segunda-feira, 17 de junho de 2024

Desinformação boomerang

 

Omar Mih, representante da Frente POLISARIO em Portugal, contesta no «Diário de Notícias»«Diário de Notícias» as afirmações de Raul M. Braga Pires, conhecido defensor da política expansionista do Reino de Marrocos.

 

Li o artigo do Sr. Raul M. Braga Pires, intitulado “A ‘transumância Wagner’ do Sahel ao Norte de África!”, publicado no dia 7 de junho de 2024“A ‘transumância Wagner’ do Sahel ao Norte de África!”, publicado no dia 7 de junho de 2024. Neste artigo de opinião, o autor fala descaradamente de uma possível “adesão/colaboração entre POLISARIO e grupo Wagner”. Para justificar as suas afirmações, escreve que “os locais atacados em Adel Bagrou e outras regiões fronteiriças detetaram ‘fardas russas a falarem’ hassania, confirmando [segundo ele] os rumores que corriam de um recrutamento Wagner nos campos saharauis de Tindouf”. Definitivamente, o “politólogo/arabista” apoia-se unicamente em “rumores” sobre “fardas russas a falarem hassania”, que é um dialeto do árabe que se fala na Mauritânia, no Sahara Ocidental, incluindo a parte ocupada por Marrocos, e em parte do Mali.

No entanto, o que o Sr. Braga Pires não nos diz é que a origem destes “rumores” é um artigo publicado no dia 14 de maio de 2024 pelo chamado “Fórum de Apoio aos Autonomistas de Tindouf” (FORSATIN), que é uma entidade criada pelos serviços secretos marroquinos. Que credibilidade se espera de uma entidade cujo único objetivo é a propaganda e a desinformação?

Toda a gente sabe que Marrocos, que ocupa ilegalmente uma parte do Sahara Ocidental desde 1975, utiliza sistematicamente o seu arsenal propagandístico e beneficia de serviços pagos para desacreditar a legítima luta do povo saharaui sob a liderança da Frente POLISARIO. Isso mesmo ficou demonstrado com o maior escândalo de corrupção ocorrido no Parlamento Europeu, conhecido como “Catargate” ou “Marroscosgate”, que continua sob investigação da justiça belga, ao qual se juntou já este ano um outro caso relacionado com a alegada interferência ilegal de autoridades marroquinas junto de políticos belgas.

Durante a “guerra fria” Marrocos dizia que a Frente POLISARIO era um movimento marxista-leninista. Na década de 2000, quando a ameaça era a dos islamitas extremistas, Rabat e as suas redes começaram a difundir a ideia de que a Frente POLISARIO era uma extensão da Al-Qaeda. Hoje, Marrocos e os seus aliados tentam vincular a Frente POLISARIO aos movimentos terroristas que operam no Sahel...

Para refutar estas afirmações infundadas basta assinalar a resposta escrita (E-003923/2022) dada por Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para as Relações Externas e a Política de Segurança, no dia 17 de fevereiro de 2023, em que afirmava que a União Europeia não dispunha de informação sobre uma suposta colaboração entre a Frente POLISARIO e grupos terroristas na região.

A Frente POLISARIO é um movimento de libertação criado há mais de meio século. Os seus objetivos e a sua luta pelo direito à autodeterminação e independência do povo saharaui são conhecidos e não são os serviços secretos marroquinos que a podem redefinir ou reinventar. A Frente POLISARIO é reconhecida pelas Nações Unidas, assim como pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, como o legítimo representante do povo saharaui, e o Estado que proclamou em 1976 - a República Árabe Saharaui Democrática (RASD) - é membro de pleno direito da União Africana e tem representantes diplomáticos acreditados em dezenas de países.

Os conflitos não se resolvem através do lobbying empresarial, do jornalismo propagandístico ou de campanhas de difamação. Resolvem-se, sim, através do respeito pelo Direito Internacional, da implementação das resoluções das Nações Unidas e, neste quadro, da negociação séria e credível entre as partes envolvidas.

 

Representante da Frente POLISARIO em Portugal

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