sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Alemanha exclui o Sahara Ocidental ocupado por Marrocos dos subsídios à Siemens


Pás de turbinas eólicas descarregadas no porto da capital do Sahara Ocidental ocupado

 

Madrid 05-12-2023 (ESC) - Num desenvolvimento significativo, e antecipando a decisão do Tribunal de Justiça Europeu prevista para o próximo ano, o governo federal alemão "excluiu o Sahara Ocidental ocupado por Marrocos de todos os futuros subsídios para as operações da Siemens na região".

Em resposta escrita a uma pergunta parlamentar, o governo federal alemão, através do vice-chanceler e ministro da Economia e do Ambiente, confirmou que "no quadro de futuras negociações e no âmbito da determinação das formas e condições de transparência, a Siemens será excluída da linha de crédito garantida pelo governo federal para projectos no Sahara Ocidental ocupado por Marrocos". O documento (original em alemão).

A multinacional Siemens (Siemens AG), nascida em 1847 e de origem alemã, desenvolve serviços de tecnologia, automação, energia, digitalização e saúde e conta com uma força de trabalho de 379.000 colaboradores em 190 países (dados de 2019). Dentro das suas várias divisões, encontramos a Siemens Gamesa Renewable Energy (Siemens Gamesa), nascida em 2017 da fusão da Gamesa Corporación Tecnológica e da divisão de negócios eólicos da Siemens Wind Power.

Esta nova empresa, com sede em Biscaia (Espanha), representa uma das maiores empresas do sector industrial no Ibex 35 e tem a Iberdrola como acionista principal (8% de participação em 2018). A Siemens Gamesa está especificamente ativa no desenvolvimento, fabrico, instalação e manutenção de turbinas eólicas. Atualmente, as turbinas da empresa já se encontram em países como a Argélia, Egipto, África do Sul, Tunísia, Mauritânia, Quénia, Marrocos e no próprio Sahara Ocidental ocupado.

A Siemens chegou aos territórios ocupados do Sahara Ocidental em 2016, quando Marrocos lançou o Programa Integrado de Energia Eólica. O Gabinete Nacional de Eletricidade marroquino ONEE adjudicou o concurso para a construção e manutenção de 5 parques eólicos (dois localizados no Sahara Ocidental) às empresas Siemens Wind Power (que mais tarde passou a chamar-se Siemens Gamesa Renewal Energy), juntamente com a multinacional italiana Enel Green Power e a Nareva Holding, pertencente à holding SNI (Société Nationale d'Investissement) da família real marroquina.

A empresa, que, desde 2016, tem contribuído para a ocupação militar de um território ocupado, perdeu 1.226 milhões de euros no encerramento do seu terceiro trimestre fiscal (de outubro de 2021 a maio de 2022), o que é mais do triplo dos 368 milhões de euros perdidos no mesmo período do ano passado, informou na altura a empresa à Comissão Nacional do Mercado de Valores Mobiliários (CNMV), segundo o El País.


Na opinião de Oubi Bouchraya, representante da Frente Polisario em Genebra, “com a recusa da Alemanha em financiar qualquer atividade da Siemens no Sahara Ocidental ocupado, Marrocos perde uma importante fonte de financiamento da economia da ocupação e da sua frenética política de colonização demográfica, reforçada pela tentação do investimento estrangeiro”.

“Mais importante ainda, - sublinha aquele dirigente - esta decisão é um golpe doloroso no plano estratégico de Marrocos de branquear a ocupação através do investimento em energia verde e da comercialização de uma falsa imagem de um "Marrocos amigo do ambiente", a fim de gerar uma dependência a longo prazo do mercado europeu para esta energia proveniente da ocupação marroquina do Sahara Ocidental”.

Acrescentando: “Esta posição é uma indicação clara da consciência dos países europeus, e uma abordagem proactiva da principal potência económica da Europa em relação à decisão do Tribunal de Justiça da EU prevista para o verão de 2024, que deve mais uma vez fazer justiça ao povo Saharaui e confirmar a sua soberania sobre os seus recursos naturais”.

 

 


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