As acusações são graves e deixam muito mal a imagem do português atual SG da ONU. Numa entrevista ao “El Portal Diplomático”, o já veterano jornalista especializado em assuntos das Nações Unidas, Matthew Russel Lee, aborda a pressão exercida pelo 'lobby' marroquino em Nova Iorque para impedir que se aborde a questão do Sahara Ocidental; a cumplicidade de certos círculos dentro das Nações Unidas na facilitação da operatividade dos jornalistas pro-Marrocos e muito mais que Matthew Lee revela em primeira mão
Matthew Russell Lee é jornalista e editor de vários meios de comunicação. Ao longo de sua carreira jornalística, cobriu instituições como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, Wall Street, a Reserva Federal, etc.
El Portal Diplomático: Qual o papel do lobby marroquino em Nova Iorque na intimidação de jornalistas especializados no conflito do Sahara Ocidental?
Bem, eu estava cobrindo as Nações Unidas para a Inner City Press como correspondente residente, relatando em detalhe o acompanhamento do Conselho de Segurança da ONU sobre o Sahara Ocidental, Camarões, Haiti (onde a ONU trouxe cólera), Iémen e outros conflitos quando, durante uma reunião do Conselho, filmei um vídeo com meu telefone, o que supostamente é permitido.
A missão marroquina na ONU apresentou uma queixa à Unidade de Media e Credenciação das Nações Unidas (MALU), liderada pela subsecretária-geral Melissa Fleming e, em última instância, pelo secretário-geral Antonio Guterres, mas em vez da MALU dizer aos marroquinos que não tinham motivo para reclamar, foi enviada uma reclamação formal que nunca me foi permitido ver.
Isso foi usado contra mim para justificar a proibição da Inner City Press e de eu próprio entrarmos na ONU ou nos seus briefings, inclusive por meio do WebEx, uma plataforma onde posso fazer perguntas, por exemplo, ao Fundo Monetário Internacional. A ONU sob o comando de António Guterres é corrupta e contra a imprensa livre.
El Portal Diplomático: Pode explicar o modus operandi do 'lobby' marroquino na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque?
Conforme mencionei , atacam qualquer orgão de informação que questione sobre a situação no Sahara Ocidental de uma forma que não seja pró-marroquina. Também se insinuaram junto do SG da ONU, António Guterres, por exemplo, organizando conferências sobre o Meio Ambiente e usando a Francça, membro permanente do Conselho de Segurança, para pressioná-los (por exemplo, para evitar que a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental - MINURSO - tenha a componente de monitorização de direitos humanos, a Missão da ONU que deveria realizar um referendo no Sahara Ocidental, mas que nunca o fez).
El Portal diplomático: Acha que há cumplicidade das Nações Unidas na permissão da atividade do 'lobby' marroquino?
Com certeza, e pior com António Guterres do que anteriormente. Por exemplo, sob Ban Ki-moon e no final da era Kofi Annan quando cheguei, pude fazer perguntas sobre o Sahara Ocidental no briefing do meio-dia da ONU e sob os auspícios do Conselho de Segurança. Sob Guterres, isso foi bloqueado, mas ele e Melissa Fleming permitiram a numerosos meios de comunicação estatais marroquinos acesso total e espaço de escritório na ONU. Houve até um correspondente pró-Marrocos, membro do conselho da Associação de Correspondentes das Nações Unidas igualmente dominado pela media estatal marroquina, que atuava como funcionário pago pela ONU e como jornalista supostamente independente, fazendo perguntas alegadamente profissionais aos porta-vozes de Guterres: Stephane Dujarric e Farhan Haq. Isso é corrupção total.
El Portal Diplomático: Acha que existe relação entre a ausência de um enviado pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental e a alegada cumplicidade do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres?
Sim. Não há precedentes deixar esse cargo vazio por tanto tempo. Guterres é incompetente e corrupto. Faz favores a potências coloniais, como a França e Marrocos, em questões como o Sahara Ocidental ou os Camarões, e proíbe a imprensa de perguntar sobre isso.
El Portal Diplomático: Qual o papel do embaixador marroquino Omar Hilale no suborno a funcionários das Nações Unidas?
Em Genebra, onde também faço cobertura, houve um caso de um livro indevidamente patrocinado por um funcionário da ONU. Hilale fez com que funcionários da ONU desligassem o microfone sob vigilância do Conselho de Segurança da ONU e pediu que a Inner City Press fosse proibida (estado em que está, sob Guterres, há 923 dias). Guterres não deve obter um segundo mandato, e a Inner City Press e outros orgãos de informação devem ser reintegrados, imediatamente ou o mais tardar no dia em que Guterres sair do cargo.
El Portal Diplomático: Finalmente, gostaríamos de lhe perguntar se tem alguma informação sobre a resposta do Conselho de Segurança à proclamação de Donald Trump sobre o Sahara Ocidental.
Embora seja mais difícil agora para a Inner City Press, já que está proibida, reportar em detalhe sobre o Conselho de Segurança (como fazemos atualmente nos tribunais federais dos EUA). Eu diria que a resposta do Conselho de Segurança foi decepcionante mais uma vez. Guterres não deveria obter um segundo mandato e deveria abandonar o cargo.
Fonte: El Portal Diplomático
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