE recorda o seu apoio aos esforços do Secretário-Geral das Nações Unidas para chegar a uma solução política justa, duradoura e aceitável para ambas as partes, que contemple a autodeterminação do povo do Sahara Ocidental no âmbito de acordos compatíveis com os princípios e objectivos do a Carta das Nações Unidas.

ES
E-005407/2018
Resposta do vice-presidente Mogherini
em nome da Comissão Europeia
(7.1.2019)

A União Europeia está acompanhando de perto a situação dos prisioneiros de “Gdeim Izik”.
A delegação da UE em Rabat esteve presente como observadora no processo civil e os representantes da delegação realizam reuniões regulares com o Conselho Nacional dos Direitos Humanos sobre a saúde e as condições de detenção dos prisioneiros de “Gdeim Izik”. Também se realizaram reuniões com organizações da sociedade civil, principalmente com a Associação Saharaui de Violações Graves dos Direitos Humanos. No caso do Sr. Khadda, os relatórios indicam que ele suspendeu a greve de fome que começou em 18 de setembro de 2018.

A democracia e os direitos humanos são componentes essenciais da política externa da UE. Nos seus contactos regulares com as autoridades marroquinas, a UE manifesta constantemente a sua preocupação com os alegados casos de maus tratos e impunidade. Através do orçamento da UE, a União apoia instituições e organizações da sociedade civil, com o objetivo de reforçar o sistema judicial em Marrocos, em conformidade com a Constituição marroquina de 2011.

A UE deseja recordar o seu apoio aos esforços do Secretário-Geral das Nações Unidas para chegar a uma solução política justa, duradoura e aceitável para ambas as partes, que contemple a autodeterminação do povo do Sahara Ocidental no âmbito de acordos compatíveis com os princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas.

Nos termos do artigo 2.º do Acordo de Associação UE-Marrocos, o respeito pelos princípios democráticos e pelos direitos humanos é um elemento essencial do Acordo. Por conseguinte, a UE manifesta periodicamente as suas preocupações em matéria de direitos humanos, designadamente nas reuniões do subcomité dos direitos humanos e dos princípios democráticos estabelecidos no âmbito do Acordo.
[1] https://www.amnesty.org/download/Documents/MDE2992252018ENGLISH.pdf

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