quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Solução para o problema do Saara Ocidental "colide com os interesses de Marrocos"



Marrocos não pretende avançar nas negociações sobre o Saara Ocidental porque uma solução para o problema "colide com os seus interesses", considerou em declarações à Lusa um alto responsável da Frente Polisário.

"Na qualidade de colonizador, Marrocos não pretende avançar nas negociações porque sabe que os progressos para uma solução colidem com os seus interesses enquanto regime. Assim, fará tudo para impedir que existam progressos nas negociações", referiu Mohammed Khadad, coordenador da Frente Polisário junto da Minurso (Missão das Nações Unidas para a organização de um referendo no Saara Ocidental).

Numa alusão à próxima reunião informal sobre a situação no Saara Ocidental, que vai decorrer entre quinta-feira e sábado em Manhasset (Nova Iorque), de novo mediada pela ONU, o dirigente da Polisário sublinhou contudo que a posição das autoridades marroquinas "não impede que as coisas mexam e que a comunidade internacional também esteja disposta a analisar a situação".

A quarta ronda informal de negociações foi convocada por Christopher Ross, enviado especial do secretário-geral da ONU para o Saara Ocidental, na presença de delegações da Polisário e de Marrocos, para além de representantes da Argélia e Mauritânia, países observadores.

"Neste momento, Marrocos está a ser abalado pela situação no terreno e pela reação da comunidade internacional", assinala.

Ross já admitiu a discussão de "novas abordagens inovadoras para a negociação", enquanto os dirigentes da autoproclamada República Árabe Sarauí Democrática (RASD, anunciada pela Polisário em 1976) continuam a referir disponibilidade para "contribuir para o sucesso dos esforços das Nações Unidas com vista a encontrar uma solução justa e duradoura para o conflito do Saara Ocidental".

Mohammed Khadad garante que os responsáveis da Polisário "continuam a pugnar por uma solução democrática do conflito", mas adverte que "deve ser o povo do território a decidir de forma livre". E adverte que a Minurso deve "garantir a supervisão dos direitos humanos no território.

É uma exigência "mínima" que deverá implicar a realização de um referendo sobre a autodeterminação do território, antiga colónia espanhola e ocupado por Marrocos desde 1975.

Mohammed Khadad denuncia uma situação de tensão no terreno na sequência dos incidentes de novembro em El Aaiun, quando a polícia marroquina desmantelou um acampamento de protesto de civis sarauís.

"A crispação prevalece no território. As pessoas não sabem ainda qual o destino dos seus filhos, não têm possibilidade de visitar os seus filhos que foram presos, não sabem quantos mortos e feridos existem, permanece uma situação de estado de choque", assegura o representante da Polisário junto da Minurso.

"Perante a ocupação, a nossa perspetiva é a continuação da resistência, da luta contra a ocupação marroquina. Uma luta que vai prosseguir até que o povo sarauí possa decidir democraticamente e livremente. É um pouco a lei da natureza, ocupação, luta, resistência...", sublinhou.

(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)
Lusa

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