Fonte
e foto: Diario de Navarra / Por Unai Yoldi Hualde y Patxi Cascante
Ahmed
Brahim Ettanji é presidente da Equipe Media e ativista saharaui.
Viajou a Navarra para contar ao Parlamento as violações de direitos
que Marrocos comete no Sahara Ocidental.
PAMPLONA
– Ahmed Brahim Ettanji (El Aaiún, Sáhara Occidental, 1988) é um
desses jornalistas que se formam na rua, daqueles a quem o trabalho
os levou a sofrer detenções e torturas.
O
seu ativismo a favor dos direitos humanos e da autodeterminação do
povo saharaui é exercido desde a presidência da Equipe Media, um
meio de comunicação saharaui que nasceu em 2009 para romper o
bloqueio de informação e mostrar ao mundo as injustiças que
Marrocos comete nos territórios ocupados do Sahara Ocidental. No
final de janeiro, Ahmed e seus companheiros receberam María Pérez
de Larraya, Iratxo Bakedano e Alberto Jolis, três ativistas de
Navarra que pretendiam constatar e denunciar as violações de
direitos cometidas pelas forças de ocupação contra os saharauis,
mas acabaram por ser expulsos pelo exército marroquino. Agora, ele
viajou para Iruña para participar de uma mesa de trabalho no
Parlamento de Navarra.
Como
foram estas semanas após a expulsão de María, Iratxo e Alberto?
Depois
de sua expulsão, vim para o Estado espanhol, então tudo correu
bem. Mas a verdade é que o meu destino e o de meus companheiros é
sempre incerto e obscuro. Nós não sabemos o que nos vai acontecer,
estamos sempre sujeitos à prisão, tortura e até ao assassinato.
No
seu caso, você foi detido por sua atividade, como é o tratamento
das forças marroquinas?
Bem,
eles não lhe colocam o tapete vermelho. A partir do minuto 0 começa
o processo: espancamentos, maus-tratos e uma venda nos olhos para que
não saibas para onde te levam. Às vezes também te despem e te
interrogam, eles podem fazer-te todo tipo de tortura.
Como
é viver nos territórios ocupados do Sahara Ocidental?
É
uma grande prisão. Nós, saharauis, vivemos sempre com a sensação
de que estamos presos. Temos uma liberdade condicional, porque
podemos mover-nos, mas quando eles decidem por-te na cadeia, eles o
fazem.
E
em relação ao dia a dia?
A
marginalização que sofremos é absoluta. Eles tratam-nos
completamente à margem, como cidadãos de terceira classe. Por
exemplo, se ficarmos doentes e formos a um hospital, temos que pagar,
somos maltratados e é certo que podemos contar com alguma
negligência médica. Mas a discriminação afeta todas as áreas.
Sobretudo
a laboral, não?
Sim.
Para os saharauis, o acesso ao trabalho é complicado. Nos grandes
setores, como a pesca ou as minas de fosfato, os saharauis não têm
trabalho, apenas os colonos marroquinos.
Recentemente,
um jovem saharaui incendiou-se para denunciar a repressão que estava
a sofrer, tem que ser uma situação limite, não?
Este
jovem que se imolou pelo fogo é um exemplo da impotência e da raiva
sentidas pelos jovens que vivem sob a opressão e a violência.
Quando um jovem decide se queimar vivo é porque está vivendo um
inferno e, enquanto isso, a comunidade internacional e a União
Europeia olham para o outro lado.
O
que é que a comunidade internacional pode fazer?
Muito fácil, que o Conselho de Segurança da ONU aprove uma
resolução para organizar um referendo no Sahara Ocidental e acabou.
Estava marcado para 1991, mas até agora a MINURSO (a Missão
Internacional das Nações Unidas para o Referendo no Sahara
Ocidental) não o organizou. Mais, não foi realizado porque
Marrocos colocou muitos obstáculos e porque tem o apoio da França e
da Espanha.
E
esses apoios tornam-no forte... Tem esperança que um dia Marrocos
venha a aceitar um referendo?
Sim.
A história tem mostrado ao longo do tempo que os povos acabam por
alcançar a sua liberdade, seja a curto ou a longo prazo. Temos
esperança que vamos vencer e, para isso, defendemos uma luta não
violenta.
O
Sahara tem uma indústria pesqueira, minas de fosfato ... é difícil
para estes países deixarem de ter relações com Marrocos, não?
Depois
do acórdão do Tribunal de Justiça da UE - que decidiu que nenhum
acordo comercial pode incluir o Sahara Ocidental sem o consentimento
dos saharauis -, fundos de investimento e navios decidiram cancelar
as atividades no Sahara. No entanto, agora o acordo de pesca entre a
UE e Marrocos foi renovado, pelo o que a Frente Polisario irá
apresentar um recurso. Vai ser a armadilha em que a Europa vai cair,
porque o Tribunal a obrigará a compensar os saharauis por firmar um
acordo ilegal.
Embora
lutem de maneira não violenta, chegará um ponto em que haverá
saharauis que se cansarão, ou não será...?
Há
jovens saharauis que perderam a confiança na ONU e pediram à Frente
Polisario para regressar à luta armada. Mas defendemos a luta não
violenta, a guerra diplomática e económica e o boicote.
Em
suma, pressionar para que o referendo seja realizado ...
Sim.
A luta não violenta leva tempo, mas resulta. A ONU reuniu a Frente
Polisario e Marrocos em dezembro e em março haverá uma segunda
ronda de diálogo.
E
acha que isso servirá de alguma coisa?
-Quando
há vontade… certamente; e parece que o novo enviado especial da
ONU, Horst Köhler, tem muito vontade em resolver o conflito.
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