LE MONDE – 23/09/2021 - Segundo o órgão de comunicação "Mediapart", as análises técnicas revelaram "a presença de marcadores suspeitos" nos telemóveois de Jean-Michel Blanquer, Jacqueline Gourault, Sébastien Lecornu, Emmanuelle Wargon e Julien Denormandie.
O segredo sobre os resultados das análises efetuadas pelo Estado na sequência das revelações do "Projeto Pegasus" está gradualmente a ser levantado. Dezassete parceiros editoriais, incluindo o “Le Monde”, revelaram este Verão que parte do governo francês tinha sido visado em 2019 pelo spyware da Pegasus.
Segundo a Mediapart, que obteve um "documento confidencial" datado de Agosto relativo aos resultados da inspeção técnica realizada no final de Julho aos telefones dos membros do governo, os telefones de cinco ministros contêm "marcadores suspeitos" - sem que seja possível dizer, nesta fase, se foram realmente infetados.
Tratam-se dos telemóveis de:
Jean-Michel Blanquer, Ministro da Educação Nacional;
Jacqueline Gourault, Ministra da Coesão Territorial;
Sébastien Lecornu, Ministro do Ultramar;
Emmanuelle Wargon, Ministra da Habitação;
Julien Denormandie, Ministro da Agricultura.
Os vestígios remontam principalmente a 2019, mas também, em alguns casos, a 2020, explica Mediapart.
A natureza exata destes "marcadores" não está especificada. No âmbito do "Projeto Pegasus", dois tipos de vestígios de Pegasus puderam ser descobertos: sinais que mostram uma infeção bem sucedida do telefone e vestígios de rastreio efetuados antes da infeção propriamente dita.
É este segundo tipo de vestígio que foi encontrado no telefone de François de Rugy, então Ministro da Ecologia. O relatório citado pela Mediapart não parece especificar se os telefones dos cinco ministros continham vestígios de infeção ou de simples rastreio prévio. No entanto, eleva para seis o número de ministros cujos telefones mostram vestígios de Pégasus e que tinham sido, como revelámos este Verão, selecionados no início do Verão de 2019 como alvos potenciais do spyware. No total, quinze membros do governo, incluindo Edouard Philippe, então primeiro-ministro, constavam desta lista.
Mediapart afirma também que um membro da assessoria diplomática do Eliseu, cujo nome não é revelado, está entre aqueles cujos telefones mostram vestígios de Pégasus. Franck Paris, conselheiro de Emmanuel Macron para África, estava entre os alvos potenciais.
O Eliseu não comenta
Questionado pela Mediapart, o Eliseu não quis fazer "qualquer comentário sobre as inspeções em curso, que requerem um trabalho longo e complexo".
A investigação judicial, aberta pelo Ministério Público de Paris na sequência das revelações, já tinha confirmado a infeção de vários telefones, incluindo os de dois jornalistas da Mediapart.
Os elementos recolhidos no decurso da nossa investigação mostraram o envolvimento de Marrocos, um cliente deste sofisticado spyware. Foram encontradas marcas técnicas idênticas, específicas para cada cliente Pegasus, por exemplo, nos telefones dos opositores presos do regime marroquino, apoiantes da causa do Sahara Ocidental e no telefone de François de Rugy (deputado francês; de Setembro de 2018 a Julho de 2019 foi ministro de Estado e ministro da Transição Ecológica e Solidária ). Marrocos sempre negou qualquer responsabilidade neste caso.
Há, porém, uma grande incógnita nesta fase: o telefone de Emmanuel Macron foi comprometido? O número do chefe de Estado está de facto na lista da Pegasus de mais de 50.000 números de alvos designados. A presença nesta lista significa que um cliente Pegasus estava interessado neste número e considerou uma possível infeção.
Segundo as análises efetuadas pelos meios de comunicação social do "Projeto Pegasus" e do nosso parceiro Amnistia Internacional, que são largamente confirmadas pelo documento revelado pela Mediapart, uma proporção significativa dos telefones desta lista mostram vestígios de infecção ou, no mínimo, de rastreio.
Desde as nossas revelações sobre o telemóvel do chefe de Estado, o Eliseu tem recusado responder a quaisquer perguntas sobre o assunto. Apesar das provas técnicas recolhidas pelos serviços franceses, o Grupo NSO, a empresa israelita que concebe e comercializa o Pegasus, afirmou a 23 de Setembro que os ministros franceses "não são e nunca foram alvos da Pegasus".
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