- RSF exige que Marrocos permita que a imprensa internacional entre no Sahara Ocidental
- Insta o Governo marroquino a garantir processos judiciais justos para os jornalistas saharauis e o respeito pela sua integridade física e psicológica;
- Exercer o jornalismo na ex-colónia espanhola é um "ato de heroísmo" e os seus protagonistas pagam com detenções arbitrárias, perseguição às suas famílias, tortura, sentenças injustas e prisão
- Repórteres SF pede a Espanha e França para quebrarem o seu habitual "silêncio de cumplicidade" com Marrocos
Fonte e foto: Contramutis/Por Alfonso Lafarga - Repórteres
Sem Fronteiras (RSF) denunciou hoje a perseguição sofrida por
jornalistas saharauis por parte de Marrocos, que manipula com "mão
de ferro" a informação no Sahara Ocidental, pune
"implacavelmente" o exercício do jornalismo local e
bloqueia o acesso dos media estrangeiros.
RSF
exige que Marrocos permita que a imprensa internacional entre no
Sahara Ocidental, com liberdade de movimento através do território,
e ponha fim à expulsão de jornalistas, ao mesmo tempo que exorta o
governo marroquino a garantir processos judiciais justos para o
Jornalistas saharauis presos, e o atendimento das exigências da ONU
em relação à sua libertação.
RSF,
que promove e defende a liberdade de informar e ser informado no
mundo, pede a Marrocos que cumpra a Convenção contra a Tortura das
Nações Unidas e respeite a integridade física e psicológica dos
jornalistas saharauis, pedindo simultaneamente respeito pelos
direitos fundamentais no Sahara Ocidental", incluindo a
liberdade de expressão e informação, que garanta não só o
direito dos jornalistas saharauis a exercer o jornalismo livre, mas o
direito dos cidadãos saharauis a receberem informações plurais e
verdadeiras" .
Estas
denúncias e exigências constam do primeiro relatório mundial sobre
a situação da liberdade de imprensa no Sahara Ocidental, "um
dos lugares mais áridos do mundo para informação e jornalismo",
realizado pela seção espanhola de RSF e de que é autora Edith R.
Cachera, relatora e correspondente da RSF em Espanha. Apresentado
hoje, 11 de junho de 2019, na Associação de Imprensa de Madrid
(APM), o evento contou com a participação da presidente dos
jornalistas de Madrid, Victoria Prego; do presidente da RSF Espanha,
Alfonso Armada; do presidente da Federação das Associações de
Jornalistas da Espanha (FAPE), Nemesio Rodríguez, e do jornalista
saharaui Ahmed Ettanji, fundador e presidente do coletivo Equipe
Média.
O
relatório analisa em detalhe a perseguição sofrida pelos
jornalistas saharauis por parte de Marrocos, que ocupa o 135º lugar
entre os 180 países e territórios analisados pela RSF World Press
Freedom Classification: "Esta posição terrível, que coloca o
reino alauíta entre os países mais inquisitórios para o
jornalismo, deve-se em parte à mão de ferro que se aplica aos
jornalistas de territórios "incómodos", como o Rif -
cujos protestos foram esmagados há dois anos, com graves
consequências para os repórteres locais que cobriam os
acontecimentos - e o Sahara Ocidental ".
O
silêncio cúmplice de Espanha e França
A
RSF também interpela a União Europeia, "e especialmente os
governos da Espanha e da França", para que "quebrem o seu
habitual silêncio cúmplice com o Marrocos e condenem a repressão
dos jornalistas saharauis".
O
relatório, que faz uma visita à história da última colónia
africana, abandonada pela Espanha e ocupada há mais de 43 anos por
Marrocos, expõe os nomes e as circunstâncias dos jornalistas
saharauis condenados à prisão, bem como a mordaça que foi imposta
aos reporteres locais e aos estrangeiros. Cinco jornalistas saharauis
cumprem penas elevadas nas prisões marroquinas, um deles preso por
toda a vida; outro foi libertado a 7 de maio depois de quatro anos de
prisão.
A
RSF ouviu a opinião de vários jornalistas, espanhóis e de origem
saharaui, que denunciam o silêncio da imprensa em Espanha, dando o
exemplo de Portugal que, com uma imprensa muito mais modesta,
demonstrou mais sensibilidade em relação a ex-colónias como
Timor-Leste do que a evidenciada pela imprensa espanhola com o
Sahara, que é quase nula.
Há
também uma crítica à Frente Polisario, o movimento de libertação
saharaui, de que se diz "baseado em slogans de propaganda que
mudaram muito pouco desde a estética dos anos 70", com uma
linguagem nada atraente para alguns meios de comunicação e algumas
redes sociais que exigem histórias que vão para além do mero
slogan político.
Os
jornalistas consultados reclamam a falta de um departamento de
comunicação activo na Delegação Saharaui para a Espanha e de uma
estratégia de comunicação por parte das autoridades saharauis e do
movimento de solidariedade com o Sahara.
Jornalistas
na clandestinidade
A
RSF afirma que, apesar da severa repressão de Marrocos e do silêncio
dos media internacionais, "uma nova geração de repórteres
saharauis corre riscos extraordinários para manter viva a chama do
jornalismo e impedir que o Sahara Ocidental seja enterrado pelas
areias do esquecimento": Eles desafiam o férreo controle
marroquino e organizam-se na clandestinidade para dizer o que o
governo de Rabat não quer que seja conhecido.
Fazem-no
grupos de jornalistas como a Equipe Média ou a Smara News, que
filmam nos telhados e, com uma organização meticulosa, divulgam seu
trabalho na Internet em espanhol, francês, inglês e árabe.
Exercer
jornalismo no Sahara Ocidental é "um ato de heroísmo",
cujos protagonistas pagam com detenções arbitrárias, assédio de
suas famílias, difamação, tortura, prisão e "sentenças tão
pesadas quanto injustas", segundo Repórteres Sem Fronteiras,
que conta que os jornalistas saharauís são acusados de alegados
crimes cada vez mais "criativos" – caso da acusação
contra a jornalista Nazha El Khalidi de exercer a profissão sem um
título oficial - para "torpedear qualquer indício de
continuidade no exercício da sua profissão" e manietá-los
"com parciais e pesados processos judiciais contra eles.
Neste
contexto, os jornalistas saharauis conseguiram o reconhecimento de
numerosas organizações e meios internacionais, que já os utilizam
como principal fonte de informação para o Sahara Ocidental.
Leia
o relatório aqui: https://bit.ly/2Wzwwzf
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