domingo, 20 de janeiro de 2019

Saidi terá sempre a razão do seu lado








Fonte: naiz: / Texto e foto: Andoni Lubaki - Um polícia veio com uma lata de gasolina. Jogaram um pouco de gasolina para o meu corpo, ateram fogo e depois abafaram a combustão. Voltaram a fazê-lo de novo, não muito. E atearam outra vez. Fizeram-no umas quantas vezes diz-me "Saidi no local que a AFAPREDESA (Associação dos Familiares dos Presos e Desaparecidos Saharauis) tem em Rabouni (nos acampamentos de refugiados no extremo sudoeste da Argélia).

O jovem saharaui foi preso e torturado sem que contra ele tivesse havido qualquer acusação formal por parte da gendarmaria colonial marroquina. Tem o corpo marcado para sempre, mas a dignidade intacta.
Mostra-me documentos e papéis que mostram como ele foi torturado. Amnistia Internacional, MINURSO, etc. Ninguém foi preso pelo que lhe ocorreu, nem houve qualquer investigação.


Uma das coisas que mais me impressiona no meu trabalho é como é que essas pessoas que sofreram o pior que um ser humano pode sofrer continuam a viver. Saidi confessa que ele não tem ódio, mas que um dia Allah irá puni-los, mas ele não odeia. Não é a primeira vez que ouço falar de um torturado ou parente de uma pessoa desaparecida. Há muito pouco ódio neles. Eu odeio mais eu os torturadores, que lhe faço a entrevista, do que eles próprios. Procuro tirar-lhe uma fotografia. Fica cada vez mais difícil dizer a alguém que tem um rosto marcado para posar de uma maneira concreta, para que se possam ver as feridas e as cicatrizes que têm. 
"Não há problema. Fotografe o que tem que fotografar e diga-me como me devo colocar” - diz Saidi . Custa-me dizer-lhe que vire o rosto e olhe para a luz. Mas eu penso (e sei que estou certo) que uma foto bem executada dignifica uma vítima muito mais do que uma mal captada O desonesto da minha parte teria sido tirar uma foto ruim para nunca publicá-la. Tinha que conseguir algo decente para mostrar a sua dignidade, tinha que mostrar ao mundo que Saidi foi torturado e que aqueles que o fizeram não tinham razão nem nunca a terão. Ao contrário, Saidi terá sempre a razão do seu lado.

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