O ex-presidente Rodríguez Zapatero e o seu ex-ministro e amigo Bono - agora "lobistas" - frequentemente se curvam diante de Mohamed VI e sua corte para homenageá-lo. Agora querem promover uma plataforma de apoio a que chamam de "terceira via", que nada mais é do que um ato de propaganda do plano de autonomia marroquino para o Sahara Ocidental.
Já em 2004, quando Zapatero chegou ao Governo, tentou, como disse, “resolver” o conflito do Sahara e foi usado para o pressionar ao propor uma reunião quadripartida, tentando reunir os Governos de França, Espanha, Marrocos e Argélia em Marselha, colocando de fora a Frente Polisário e concebendo uma solução que não contemplasse os direitos do povo saharaui. A Argélia afirmava que não entendia uma reunião em que não estavam presentes os verdadeiros protagonistas do problema. Foi assim que as propostas “inovadoras” de alguns engenheiros da estratégia política mundial que estão no exterior e que elegem o ex-presidente do governo espanhol como executor do trabalho sujo para colori-las onde quer que ele esteja presente.
Nem a "realpolitik" nem os interesses pessoais podem justificar tudo, especialmente quando estas personalidades têm tudo garantido com os impostos do povo espanhol como antigos altos funcionários públicos do Estado.
Os nossos interesses económicos em Marrocos e com o resto do mundo são importantes, mas nunca poderão ser incompatíveis com a assunção da nossa responsabilidade histórica com e pela justa causa do povo saharaui, nem com a defesa dos nossos interesses mais convincentes; e se o permitirmos, estaremos a renunciar à nossa soberania e, por conseguinte, a não cumprir a nossa constituição democrática.
Com a reunião inaugurada hoje, 22 de setembro de 2022 nas Ilhas Canárias, Zapatero, Bono e o também socialista eurodeputado canário, pretendem suplantar e confundir a representatividade do F. Polisario como único e legítimo representante das aspirações do povo saharaui por sua liberdade e independência usando para isso, o chamado MSP "liderado" por outro "ex", mas da Polisario chamado Hash Ahmed.
Permitam-me falar um pouco de história para compreender o guião e os actores de apoio nesta farsa. Muitos recordarão quando a Espanha de Franco foi obrigada pela ONU a assumir a sua responsabilidade como metrópole a organizar um referendo de autodeterminação para descolonizar a sua então colónia, o território do Sahara Ocidental, em conformidade com a resolução 1514 da Assembleia Geral, e em vésperas da visita da Comissão enviada pela Assembleia Geral da ONU para esclarecer no terreno a representatividade do povo saharaui, o regime fez grandes esforços para contrariar a única presença política no terreno da F. Polisario, inventando um partido político a que chamaram "Partido da Unidade Nacional Saharaui" (PUNS) e elegeram um certo Jalihena Rashid para o dirigir.
Bem, a conclusão foi que o relatório da Comissão enviado pela ONU não era outra senão que "a única força política encontrada no terreno com capacidade para representar o povo saharaui é a Frente Polisario". Esta base deu à Polisario a plena legitimidade, reconhecida pela ONU, de ser o único e legítimo representante do povo saharaui.
Hoje, 47 anos após essa manobra, os mesmos interesses estratégicos de poderes que nada têm a ver com o interesse real da Espanha em se posicionar no lugar que a sua história e influência económica na cena internacional lhe permitem ocupar, estão a reescrever o guião de forma semelhante utilizando diferentes atores secundários.
Do lado espanhol, antigos membros do governo de Zapatero, chefiados por ele próprio, emprestam-se a esta farsa, do lado saharaui, um antigo funcionário da Polisario, difundindo o mesmo discurso, conhecido pelo seu retumbante fracasso, da "organização de Jat Achid".
O cenário, os trajes, as despesas de hotel e a estadia nas Ilhas Canárias durante dois dias à custa de algum "patrono desconhecido", que nenhum deles quiz esclarecer (...). Enquanto a influência de Zapatero e dos seus companheiros do lado espanhol está encarregada de convencer Sánchez a facilitar um grupo de vistos para os saharauis vindos de Marrocos ou provenientes das zonas ocupadas, enquanto que centenas de refugiados saharauis veem-lhes negados vistos humanitários para poderem tratar as suas doenças em Espanha.
À conhecida submissão de Zapatero a Mohamed VI juntam-se agora vários dos seus antigos ministros e colegas, uma rendição que não se limita apenas ao território do Sahara Ocidental, mas inclui também partes do território espanhol como Ceuta, Melilla, as Ilhas Canárias e em breve "Al Andalus", de acordo com a lógica histórica de Bono durante a inauguração da referida conferência. Prova desta rendição que alimenta os desejos expansionistas insaciáveis da monarquia marroquina, é a recente conferência numa universidade marroquina dada pela ex-ministra de Zapatero quando entregou Ceuta e Melilla a Marrocos com a aprovação do seu antigo patrão também presente nessa conferência.
O "MSP" não é mais do que uma cópia a papel químico da manobra franquista que engendrou Jalihena Rashid e o seu PUNS e terá sem dúvida o mesmo final trágico. Nada de novo, nada de criativo, nada de original.
Toda a comunidade internacional não reconhece a soberania marroquina sobre o território e ainda está empenhada em procurar uma solução para o problema através da descolonização. Esta é a posição das Nações Unidas, da União Africana e da maioria dos países do mundo.
A representatividade do F. Polisario como único e legítimo representante do povo saharaui nunca esteve em causa e dia após dia é reforçada como demonstram os últimos acórdãos do Supremo Tribunal da União Europeia, baseados precisamente em acórdãos semelhantes das Nações Unidas e outros órgãos jurídicos internacionais.
A maturidade política do povo saharaui e a sua determinação e apego à sua unidade em torno da Frente Polisario são o verdadeiro obstáculo a este tipo de aborto gerado por inseminação artificial entre antigos governantes de Espanha e o regime absolutista da monarquia marroquina.
Pepe Taboada – Presidente honorífico da CEAS
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