sábado, 24 de dezembro de 2022

Corrupção no Parlamento Europeu: Sultana Khaya vítima do "Marrocosgate"

 


ROMA (APS) 22-12-2022 - O "Marrocosgate" continua a revelar os seus segredos dia após dia, desta vez a activista saharaui dos direitos humanos, Sultana Khaya, que teria sido vítima deste vasto escândalo de corrupção no Parlamento Europeu (PE) em que Marrocos está envolvido , depois de ter sido rejeitada pelo PE para o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento.

Na continuidade da saga "Marrocosgate", o jornal italiano "Il fatto quotidiano", - citando investigadores do Ministério Público Federal em Bruxelas - indicou que a ingerência do regime marroquino não se teria limitado a influenciar as decisões do Parlamento Europeu a propósito de Marrocos, mas também estaria relacionada com a "nomeação dos membros das comissões da Eurocâmara que trataram de questões delicadas para o país magrebino", mas também a dos "candidatos ao Prémio Sakharov de Liberdade de Pensamento".

Ao analisar a lista apresentada por vários grupos políticos, continua o órgão de comunicação social italiano, “vemos que em 2021 o Grupo de Esquerda propôs Sultana Khaya, a activista saharaui dos direitos humanos e pela independência do Sahara Ocidental ocupado, para que o seu nome constasse do trio dos finalistas".

Com a cumplicidade de parlamentares europeus a soldo de Marrocos que exerceram pressão no seio do PE, a ativista saharaui foi privada deste prémio, enquanto se encontrava em prisão domiciliária com a irmã e a mãe na cidade ocupada de Bojador.

A este respeito, Sultana Khaya contou, em entrevista a este mesmo jornal, a sua alegria por ter sido nomeada para este prémio estando encerrada em casa, antes de manifestar a sua decepção ao saber da sua derrota, afirmando que "não se surpreendeu de forma alguma".

"Tinha certeca desde o início que haveria pressão do governo marroquino para mudar o resultado desta votação", disse ela.

“Esta candidatura pareceu-me uma grande ajuda. Precisávamos de alguém que literalmente salvasse as nossas vidas. Esta candidatura pareceu-me ser um elo importante com o mundo exterior”, descreveu a ativista.

E prossegue: "Depois da violação de que fui vítima, descobrir que por detrás da minha derrota no prémio Sakharov se esconde talvez a manobra dos emissários do governo marroquino, com a cumplicidade de parlamentares europeus, é como se eu tivesse sofrido um segundo estupro. Se assim fosse, seria uma grave violação dos direitos humanos".

Com este prémio, "a nossa causa teria sido mais conhecida em todo o mundo", porque o principal objetivo do povo saharaui continua a ser a independência, sublinhou.

Questionada sobre este escândalo retumbante dentro do PE, Sultana Khaya ficou encantada por ele ter vindo à tona. "O mundo agora sabe que o Marrocos é forçado a subornar parlamentares para encobrir as suas violações contra nós. Esta é uma vitória para o meu povo", disse ela.

 

Rabat por detrás da nomeação de Eva Kaili e de Andrea Cozzolino

 

Mas isso não é tudo. Rabat teria intervindo também para "a modificação do relatório anual do PE sobre a política externa e de segurança comum" mas também para a nomeação de deputados em determinados cargos-chave da instituição europeia.

Com efeito, o ‘Makhzen’ atuou dentro da Comissão criada para investigar o Pegasus, ao subornar o eurodeputado Andrea Cozzolino, um dos membros da comissão parlamentar encarregada de investigar o uso de spyware sionista [de Israel].

Segundo o jornal - com base em um documento de 29 de julho - os investigadores colocam a hiótese de a eleição de Eva Kaili como vice-presidente do Parlamento Europeu ter sido apoiada pelo corrupto ex-deputado italiano Pier Antonio Panzeri e sua equipa.

Para tal, destaca um excerto deste documento que corrobora esta hipótese, com "uma investigação a uma rede que trabalha em nome de Marrocos, desenvolvendo uma atividade de ingerência nas instituições europeias através da corrupção de indivíduos instalados em cargos-chave no mundo institucional, principalmente dentro do PE", referindo-se a Eva Kaili. "A política do grupo parlamentar S&D (Socialistas e Democratas) seria influenciada por Marrocos". Uma influência que "chegou às decisões do Parlamento Europeu a favor de Marrocos em várias ocasiões".

Os investigadores referem-se a “muitos textos de resoluções votadas”, mas também a “várias declarações da delegação para o Magrebe”, ou seja, aquela liderada por Panzeri durante oito anos, de 2009 a 2017.

Enquanto isso, o Ministério Público de Bruxelas continua as suas investigações. Análises aos PCs encontrados em escritórios de assistentes parlamentares revelam anomalias em relação a algumas nomeações.

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